Jornal Estado de Minas

NEUROLOGIA

Pesquisa: tipo sanguíneo e AVC estão relacionados?

De acordo com uma nova meta-análise liderada por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, o tipo sanguíneo de uma pessoa pode estar ligado ao risco de derrame precoce. Os resultados foram publicados na revista Neurology e incluem os dados disponíveis de 48 estudos genéticos com foco em acidentes vasculares cerebrais isquêmicos em adultos com menos de 60 anos.





 

O estudo descobriu que as pessoas com AVC precoce eram mais propensas a ter o tipo sanguíneo A. Já aquelas com o tipo O, o mais comum, pareciam mais protegidas. Tanto o derrame cerebral antes dos 60 anos quanto o tardio eram mais prováveis de ocorrer em indivíduos com sangue B, em comparação com os controles. Após o ajuste para sexo e outros fatores, os pesquisadores descobriram que aqueles com tipo A tinham um risco 16% maior de sofrer um acidente vascular cerebral precoce do que os demais.

 

Segundo o neurocirurgião, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Felipe Mendes, a ideia dessa pesquisa é complementar os estudos anteriores, identificando variações genéticas comuns para o risco de AVC isquêmico precoce, ou seja, antes dos 60 anos. 

Felipe Mendes é neurocirurgião, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (foto: Ana Slika/Divulgação)
“Ela sugere que variantes de genes ligadas aos tipos sanguíneos A e O representam quase todos aqueles geneticamente ligados ao AVC precoce. As pessoas que possuem essas variantes genéticas podem ter mais risco de desenvolver coágulos sanguíneos, que podem levar ao AVC e a outros quadros de trombose." 

 

Entretanto, Felipe afirma que a pesquisa é apenas um “pontapé inicial”, ou seja, ainda é necessário realizar outros estudos e análises para achar uma forte associação entre o acidente vascular cerebral e o tipo de sangue, e não causar uma comoção negativa em pessoas que têm tal tipo sanguíneo.  





 

“Nessa análise, os cientistas perceberam que o sangue tipo A tinha uma chance 16% maior de derrame precoce. Porém, o estudo fala sobre associação de genoma e risco aumentado do AVC precoce. A ideia desse tipo de pesquisa associado à genética é combiná-la também com outros fatores, inclusive mutações, fatores de riscos modificáveis, fatores ambientais para, em cima disso, tirar conclusões mais assertivas. Ou seja, seria necessário que esses estudos de genética viessem associados a outros fatores também”, destaca Felipe. 

 

Por isso, para o especialista, é importante associar esta pesquisa a outros estudos ou dar continuidade a ela, analisando também outros fatores como o ambiental e de riscos modificáveis: “eles também podem ser determinantes para a doença antes dos 60 anos, como sobrepeso, sedentarismo, apneia, consumo de cigarro, álcool em excesso, doenças cardíacas, desordens metabólicas, colesterol alto, hipertensão, níveis de estresse, alimentação desequilibrada, entre outros”.

 

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.