O livro “Nem covarde, nem herói – Amor e recomeço diante de uma perda por suicídio”, da psicóloga e especialista em suicidologia Luciana Rocha, de 48 anos, tem como objetivo rom- per os estigmas acerca de um tema tão delicado. Além disso, no próximo sábado (10/9) é lembrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
A obra é um relato sensível de como ela lidou com o suicídio do marido. “O leitor vai notar que faço questão de honrar a vida do meu marido. Marden foi um homem e um pai absolutamente carinhoso, generoso e amoroso. Eu honro a vida dele porque ela significou e significa muito mais do que a forma como ele morreu”, declara Luciana.
A autora fez questão de es- crever o livro de forma leve, em que ela conta a história desde o momento em que conheceu o marido até seis anos e meio após a morte dele. Luciana tem um olhar atento e intercala o relato com teorias sobre o suicídio, com o intuito de desmitificar e trazer consciência sobre o assunto.
“É preciso quebrar o tabu que circunda o indivíduo que morre por suicídio ou quem tem ideações suicidas. Assim como alguém que morre por uma doença, como um câncer ou um infarto, o suicídio é consequência de múltiplos fatores, entre eles o adoecimento mental. Nosso cérebro é um órgão como outro qualquer, ele adoece e precisa ser cuidado”, afirma.
De acordo com a psicóloga, há muitos preconceitos e mitos sobre o ato de tirar a própria vida e, na visão da especialista, não existem culpados. Ela conta que tirou forças baseando-se no amor e respeito que sentia pelo marido e, após se especializar em suicidologia e luto, o desejo de compartilhar sua história e seus aprendizados com o mun- do só aumentou.
“Como psicóloga, vejo muita dor entre os enlutados por suicídio, e um grande sofrimento em pessoas com ideações suicidas. A forma como eles lidam e escondem isso tem muito a ver com a falta de abertura e conscientização sobre o tema, o que dificulta a busca por ajuda. Falar sobre suicídio é essencial e é isso que busco com meu livro. Não pode- mos fechar os olhos para algo que acontece a cada 40 segundos no mundo e que pode ser prevenido”, diz Luciana.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 13 mil brasileiros se suicidam a cada ano. Contudo, especialistas acreditam que a taxa é muito maior, pois são muitas pessoas que escondem as ocorrências e as centenas de óbitos que são re- gistrados com outras causas. O número alarmante reforça a necessidade de falar sobre suicídio.
SEM ROSTO Um parente, um amigo, um vizinho. O suicida não tem “rosto”, qualquer pessoa pode estar passando por um adoecimento mental e tentando viver normalmente, até não aguentar mais. A própria autora explica que a morte de Marden foi totalmente inesperada para todos. Conhecido por ser uma pessoa muito animada, cari- nhosa, prestativa e um pai presente, ninguém desconfiava do que se passava por trás das cortinas. “Hoje, depois de 23 anos de formada em psicologia, entendo que ele tinha transtorno bipolar de personalidade.”
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“É preciso lembrar que essa pessoa, na verdade, não quer morrer. Mas ela está sentindo uma dor imensurável e há muito tempo, pensando que encontrará na morte a única forma de se ver livre dessa dor. Essa alteração cognitiva do cérebro deforma a visão sobre a realidade, que, so- mada ao sentimento de desesperança e às mentiras e preconceitos acerca do suicídio, impulsionam o indivíduo a tomar essa atitude drástica”, relata Luciana.
Consumir conteúdo, como o livro “Nem covarde, nem herói”, é uma forma de mudar a visão sobre o suicídio. “Qualquer informação teórica, que seja séria e responsável, vai ajudar a trazer mais consciência sobre o assunto. É preciso entender que adoe- cimento mental não é frescura e, assim como uma pessoa fisicamente doente precisa buscar ajuda, uma pessoa psicologicamente doente também precisa”, afirma a escritora.
* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.
Serviço
Livro: “Nem covarde, nem herói – Amor e recomeço diante
de uma perda por suicídio”
Autora: Luciana Rocha
Editora: Gulliver
Preço: R$ 54,90
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