Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

Infecção por COVID-19 aumenta risco de coágulos sanguíneos por um ano


A infecção pelo novo coronavírus aumenta o risco de surgimento de coágulos sanguíneos potencialmente fatais por quase um ano, de acordo com um artigo publicado na revista Circulation. A equipe de cientistas - composta por profissionais das universidades de Bristol, Cambridge, Edimburgo e Swansea, todas no Reino Unido - analisou dados de 48 milhões de adultos não vacinados para chegar à conclusão. O estudo mostra que o risco da complicação vai diminuindo ao longo do tempo, mas é significativo por pelo menos 49 semanas.



Os pesquisadores examinaram registros eletrônicos de toda a população da Inglaterra e do País de Gales, de janeiro a dezembro de 2020. No período, estimam, podem ter ocorrido 10,5 mil casos adicionais de ataques cardíacos, derrames e outras complicações de coágulos sanguíneos, como trombose venosa profunda, devido à pandemia.

O quadro mais crítico se deu logo depois da infecção pelo Sars-CoV-2. Na primeira semana após o diagnóstico da COVID-19, as pessoas tinham um risco 21 vezes maior de serem acometidas por um ataque cardíaco ou um derrame, condições causadas principalmente por coágulos sanguíneos que bloqueiam as artérias. A taxa caiu para 3,9 vezes depois de quatro semanas.

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Também foram investigadas as condições causadas por coágulos sanguíneos nas veias, como trombose venosa profunda e embolia pulmonar. Nesse caso, o risco foi 33 vezes maior na primeira semana após a descoberta da COVID e caiu para oito vezes quatro semanas depois. Ambas as vulnerabilidades se mantiveram ao longo dos meses seguintes. Entre a 26ª e a 49ª semana, foi de 1,3 vez maior para a probabilidade de ocorrência de coágulos nas artérias e 1,8 vez maior, para coágulos nas veias.



Até casos leves

Mesmo com a queda, o quadro chama a atenção, segundo Jonathan Sterne, professor da Universidade de Bristol e um dos líderes do estudo. "Estamos certos de que o risco diminui muito rapidamente, particularmente para ataques cardíacos e derrames, mas a descoberta de que permanece elevado por algum tempo destaca os efeitos a longo prazo da COVID-19 que estamos apenas começando a entender", afirma, em nota.

Também colíder do estudo, Angela Wood, professora da Universidade de Cambridge, destaca outra descoberta do grupo: até em pessoas não hospitalizadas em função da COVID, houve um quadro de maior suscetibilidade para o surgimento de coágulos. "Embora o risco para esses indivíduos permaneça menor, o efeito na saúde pode ser substancial, e as estratégias para prevenir eventos vasculares serão importantes à medida que continuarmos com a pandemia."

As informações analisadas foram coletadas antes da vacinação em massa no Reino Unido e a da disseminação de variantes mais recentes do Sars-CoV-2, como a delta e a ômicron. Agora, a equipe britânica analisa dados colhidos depois de 2020 para entender o efeito da vacinação e o impacto das novas cepas nos quadros de maior vulnerabilidade para o surgimento de coágulos.