SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Desde criança, a auxiliar administrativa Ingrid Vitória Schlegel, de 21 anos, teve que aprender a lidar com os olhares curiosos e até mesmo preconceituosos das pessoas. A mancha de cor avermelhada que encobria grande parte do lado esquerdo do seu rosto sempre chamou a atenção.
Situação que piorou durante a adolescência, período em que, segundo a jovem, ela se recusava a sair de casa e não gostava de ir para a escola devido aos apelidos que recebia dos demais alunos.
"Sofri muito. A mancha me trouxe muita insegurança, porque não estou no padrão que a sociedade impõe, eu achava que não ia arrumar um emprego, um namorado e que não teria uma vida normal", recorda.
Moradora de Elias Fausto, interior de São Paulo, a jovem nasceu com malformação capilar no rosto, também conhecida como vinho do Porto. A condição é um sintoma da formação anormal dos vasos sanguíneos, mas não causa problemas de saúde.
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"Fiz tratamento a minha vida inteira praticamente e a aparência da mancha não melhorou, então comecei a trabalhar o meu psicológico para me aceitar como era e não me importar com a opinião das pessoas", recorda.
Porém, no início desse ano, após pesquisas na internet, Ingrid descobriu ser possível remover a marca de seu rosto por meio do transplante de pele e decidiu que era o momento de começar uma nova fase. "Vi que era a chance de me amar mais", lembra.
Sem condições de arcar com os custos da cirurgia plástica, Ingrid entrou em contato com o cirurgião plástico Dov Charles Goldenberg através das redes sociais e, após contar sua história, ganhou o procedimento estético.
"Conheci esse médico de São Paulo através das redes sociais e após uma consulta ele disse que era possível minimizar a minha marca com o transplante. Dois meses depois, já estava entrando no hospital para fazer o procedimento", conta Ingrid.
Para o procedimento, considerado uma cirurgia plástica, foram retiradas pele do abdômen e da parte de trás da orelha de Ingrid e enxertadas no rosto da jovem. Para a cicatrização completa da área transplantada será necessário um ano.
"Já estou muito feliz e me sinto muito realizada. O resultado ficou melhor do que imaginava", diz a jovem.
Como é feita a cirurgia?
O primeiro passo para a cirurgia, segundo o cirurgião plástico e professor do HC (Hospital das Clínicas) Dov Charles Goldenberg, é o diagnóstico correto da malformação.
Goldenberg explica que o procedimento é considerado de baixa complexidade e em duas semanas o paciente já pode voltar às atividades do dia a dia. Ainda segundo o cirurgião plástico, não há contraindicação para esse tipo de cirurgia.
"Para a cirurgia, a gente remove a parte da pele onde há a malformação e faz o enxerto. Foram retiradas pele do abdome e da área atrás da orelha da paciente por serem locais onde a pele tem características semelhantes à do rosto. Além disso, buscamos áreas que não fiquem tão aparentes para não expor a cicatriz", explica o profissional.
Após o enxerto é necessário que o paciente fique com um curativo no local por uma semana. A partir de 15 dias, ele pode voltar às suas atividades, mas são necessários alguns cuidados como não se expor ao sol e não fazer atividades físicas intensas.
"Existem casos em que o organismo do paciente rejeita o enxerto, mesmo sendo com pele do próprio paciente, mas são mínimos esses casos. No geral, é um procedimento tranquilo em que o paciente deve ter alguns cuidados básicos nos primeiros dias e depois leva uma vida normal", diz o especialista.
O que é malformação capilar?
A malformação capilar ou mancha vinho do Porto é uma marca de nascença causada por uma anomalia vascular de capilares —os vasos sanguíneos se desenvolvem na camada mais superficial da pele dando um aspecto rugoso à área.
Essa malformação ou marca permanece no paciente por toda a vida e acompanha o crescimento do organismo. Sua formação é mais comum no rosto, pescoço ou tronco.
Para o tratamento, é indicado o laser, que ajuda a destruir os vasos capilares sem causar danos à pele, ou a cirurgia plástica, que remove a malformação e faz enxerto de uma nova pele no local.