Jornal Estado de Minas

Cotidiano

Nem metade das crianças de 5 a 11 anos tem vacinação completa contra COVID


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A vacinação de 5 a 11 anos contra COVID começou em janeiro deste ano no Brasil, mas, até agora, menos da metade das 20,5 milhões de crianças estimadas neste grupo etário tem registro de imunização com duas doses -o que prejudica a proteção contra a doença.





De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde, 6 em cada 10 crianças de 5 a 11 anos do país tomaram a primeira dose contra a COVID até julho deste ano (63% do total). Só que apenas 4 em cada 10 crianças dessa idade têm também registro da segunda dose da vacina (43%). Isso significa que menos da metade da população infantil completou o esquema vacinal contra a doença.

A imunização infantil contra a doença começou no país com a Pfizer, aplicada em crianças de 5 a 11 anos a partir de 14 de janeiro deste ano. Depois, foi a vez da Coronavac, que passou a ser ministrada no grupo de 6 a 17 anos a partir do dia 20 do mesmo mês.

 

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A reportagem tabulou informações do DataSUS para verificar quantas crianças de 5 a 11 anos tinham registro de primeira dose no primeiro semestre da campanha vacinal e, de segunda dose, dentro no intervalo estipulado de 28 dias entre doses para a Coronavac e de oito semanas para a Pfizer pediátrica.





 

 


Os dados mostram que o ritmo da vacinação neste grupo etário anda devagar -e se estagnou em julho. Nessa época, o país atingiu a marca de 40% de crianças completamente imunizadas contra COVID. Só que a taxa subiu pouco desde então e segue abaixo de 45%.


O cenário tem preocupado especialistas, que notam, na chamada "população hesitante", uma resistência maior na vacinação infantil em relação à imunização de adultos. Na prática, é como se um grupo de pais ou responsáveis até assumissem o "risco" (entre grandes aspas) de se vacinar, mas não fazem o mesmo para os seus filhos.


As motivações para isso, analisa Dayane Machado, pesquisadora da Unicamp, estão entre os tipos de desinformação mais comuns quando o assunto é vacinação. Caso de medo de efeitos colaterais graves ou desconhecidos e de percepção de baixo risco de adoecimento em crianças -apesar de as pesquisas mostrarem o contrário. Machado tem investigado a vacinação em um contexto de negacionismo científico.





O problema é que a baixa adesão da vacinação infantil contra COVID pode afetar também os menorzinhos, as crianças de 3 e 4 anos, que acabam de ter a imunização retomada no país depois de um gargalo na disponibilidade das vacinas. A Coronavac foi aprovada para esse grupo pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e recomendada pelo Ministério da Saúde em julho. Mais recentemente, a Pfizer foi aprovada pela Anvisa, no último dia 16 de setembro, para a população de 6 meses a 4 anos (com três doses no esquema vacinal primário).


Os dados tabulados mostram, ainda, que o Norte do país tem as piores taxas de imunização contra COVID na faixa etária de 5 a 11 anos. Todos os estados dessa região registram menos de 30% da população infantil completamente imunizada. Em Roraima e Rondônia, as taxas estão abaixo de 20%.

 

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Indo além: dos pequenos de 5 a 11 anos que tomaram a vacina no primeiro semestre da campanha infantil, cerca de um terço (32%) está com a segunda dose atrasada -o que também prejudica a proteção contra a doença. Em números: 13 milhões de crianças iniciaram a vacinação, mas só cerca de 9 milhões completaram o esquema de vacinação no prazo adequado entre doses.


Até o fechamento deste texto, o Ministério da Saúde não havia respondido ao questionamento sobre a baixa adesão da população infantil à vacinação contra COVID, de acordo com dados oficiais da própria pasta.


Em reportagens recentes sobre imunização infantil, no entanto, a pasta tem dito que "articulou ações de incentivo à vacinação, incluindo a veiculação de campanha publicitária na TV, rádio, mídia exterior e internet." E afirmou que "o incentivo à vacinação infantil também é de responsabilidade de estados e municípios."






De acordo com Machado, da Unicamp, acolher as dúvidas da população é sempre uma boa estratégia para o engajamento com a imunização, "independentemente de as fontes de informação serem a imprensa, profissionais da saúde, órgãos oficiais etc."

 

A reportagem extraiu as informações de vacinação das crianças de 5 a 11 anos do Datasus no último dia 20. Foram analisados os registros de primeira dose até 14 de julho. Para verificar atrasos entre doses, considerando os intervalos vacinais de cada fabricante, foram analisados os registros de aplicação de segunda dose até 11 de agosto para Coronavac e até 12 de setembro para Pfizer.

 

O rastreamento dos vacinados contra COVID-19 nos dados do Datasus é possível porque cada pessoa imunizada é registrada no sistema com um código individual, ao qual estão ligadas informações como idade e dose da vacina recebida. A reportagem considerou, ainda, a estimativa populacional do IBGE para a faixa etária em 2022, que define as metas das campanhas de vacinação.