SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma nova pesquisa concluiu que a estimulação cerebral profunda (DBS, na sigla em inglês) reduziu em 47% os sintomas de TOC (transtorno obsessivo compulsivo) em pacientes com quadros severos da doença. Além disso, cerca de 66% dos pacientes que tiveram acesso ao tratamento relataram uma melhoria dos sintomas.
O TOC consiste em dois traços que acometem o paciente: a obsessão e a compulsão. A primeira diz respeito a um pensamento constante que a pessoa tem independentemente de qual conteúdo seja. Por outro lado, a segunda é um ato que o indivíduo faz na tentativa de aliviar sua obsessão.
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Uma das opções de tratamento para casos severos da doença é a DBS, tema analisado pelo novo estudo publicado nesta terça-feira (20) no Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry.
O artigo é uma revisão sistemática, tipo de levantamento que analisa os resultados de pesquisas anteriores com uma metodologia definida. No total, 34 estudos publicados entre 2005 e 2021 compuseram a revisão.
Ao comparar os diferentes resultados, os autores chegaram à conclusão de que pacientes com sintomas severos e sem respostas a outros tratamentos indicados para TOC demonstraram ganhos substanciais -redução de quase metade das manifestações da doença- com a estimulação profunda do cérebro.
Esse procedimento é uma cirurgia invasiva realizada para acoplar eletrodos a partes específicas do cérebro. Por sua vez, esses eletrodos são conectados a um marca-passo que emite estimulações para o cérebro.
Além do TOC, a técnica é adotada para tratamento de outras condições.
"A estimulação profunda é utilizada em neurocirurgia há bastante tempo. Na psiquiatria, ela é mais usada para TOC. Em neurologia, é muito utilizada para Parkinson e outros distúrbios do movimento", afirma Leandro Valiengo, coordenador do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação do IPQ (Instituto de Psiquiatria) da USP.
VANTAGENS E INDICAÇÕES
Os resultados positivos para os pacientes é uma das principais vantagens da DBS, mas o procedimento também é interessante por não deixar sequelas após a cirurgia.
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Valiengo, que não é um dos autores da pesquisa, explica que o TOC está associado a uma disfunção no núcleo da base, uma região mais profunda do cérebro. Por isso, técnicas anteriores miravam essa área do órgão. "Antigamente, fazia-se uma cirurgia para alterar essas estruturas."
A questão é que essa intervenção lesionava o cérebro porque se utilizava uma radiação eletromagnética. Ao optar pela DBS, isso não ocorre.
"O DBS não lesiona nada. Ao colocar o eletrodo na região, ele consegue estimular ou inibir o núcleo da base", diz Valiengo.
A estimulação também conta com a vantagem de ser reversível e ainda de possibilitar a mudança do padrão de estimulações enviadas ao cérebro. Dependendo do quadro do paciente, essas alterações podem ser necessárias.
A técnica, no entanto, não é recomendada para todo paciente com TOC. Na realidade, ela é uma das últimas opções de tratamento.
Normalmente, as primeiras formas de tratar a condição envolvem a adoção de medicamentos, principalmente aqueles que atuam na serotonina, como os antidepressivos. Logo no início, também é orientada a terapia cognitivo-comportamental.
Se o paciente não apresentar resposta satisfatória, outros remédios podem ser prescritos.
Ainda é possível realizar procedimentos de neuromodulação: um exemplo é a estimulação magnética transcraniana que estimula o cérebro, mas não é uma cirurgia invasiva.
É somente depois dessas formas de tratamento e com resultados insatisfatórios que se recomenda um procedimento invasivo, o que é o caso da DBS.