Latas de alimento

No Brasil, alimentos ultraprocessados mais consumidos pelas crianças são ainda mais ricos em açúcares e aditivos e pobres em fibras

Pexels/Divulgação
Entraram em vigor, neste domingo (9/10) as novas regras para rotulagem nutricional dos alimentos. No novo padrão, informações sobre o alto teor de açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio vão passar para a parte frontal dos produtos, facilitando a leitura. Além disso, a Tabela de Informação Nutricional terá informações referentes aos açúcares totais e adicionados, valor energético e de nutrientes por 100g ou 100 ml, para ajudar na comparação de produtos.
 
A medida, segundo a presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Maria Edna de Melo, é uma grande conquista, pois ajudará o consumidor a entender de forma mais didática o que tem dentro daquela embalagem. “Em um estudo comparativo sobre a qualidade dos alimentos ultraprocessados (AUPs) comercializados no Brasil e em outros cinco países foi constado que, por aqui, estes alimentos são ainda mais ricos em açúcares e aditivos e pobre em fibras. Essas informações muitas vezes não estavam tão claras e visíveis”, alerta a endocrinologista.
 
“Alimentos integrais são os que estão intactos e passaram por pouco ou nenhum processamento. Neles está mantida a maior parte dos nutrientes, como vitaminas, minerais, fibras. Já os alimentos ultraprocessados são os que sofreram uma extensa transformação e muitas vezes contêm apenas extratos do alimento”, explica Maria Edna de Melo.
 
 
O levantamento citado foi realizado pelo Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica, da Faculdade de Medicina da USP e selecionou os alimentos ultraprocessados mais consumidos por pacientes com obesidade infantil. Dentre os escolhidos estavam achocolatados, sucos em pó, chocolates, refrigerantes e pão de forma, todos produzidos pelo mesmo fabricante e disponibilizados nos seis países da pesquisa: Brasil, Espanha, EUA, Chile, França e México. 
 
O estudo constatou que 33% dos AUPs vendidos no Brasil apresentam entre 16 e 20 ingredientes em sua composição, sendo que a maionese bateu o recorde com mais de 21 itens presentes. Além disso, os produtos brasileiros apresentaram em excesso 50% das variáveis analisadas, que foram açúcares livres, gorduras totais, gordura saturada, gordura trans, sódio, fibras, edulcorantes, aditivos alimentares e número de itens na lista de ingredientes. O mesmo percentual foi visto na Espanha e nos EUA.
 
“Sempre existiu a ideia de que a quantidade de açúcares era maior aqui do que na Europa, especialmente nos iogurtes, e foi a partir daí que começamos essa pesquisa”, afirma Maria Edna, que foi uma das responsáveis pelo trabalho.
 
Ainda de acordo com o levantamento, com exceção do México, todos os países, apresentaram valores acima da recomendação (83%) de açúcares livres para 5 dos 6 alimentos estudados. Já a maionese e o chocolate apresentaram excesso de gorduras totais e saturadas em todos os países, e excesso de gordura trans no México. No Brasil e na Espanha foi observado excesso de sódio na maionese e nos sucos em pó.
 
Outro dado preocupante é que nenhum dos produtos analisados na pesquisa atingiu a recomendação de fibras no Brasil e no México, mas apresentaram edulcorantes e mais de 11 aditivos em sua composição.