O projeto Aspectos científicos do surto de monkeypox vírus (varíola símia) no Brasil, coordenado por Flávio da Fonseca, pesquisador do CTVacinas e professor do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, acaba de ser contemplado com recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Ao todo, serão investidos R$ 2,964 milhões durante 24 meses, quantia que será usada no custeio de bolsas de estudo e aquisição de insumos de pesquisa.
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Esse projeto faz parte de uma iniciativa comum do Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI) com a Rede Vírus. “A Rede Vírus foi fundada pelo MCTI com o intuito de criar uma rede brasileira unindo quase todos os virologistas do país para o enfretamento da COVID-19. Agora, com um novo desafio sanitário internacional, o MCTI, através da Rede Vírus, conseguiu montar uma câmara técnica para acompanhar as ações científicas principalmente do estudo da monkeypox”, explica Flávio da Fonseca, professor da UFMG e coordenador do projeto.
De acordo com o professor, são cinco linhas temáticas principais que vão ser estudadas ao longo do desenvolvimento desse projeto:
- A primeira linha temática é o desenvolvimento de estoques vacinais e avaliação do estado imunológico da população brasileira. “Vamos gerar vacinas brasileiras para caso haja a necessidade de vacinação no futuro”, esclarece o professor.
- A segunda linha temática diz respeito ao desenvolvimento de testes de antígeno viral para a sorologia instrumental e diagnóstica.
- A terceira linha temática é o monitoramento da inserção do vírus em populações de animais silvestres e domésticos no Brasil. “Isso, porque um grande temor nosso é que, diferentemente da varíola humana, a varíola símia tem hospedeiros animais e, portanto, ela pode se estabelecer nessas comunidades de animais, dificultando a eliminação do vírus, pois ela se torna uma zoonose”, afirma Flávio.
- A linha temática quatro é avaliação de aspectos estruturais, virológicos e genômicos do vírus circulante no Brasil. Essa linha é um aspecto bastante científico voltado ao entendimento do ciclo do vírus, como ele se multiplica, os aspectos do genoma do vírus, entre outros.
- A quinta e última linha temática é o estabelecimento de modelos para estudos de patologia e biologia viral. “É muito importante termos um modelo animal que possa ser usado como exemplo de infecção antes de passarmos a fazer algum tipo de tratamento em humanos ou desenvolver uma vacina”, salienta o pesquisador.
Além de Flávio da Fonseca, o projeto Aspectos científicos do surto de monkeypox vírus (varíola símia) no Brasil conta com a participação dos professores Erna Kroon, Giliane Trindade, Jônatas Abrahão e Mauro Teixeira, também do ICB.
Imunizante
O CTVacinas já iniciou os trabalhos de pesquisa para o desenvolvimento de uma vacina contra a monkeypox. O desenvolvimento do imunizante no país será viabilizado com base em dois frascos do vírus Vaccínia Ankara Modificado (MVA) enviados pelos Estados Unidos. A remessa, que chegou ao CTVacinas no início deste mês, foi doada pela National Institutes of Health (NIH), agência de pesquisa médica norte-americana, por meio de acordo de transferência de material clínico firmado com a Rede Vírus MCTI.
Câmara POX-MCTI
Os pesquisadores da UFMG que lideram o projeto Aspectos científicos do surto de Monkeypox vírus (varíola símia) no Brasil integram a Câmara POX-MCTI, grupo de trabalho de caráter consultivo formado em maio deste ano para auxiliar o Ministério no enfrentamento do vírus. Entre as ações já efetuadas pelo grupo destacam-se o sequenciamento genômico e o depósito em banco internacional da primeira sequência nucleotídica completa de um vírus da varíola símia obtida de um paciente no Brasil.
Em parceria com a Rede Vírus do MCTI, os integrantes da Câmara POX-MCTI já efetuaram o isolamento e o cultivo em células do vírus. O vírus inativado também foi disponibilizado para uso em controle diagnóstico positivo da doença. Mais recentemente, os virologistas do grupo geraram a primeira imagem de microscopia eletrônica de monkeypox vírus no Brasil. As imagens foram obtidas no Centro de Microscopia da UFMG.