O estudo sobre doenças nos olhos tem sido o foco da maioria dos oftalmologistas, que visam obter resultados positivos no atendimento aos pacientes. Como a visão se forma a partir da interpretação dos estímulos luminosos, captados e enviados por meio do nervo óptico para diversas partes do cérebro, se torna cada vez mais importante conhecer a fundo a parte neurológica da visão: a neurovisão.
Uma estimativa do Instituto Irlen mostra que 15% da população mundial deve apresentar problemas na interpretação dos estímulos luminosos. Entre portadores de dislexia e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), essa porcentagem pode chegar a 50%, decorrente de alterações na integração dos estímulos neurossensoriais luminosos e dos sistemas corticais e subcorticais envolvidos na visão.
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“A visão é uma habilidade cerebral abrangente, pois provê, aproximadamente, 70% de todos os inputs sensoriais para o cérebro, onde 32 áreas corticais relacionadas à visão processam informações relacionadas ao contraste, cor, movimento, direcionamento, texturas, tridimensionalidade, contextualização e memorização, entre outros aspectos”, explica.
DISTÚRBIO Para se ter uma ideia, segundo Márcia Guimarães, a síndrome de Irlen (SI) é um exemplo de distúrbio da neurovisão. A SI é uma alteração causada pelo desequilíbrio da adaptação à luz que produz alterações no córtex visual, provocando vários problemas, como déficit na leitura.
A síndrome tem caráter familiar, com um ou ambos os pais também portadores, em graus e intensidades variáveis. As manifestações são mais evidentes nos períodos de maior demanda de atenção visual, como nas atividades acadêmicas e profissionais, envolvendo leitura por tempo prolongado, em material impresso ou no computador.
As dificuldades com a percepção de profundidade, habilidade que possibilita a correta avaliação tridimensional, também impactam diretamente atividades como ler, dirigir, estacionar, prática de esportes com bola, de movimento em geral, descer e subir escadas, atravessar portas, passarelas, usar escadas rolantes, entre muitas outras situações cotidianas.
Muitas dessas alterações produzem sensação de desfocamento e de movimentação das letras, que pulsam, tremem, vibram, aglomeram-se ou desaparecem, impactando na atenção e compreensão do texto.
A especialista explica que, geralmente, bons leitores ampliam progressivamente o campo de visão, passando a reconhecer as palavras familiares pelo conjunto ou lexicalmente, de forma a registrar pistas visuais necessárias para uma interpretação rápida e correta do significado do texto naquele ponto.
FADIGA As dificuldades em sustentar a atenção, pelo fato de o texto impresso ficar menos nítido ou desfocado, após um intervalo variável em leitura, produzem estresse visual ou fadiga ocular. “O número de brasileiros com esses distúrbios e disfunções é elevado, sendo fundamental identificá-los, principalmente, nas escolas”, comenta.
O desconhecimento ainda é grande entre médicos e educadores e, por isso, há 16 anos, a Fundação do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães investe no curso Neurovisão – Estudo do processamento visual para a formação de screeners, profissional da saúde ou educação que tenha interesse em entender como identificar problemas neurovisuais em pessoas com dificuldade de aprendizagem no ambiente escolar.
O Brasil tem hoje cerca de 2 mil screeners nas mais diversas regiões. A psicopedagoga e professora Ângela Mathylde Soares é um desses screeners e confirma a importância dessa qualificação. “As complicações no processo de aprendizado podem ser decorrentes de diversos motivos, inclusive oculares, situação para a qual os educadores não são preparados. É essencial aprender o que for necessário para contribuir com uma melhor aprendizagem e inclusão do aluno ”, observa.