Pode ser que muita gente não saiba, mas, além de referência na política brasileira, o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira também tinha formação como urologista. JK se especializou nesse ramo da medicina em Paris, onde iniciou o aprendizado na profissão com o renomado professor Maurice Chevassu, no Hospital Cochin. 




 
Ele inclusive foi atuante na área – chegou a chefiar o Serviço de Urologia do Hospital Militar da Força Pública do Estado de Minas Gerais – e, em 2005, recebeu o título de Patrono da Urologia Brasileira. E é justamente a data de nascimento de JK o dia escolhido para homenagear os urologistas – esta segunda-feira, 12 de setembro, o seu aniversário, marca o Dia do Urologista.
 
A data chama a atenção para a importância de conscientizar os homens quanto à necessidade de cuidar melhor da própria saúde. A consulta com um médico especializado deve ser realizada periodicamente. Cabe ao urologista diagnosticar e tratar problemas específicos do sistema geniturinário. É a especialidade médica que trata os distúrbios do sistema genital masculino e do aparelho urinário de ambos os sexos.
 
Entre as doenças que estão no escopo da atuação dos urologistas, tanto para a detecção quanto para tratamento, estão cânceres de próstata, pênis, tumores de bexiga e rins, cálculo renal, infecção urinária, infertilidade, disfunção erétil, incontinência urinária, além de ações para prevenção e enfrentamento de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).




 
No Brasil, uma situação em particular, que ganha ainda mais visibilidade com o dia dedicado ao tema, é a procura ainda restrita por especialistas em urologia, essencialmente para os homens de baixa renda, que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS), e para aqueles que vivem em localidades distantes dos grandes centros urbanos. 

CÂNCER DE PRÓSTATA

A data serve para promover discussões e contribuir para alertar o público masculino sobre problemas de saúde graves que podem surgir ou piorar se não houver o devido acompanhamento – entre as complicações mais severas, o câncer de próstata, por exemplo.

Pesquisas recentes apontam que os homens costumam dar menos atenção à saúde e realizam menos consultas médicas que as mulheres. Seis em cada 10 brasileiros só procuram um médico quando os sintomas estão insuportáveis, de acordo com pesquisa do Instituto Lado a Lado pela Vida, divulgada em novembro de 2021.




 
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), do Ministério da Saúde, citados pela Federação Médica Brasileira, os números de novos casos de câncer de próstata e de mama, no Brasil, são próximos. No entanto, somente a atenção ao câncer de mama ganhou uma dimensão abrangente no país, envolvendo especialistas, meios de comunicação e autoridades da área de saúde, o que favorece os processos de cura.
 
Acompanhamento deve começar na adolescência
 
Sem considerar o câncer de pele, o câncer de próstata é o mais incidente entre homens ocidentais e nos brasileiros, e por isso a relevância de tomar os devidos cuidados. "A doença vem crescendo entre os brasileiros, e por uma série de motivos. É importante começar o acompanhamento com o urologista ainda na adolescência e seguir pela vida. É indicado que o jovem tenha as orientações certas, inclusive para o início da vida sexual", destaca o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, Seção Minas Gerais (SBU-MG), Bernardo Pace, titular da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

TABUS Ele reforça os tabus que ainda cercam os exames urológicos. "Vem melhorando, mas ainda há resistência. A avaliação de rotina deve começar a partir dos 45 anos, com uma consulta anual", recomenda. O médico lembra que o câncer de próstata, se detectado no início, tem grandes chances de cura, ao mesmo tempo em que, se o diagnóstico for tardio, essas chances diminuem drasticamente. 




 
Bernardo Pace atua como urologista no Biocor, Life Center, Vera Cruz, mantém o próprio hospital, PHD Pace Hospital, e também é professor da Faculdade de Ciências Médicas, em Belo Horizonte.
Um aspecto que o atrai na urologia é o fato de ser um campo da medicina muito amplo, que abrange desde a área clínica até a cirúrgica. "Tratamos as doenças do aparelho urinário, tanto em homens quanto em mulheres. Gosto em particular da parte da uro-oncologia, com o tratamento de tumores urológicos, e do que é relacionado à cirurgia robótica", aponta.
 
Membro do Departamento de Disfunção Miccional da Sociedade Brasileira de Urologia e coordenadora do Departamento de Neurologia da SBU Minas Gerais, Julia Duarte de Souza se inspirou no pai, urologista, para ingressar na profissão. Conta que o que fez com que se apaixonasse pela urologia é ser uma área rica, variada e completa, abrangendo pacientes de diferentes perfis, desde crianças até a terceira idade, homens ou mulheres.




 
No âmbito específico em que atua, a disfunção miccional, seja masculina ou feminina, tem reflexo direto na qualidade de vida, ela diz. "A possibilidade de poder melhorar essa qualidade de vida me atrai. Cuidar desse paciente é algo que me encanta na urologia", conta. Julia também aproveita para chamar a atenção para o fato de que a urologia é a especialidade médica com a menor proporção de mulheres na profissão no Brasil. "Mas isso vem mudando ao longo do tempo, e a presença feminina na urologia vem crescendo", pondera.   
 
Palavra de Especialista

Ludsclay Delmondes Cação,  oncologista do Instituto AvantGarde e especialista em medicina metabólica
 
Procurar tratamento evita déficit maior
 
O homem costuma procurar auxílio médico apenas quando já tem algum sinal ou sintoma que o incomoda, ou seja, quando algum problema de saúde está instalado no organismo, e não de forma preventiva, como grande parte das mulheres o fazem por costume. Muitos dos homens pensam que apenas por volta dos 60 ou 70 anos será o tempo de avaliar se está tudo bem com sua saúde, principalmente verificar níveis séricos dos hormônios, com o objetivo de averiguar se estão em níveis reduzidos. No entanto, considerando dados da Sociedade Brasileira de Urologia, até 27% dos homens entre 30 e 35 anos podem apresentar déficit relativo à testosterona. Entre os sintomas mais comuns relacionados à redução de testosterona sérica estão: cansaço excessivo, uma percepção de redução da qualidade de trabalho, fadiga, desempenho da função sexual menor, piora no sono, dificuldade de ganhar e manter massa muscular, redução da capacidade de cognição e raciocínio rápido, entre outros. Mas a testosterona pode não ser a única vilã nesse contexto citado – pode sim ser um hormônio primordial ao funcionamento do metabolismo do homem, mas existem outros hormônios que, quando igualmente deficientes no organismo, podem gerar sintomas semelhantes. Por vezes, são tratados de forma equivocada como deficiência apenas de testosterona, sem, no entanto, apresentar melhora clínica satisfatória ao paciente. Deficiência de cortisol, hormônio da tireoide, hormônio do crescimento (GH), entre outros, são influenciados pelo ciclo circadiano, teoricamente com alterações pelo estresse do dia a dia, e também podem estar em níveis reduzidos, assim como a testosterona. Não procurar tratamento adequado acaba resultando em um déficit muito maior para ser corrigido. 

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