A insuficiência cardíaca é uma condição crônica e progressiva que se desenvolve quando o coração não é capaz de desempenhar corretamente o processo de bombeamento de sangue para atender às necessidades do corpo, e pode resultar em fadiga e dificuldade para respirar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 23 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem da doença. Uma pesquisa observacional realizada por cientistas da Universidade de Glasgow, na Escócia, e publicada na revista Circulation, da Associação Americana do Coração, sugeriu que a prática frequente de atividades físicas - moderadas e intensas - pode diminuir o risco da enfermidade.
O estudo, que durou cerca de seis anos, avaliou mais de 94 mil pessoas, com idades entre 37 e 71 anos, cadastradas no Biobank, um banco de dados do Reino Unido. Do total, 57% eram mulheres e 96,6%, brancos. Nenhuma dessas pessoas tinha histórico de insuficiência cardíaca.
Todas foram submetidas a atividades físicas moderadas e intensas. Cada participante usou um acelerômetro de pulso por sete dias consecutivos, durante 24 horas, para medir a intensidade e a duração dos exercícios.
Na análise de desempenho, os que realizaram atividades físicas moderadas, de 150 minutos a 300 minutos semanalmente, tiveram um risco 63% menor de insuficiência cardíaca. Para os participantes que se exercitaram entre 75 minutos e 150 minutos semanais, de forma vigorosa, a chance de desenvolver a doença caiu 66%.
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As reduções de perigo foram ajustadas para idade, sexo, etnia, escolaridade, condições socioeconômicas, tabagismo, consumo de álcool e fatores dietéticos. Após a inscrição, os dados foram coletados por meio de registros hospitalares.
"Essas descobertas indicam que todo movimento físico conta. Uma caminhada de 10 minutos é melhor do que ficar sentado. E, se possível, tente caminhar um pouco mais rápido, o que aumenta a intensidade e os potenciais benefícios do exercício", disse Frederick K. Ho, pós-doutor, professor de saúde pública na Universidade de Glasgow e co-autor principal do estudo. Ele enfatizou que ir além das recomendações de órgãos de saúde pode fornecer uma maior proteção ao coração.
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O pesquisador alertou, de qualquer forma, para que todas as pessoas tenham cautela ao iniciarem novos regimes de atividades físicas. O objetivo é prevenir lesões ou eventos adversos agudos, como ataque cardíaco em uma pessoa sedentária que inicia exercícios de alto impacto repentinamente.
Os especialistas esclarecem que a pesquisa é observacional e não pode determinar uma relação de causa e efeito entre a quantidade e intensidade da atividade física e o risco da doença. Como os participantes do Biobank do Reino Unido são predominantemente brancos, novos estudos são necessários para confirmar se os resultados se aplicam a pessoas de diversas etnias.
"Nossas descobertas se somam ao grande corpo de outras evidências, sugerindo que manter uma quantidade modesta de atividade física regular pode ajudar a prevenir o desenvolvimento de uma série de condições crônicas, incluindo insuficiência cardíaca", enfatizou o professor Naveed Sattar, segundo co-autor sênior do estudo.
Três perguntas para...
Carlos Celis, pesquisador da Escola De Saúde Cardiovascular e Metabólica da Universidade De Glasgow
Qual a importância deste estudo para a saúde das pessoas?
Nosso estudo é o maior realizado até o momento usando acelerômetros de pulso para medir a atividade em mais de 94 mil adultos. Também fornece novas evidências de que ir além das recomendações atuais de atividades moderadas de 150 minutos por dia pode fornecer maior proteção. Descobrimos que a atividade física moderada tem o potencial de aumentar os benefícios do risco cardiovascular, conforme apropriado para todos.
Em termos gerais, a prática de atividade física é importante para a saúde humana. Quais são os principais benefícios para o coração?
Existem muitas maneiras potenciais pelas quais a atividade física regular pode reduzir o risco de desenvolver insuficiência cardíaca. Por exemplo, ajuda a prevenir o ganho de peso e condições cardiometabólicas relacionadas, como pressão alta e diabetes tipo 2, que são fatores de risco para insuficiência cardíaca. O exercício físico regular também pode fortalecer o músculo cardíaco, o que, por sua vez, é capaz de impedir o desenvolvimento de insuficiência cardíaca.
A pesquisa abrange um grupo específico de pessoas. O que é necessário para determinar a relação entre insuficiência cardíaca e atividades de impacto?
Este estudo inclui um grande número de indivíduos recrutados da população britânica. A faixa etária variou entre 37 e 71 anos, sendo 57% mulheres. Portanto, os achados podem ser extrapolados para outras populações com características semelhantes. Embora nosso estudo forneça evidências de uma forte associação inversa entre insuficiência cardíaca e atividade física, são necessárias evidências futuras de ensaios em humanos ou métodos estatísticos avançados, como a randomização mendeliana.