Jornal Estado de Minas

REPORTAGEM DE CAPA

Poluição visual ou pela luz pode gerar lesão nos olhos, depressão e câncer



São tantos tipos de poluição que, muitas vezes, as pessoas não sabem sequer nomeá-los ou qualificá-los como agentes que degradam o planeta e, assim, colocando em xeque a saúde e o futuro de todos os seres vivos. A poluição visual, por exemplo, não é tão debatida. Às vezes, as pessoas percebem que há algo incomodando - seja o excesso de placas, luzes, outdoors, fios, antenas, cores, formas de letras, texturas de imagens, na rua ou nas telas. Tudo pode afetar a visão, interferir no olhar ou agredir os olhos. 




 
 
 
O oftalmologista Luís Felipe Carneiro, diretor-técnico da Oftalmologia da Santa Casa BH, enfatiza que poluição é todo processo que torna o mundo, o planeta Terra, inseguro ou perigoso aos seres vivos. Ela normalmente ocorre quando um ambiente natural é contaminado por algo artificial que impacta a vida não só das pessoas. “Esses contaminantes podem variar de lixo, gases ou coisas menos tangíveis como a luz, o som e a própria temperatura.”
 
Médico Luíis Felipe Carneiro, oftalmologista e diretor técnico da Oftalmologia da Santa Casa BH (foto: Laio Laio Amaral/divulgação)
 
 
Hoje, existem vários tipos de poluição. “Temos a aérea, das águas, dos solos, sonora, plástica, radioativa, térmica e da luz.  A poluição visual cresceu e, além das diversas propagandas como placas, outdoors e fios elétricos, chegou às nossas mãos por meio das telas, celulares, computadores e tudo o que permeia nosso cotidiano. Muitas vezes, trocamos o nome de poluição visual por poluição pela luz para abranger essas novas tecnologias que andam fazendo tanto mal quando utilizadas inadequadamente”, explica o médico.
 
Leia também: Alerta: qualquer tipo de poluição afeta a saúde do homem 
 
A poluição visual ou poluição pela luz, explica Luís Felipe, se torna um problema de saúde. “Sempre que a luz excede o ambiente seguro para o ser humano, ela se torna uma poluição e, consequentemente, um problema de saúde. Sabemos que o excesso de luz altera a secreção de hormônios como a melatonina (sono), o cortisol (estresse) e o ciclo circadiano. Pode gerar lesão definitiva nos olhos, depressão e até mesmo câncer, devido à alteração do ciclo natural do organismo.” 

Perda visual

O excesso de luz pode causar diversos problemas oculares. “A luz em demasia pode causar lesão direta nas células fotorreceptoras na retina e gerar perda visual definitiva.” Ele cita, inclusive, a atitude intempestiva de olhar para o eclipse sem proteção. “Além disso, alguns tumores oculares, catarata e degeneração macular relacionados à idade são muito mais frequentes em pessoas mais expostas à luz. As telas em geral, quando utilizadas por muitas horas por dia, podem causar fraqueza na musculatura ocular, esforço visual desnecessário, dores de cabeça e nos olhos, e sintomas como astenopia.” 
 
Conforme o especialista, a poluição visual ou da luz pode agravar os cânceres de pele nas pálpebras, conjuntiva e dentro dos olhos. “E ainda piora o olho seco e as inflamações, e doenças da superfície ocular. Usuários de lentes de contato, por exemplo, são muito mais susceptíveis aos efeitos danosos da luz.”




 
Hoje em dia, há vários métodos eficientes para lidar com a poluição da luz. O médico diz que  protetores solares para a pele, chapéus e bonés evitam o contato direto com a luz. Há ainda óculos com lentes fotocromáticas, que escurecem no escuro, protegendo contra os raios UVA e UVB. 
 
“Temos várias lentes de óculos e de contato com filtros azuis, também conhecidos como filtros digitais, que bloqueiam o comprimento de onda azul, o mais nocivo aos olhos. As próprias telas dos celulares podem ser configuradas para diminuir a emissão das luzes nocivas, ajudando e protegendo o usuário.”   
 
