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Estado de Minas PANDEMIA

COVID-19: vacina da UFMG e Fiocruz está pronta para testes em humanos

A SpiN-Tec induziu a resposta imunológica contra o Sars-CoV-2 e as variantes delta e ômicron; ensaio clínico deve começar este ano


31/08/2022 10:05 - atualizado 31/08/2022 16:57

Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG
Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (bh.tec) (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Cem por cento nacional, uma vacina de reforço para COVID-19 está pronta para ser testada em humanos. Idealizada pelo Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (CTVacinas-UFMG) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a substância é inovadora ao ter como alvo uma proteína do vírus diferente da mirada pelos demais imunizantes que combatem o Sars-CoV-2. A produção da vacina é financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Prefeitura de Belo Horizonte e Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig). 

 

Em um artigo publicado na revista Nature Communications, os autores do estudo relataram que a chamada SpiN-Tec induz uma resposta robusta do sistema imunológico contra as variantes delta e ômicron, além da cepa original.


"Estamos com uma expectativa muito positiva, várias pessoas já se manifestaram positivamente para os testes, entusiasmadas por ser uma vacina brasileira", conta Ricardo Gazzinelli, coordenador do CTVacinas e pesquisador da Fiocruz. "No minuto seguinte que a Anvisa aprovar os testes, vamos entrar com uma grande divulgação", diz. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária precisa dar o aval para ensaios realizados com humanos, assim como a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), que já autorizou o experimento. Gazzinelli diz que a documentação já está toda com o órgão, e os experimentos devem começar ainda este ano.

Na primeira fase dos testes, serão 80 voluntários de 20 a 59 anos. Em seguida, entrarão mais 400 pessoas acima de 59. Em todos os casos, os participantes têm de esperar mais de seis meses depois de ter sido vacinado para COVID-19; não importando qual imunizante anterior foi utilizado. No ensaio clínico, porém, os voluntários terão sido vacinados inicialmente com a substância da Astrazeneca. 

Ricardo Gazzinelli, coordenador do CTVacinas e pesquisador da Fiocruz
'Estamos com uma expectativa muito positiva, várias pessoas se manifestaram positivamente para os testes, entusiasmadas por ser uma vacina brasileira', conta Ricardo Gazzinelli, coordenador do CTVacinas e pesquisador da Fiocruz (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )
Gazzinelli explica que desde o início das pesquisas com a SpiN-Tec, o objetivo dos cientistas era chegar a uma vacina de reforço. "Já antecipamos que, quando chegasse a fase dos testes em humanos, grande parte da população estaria vacinada, o que seria uma dificuldade", diz. Além de ser idealizada e produzida no Brasil, a SpiN-Tec tem como diferencial a fusão de duas proteínas do coronavírus, para estimular a resposta imunológica. Além da spike, utilizada pelo Sars-CoV-2, a vacina é composta pelo nucleocapsídeo, a estrutura que abriga o material genético viral.

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Combinação 

A combinação das proteínas deu origem a uma molécula que, no organismo, estimula a produção de linfócitos T, células do sistema de defesa especializadas em reconhecer o Sars-CoV-2 e destruí-lo. Um problema das vacinas atuais são as mutações na spike, que dificultam a detecção do vírus e, consequentemente, reduzem a eficácia das substâncias. Segundo Gazzinelli, o nucleocapsídeo é muito mais estável e, por isso, menos sujeito a variações. No estudo, a SpiN-Tec mostrou a mesma eficácia contra as variantes delta e ômicron que a verificada na cepa original, a Wuhan.
Sozinha, a vacina brasileira não induz a formação de anticorpos. Porém, como dose de reforço, a substância estimula a imunidade celular — resposta das células T e auxiliares — e a humoral, que produz as imunoglobulinas específicas. Assim, a SpiN-Tec acaba atuando em duas frentes.

No artigo publicado na Nature Communications, os autores relatam o resultado dos estudos em camundongos, realizados em um laboratório da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (FMPR-USP) com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os animais foram modificados geneticamente para expressar a proteína ACE2 que, em humanos, é utilizada pela spike do Sars-CoV-2 para entrar nas células e, assim, começar o ciclo de replicação. As cobaias também foram alteradas de forma a mimetizar a covid grave.

Os animais foram divididos em grupos: uma parte recebeu duas doses da SpiN-Tec com intervalo de 21 dias entre elas. Nos demais, os cientistas ministraram placebo. Passado um mês, os camundongos foram expostos por via intranasal a uma alta carga do Sars-CoV-2, tanto na versão original quanto nas variantes beta, delta e ômicron. 

Proteção 

"No grupo que recebeu placebo, 100% dos animais infectados com a cepa de Wuhan ou com a delta morreram", contou à Agência Fapesp Juliana Castro, doutoranda orientada por Gazzinelli que realizou os testes pré-clínicos. "Já os camundongos expostos à ômicron não evoluíram para óbito, mas desenvolveram uma patologia significativa no pulmão. No grupo dos imunizados, todos os animais sobreviveram às três cepas e o tecido pulmonar estava muito mais preservado. Além disso, observamos uma redução na carga viral que variou entre 50 e 100 vezes."
Em um modelo de hamsters que mimetizaram a COVID-19 moderada, a vacina foi testada contra a variante original e a delta, também com sucesso. Os animais imunizados apresentaram uma carga viral 10 vezes inferior, além de menos danos pulmonares, comparados aos do grupo placebo. A substância também foi testada em coelhos e com sangue de convalescentes (pessoas que se recuperaram da covid-19), com a mesma eficácia.

Segundo Natália Salazar, pesquisadora do CTVacinas, a tecnologia utilizada na SpiN-Tec — a combinação da proteína recombinante com um adjuvante, que potencializa a resposta imune — é baseada na modificação genética da bactéria E.coli, que recebeu pedaços do genoma do Sars-CoV-2, produzindo, assim, a spike e o nucleocapsídeo. Ela explica que o método poderá ser utilizado em outras doenças. "Antes da pandemia, já trabalhávamos com essa tecnologia aplicada a doenças como a leishmaniose e chagas. A urgência provocada pelo aparecimento da covid-19 nos ajudou a desenvolver essa solução o mais rapidamente possível", diz. Atualmente, a CTVacinas pesquisa, também, um imunizante para a monkeypox.



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