Jornal Estado de Minas

ESTUDO

Pesquisa sugere associação entre vacina contra a gripe e risco menor de AVC


Um estudo observacional realizado pela Universidade de Alcalá, em Madrid, na Espanha, revelou uma associação entre a vacina anual contra a gripe e a redução do risco de acidente vascular cerebral (AVC). Os pesquisadores analisaram um banco de dados de saúde na Espanha e identificaram pessoas com 40 anos ou mais e que tiveram o primeiro derrame em um período de 14 anos.



Cada pessoa que teve um AVC foi comparada a cinco pessoas da mesma idade e sexo. A pesquisa reuniu 14.322 pessoas que tiveram um derrame e 71.610 que não tiveram. Os cientistas observaram que os indivíduos que receberam vacina imunizante contra a gripe tinham risco 12% menor de sofrer um AVC no paralelo àqueles que não haviam sido vacinados.

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Segundo o neurocirurgião Felipe Mendes, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, trata-se de um estudo do tipo caso-controle retrospectivo, ou seja, os autores utilizaram dados de registros ao longo do tempo em um período no passado, e existem algumas limitações.

"Diferentemente de um estudo prospectivo randomizado, que acontece quando alguém quer testar algum medicamento ou outra terapia. Dividem-se em grupos, sendo que um grupo recebe a intervenção e o outro, por exemplo, pode receber um placebo. A partir daí, é feita uma análise comparativa ao longo do tempo, utilizando ferramentas estatísticas para mapear se a diferença entre os grupos ocorreu por conta do medicamento ou se foi fruto do acaso."



O médico cita pesquisas que mostram uma correlação entre quadros gripais e incidência de AVC. No contexto da pandemia, estudos populacionais mostraram que pacientes com COVID-19 apresentaram uma incidência aumentada de alterações neurológicas, como o AVC. "Partindo desse pressuposto, espera-se que utilizar uma ferramenta que reduza a chance de desenvolver a gripe pode também reduzir casos de AVC. A pergunta é: esse efeito seria somente devido à redução do número de casos ou a vacina teria algum fator protetivo a mais?", pondera.

A pesquisa espanhola apontou uma associação entre o uso da vacina e redução do risco de AVC, mas o que não se sabe é se isso é uma mera associação ou realmente uma relação de causa e efeito. "A crítica é que, por se tratar de um estudo observacional, alguns fatores talvez não tenham sido mapeados e, em última análise, tais fatores poderiam ser responsáveis por essa redução na incidência do AVC. Essa é uma grande ressalva que eles colocam na conclusão", continua Felipe Mendes.

O neurocirurgião Felipe Mendes cita pesquisas que mostram uma correlação entre quadros gripais e incidência de AVC (foto: Ana Slika/Divulgação)
Agora que já se sabe que pode haver essa associação, o neurocirurgião acredita ser importante prosseguir com novos estudos, de forma controlada e randomizada, para certificar se tal associação é realmente uma relação de causa e efeito.



"Infelizmente, esses estudos têm um custo maior e demoram mais tempo para a elaboração e execução. Mas, como sabemos, as vacinas são muito seguras e garantem uma alta proteção contra diversas doenças infecciosas. Seria fantástico ter a certeza de que, além de proteger dessas infecções, também atuariam como fator de redução na taxa de AVC."

Dentre os hábitos que reduzem a incidência do AVC, os mais importantes são a prática regular de atividade física, controle de peso e tratamento adequado dos quadros de hipertensão arterial e diabetes.

Em relação aos tratamentos, existem medicamentos que são injetados na fase aguda do AVC, com objetivo de reduzir o trombo ou coágulo que obstrui os vasos cerebrais, minimizando o risco de sequelas e óbito. Também existem terapias com dispositivos que são inseridos nos vasos sanguíneos para realizar a desobstrução mecânica e restabelecer o fluxo sanguíneo para as regiões afetadas do cérebro.