Homem de máscara no meio da poluição: será o futuro? (foto: Mystic Art Design/Pixabay )
 
 

Meio ambiente e saúde humana

 
Desmatamentos, devastação de biomas, secas e inundações alternadas, poluição atmosférica, crimes socioambientais, aquecimento global, mudanças climáticas. A lista não para por aqui. Acha que é problema seu? Acredita que tem alguma responsabilidade? Será que pode fazer algo a respeito? Fato é que as mudanças ambientais afetam a saúde humana, prejudicando também a fauna e a flora, tornando-se um grande alerta para o comportamento da sociedade em busca de novos rumos. 
 
Rodrigo Salvetti, professor do curso de biologia do Centro Universitário N. Senhora do Patrocínio (Ceunsp), as mudanças climáticas estão alterando o modo como os eventos meteorológicos atuam sobre a Terra. “O aumento de calor na atmosfera, causado pelo lançamento de poluentes, já está atingindo os equilíbrios climáticos. Isso significa que as chuvas estão mais irregulares, que as ondas de calor e de frio estão mais intensas, e que existe potencial maior para eventos climáticos extremos, como tornados, furacões e chuvas torrenciais. Ou seja, a vida em geral, e não só dos seres humanos, é afetada por essa condição.” 
 
O biólogo alerta que ondas de calor e o ar mais quente e seco podem desencadear problemas cardíacos e respiratórios. A falta de umidade prejudica a lavoura e o gado, causando escassez alimentar, e os eventos climáticos exacerbados podem causar prejuízos materiais e humanos devido às enchentes, ventanias e deslizamentos de terra. 




 
Rodrigo Salvetti, professor do curso de Biologia do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP) (foto: Arquivo Pessoal)
“O próprio material particulado presente no ar tende a aumentar em períodos de seca, promovendo a proliferação de bactérias e vírus, e partículas poluentes causadoras de doenças pulmonares. No frio extremo, abaixo de 10 graus, é possível termos doenças associadas à hipotermia, enquanto em temperaturas muito altas são comuns os casos de insolação, desidratação e até problemas cardíacos.”   

Novas doenças


Rodrigo Salvetti acrescenta que o desenvolvimento da sociedade tem refletido no surgimento e na disseminação de novas doenças. “Esse avanço tem duas consequências principais: o acúmulo de pessoas em um único lugar gera uma demanda maior de recursos naturais, como água, comida e produtos em geral, além de produzir uma quantidade enorme de resíduos que precisam ser descartados. A segunda é que se as áreas urbanas crescem, consequentemente as áreas rurais e de proteção ambiental precisam ser desmatadas e transformadas em espaços urbanos.” 
 
Esses fatores contribuem para uma maior pressão nos ecossistemas da Terra, que precisam fornecer cada vez mais recursos para o ser humano, provenientes de locais cada vez menores. “O desmatamento e o uso de agrotóxicos fazem com que o homem tenha contato com animais, bactérias e vírus que estavam restritos à natureza e que agora estão cada vez mais próximos das áreas urbanas, aumentando a incidência de doenças antes erradicadas ou então desconhecidas”, comenta. 
 
“O aumento da temperatura média da Terra está causando o degelo das áreas polares, o que pode liberar microrganismos presos no gelo há milhares de anos nas águas e solos, cuja interação com o ser humano é desconhecida.” 

IMPACTOS Mudar de caminho, já não é possível, na visão do biólogo. O impacto das mudanças climáticas sobre a sociedade é uma realidade incontornável. “Chegamos, infelizmente, em um ponto sem retorno. O que resta é minimizar ao máximo os prejuízos, reduzindo a emissão de gases estufa e o desmatamento, recuperando áreas impactadas para tentarmos, de alguma forma, reduzir o consumo desenfreado de recursos. Não é fácil, passa por questões políticas, econômicas e, principalmente, culturais. É preciso tornar o modo de vida mais sustentável, descobrir e utilizar novas fontes de energia, substituir as formas de consumo por alternativas menos impactantes. É uma lição de casa para esta e para as próximas gerações”.