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Estado de Minas BATALHA PELA VIDA

Saúde renal infantil merece atenção desde a gestação

Conheça a luta de Guilherme Nascimento de Arruda, de 10 anos, que nasceu com má formação no aparelho urinário


13/10/2022 10:25

Rim
(foto: Robina Weermeijer/Unsplash)

Guilherme Nascimento de Arruda, hoje com 10 anos, nasceu com uma deformidade no trato urinário, na válvula de uretra posterior, que provoca um fechamento da uretra e a urina voltava para o rim. A doença foi diagnosticada ainda durante as consultas do pré-natal da mãe, o que garantiu uma intervenção precoce.

No Brasil, a cada milhão de habitantes, 20 são crianças portadoras de doença renal. Um número considerado alto, já que na infância a mortalidade desse grupo é 30 vezes maior do que em crianças saudáveis. A vida da criança com alguma doença crônica é de desafios. Para isso, a parceria da família com as equipes médicas é fundamental. Na semana que marca o Dia das Crianças, é tempo de enaltecer essa rede de pessoas que atuam para dar alegria a crianças como Guilherme.

"Quando ele nasceu, ficou na UTI por 30 dias no hospital da Unicamp. Lá ele fez uma cirurgia de desobstrução no rim e tomava uns doze tipos de medicamentos diferentes, porque durante meses ele ficou em tratamento conservador", explica a mãe, Grasiella Nascimento de Arruda. Guilherme passava mais tempo no hospital do que em casa. A diálise foi o tratamento indicado, mas ainda assim o transplante era o que lhe garantiria mais qualidade de vida. A boa notícia foi quando testes indicaram que o rim da sua mãe era compatível.

"Nada foi fácil. Na primeira data agendada para o transplante, o Gui teve uma pneumonia. Na segunda, eu tive dengue. Na terceira, ele estava com uma feridinha na barriga que podia infeccionar. Até que o sonhado dia chegou. Ele fez o transplante e meses depois começou a andar pela primeira vez. A insuficiência renal crônica deixou os ossinhos frágeis. Então foi muito bom. Depois de tudo que a gente já tinha passado, era uma benção. E foi indo bem até um ano e seis meses de transplante, quando uma biópsia apontou rejeição ao meu rim doado. Ele ficou por mais quatro anos com esse rim, fazendo tratamentos, passando por algumas infecções, pneumonia, ficou na UTI. Qualquer resfriado já virava pneumonia. E até que ele teve um vírus, ficou internado mais uma vez, e ali ele perdeu boa parte da função do rim. Então, teve que voltar para a diálise. Agora, novamente, desde setembro de 2020, ele está na lista de espera para um doador. Moramos no interior e vamos para São Paulo dialisar seis vezes por semana. Hoje em dia, uso transporte da prefeitura e saio às 6h30 da manhã. Chego em casa no fim do dia. Mas não desanimo nunca. Tenho fé de que ele vai conseguir esse rim compatível. Até esse dia, a diálise é o que salva sua vida", conta Grasiella, relatando a saga.

"O amor é tão grande que estão sempre com o sorriso no rosto, mesmo com tantas lágrimas no coração. De nossa parte, fazemos de tudo pra garantir que os momentos deles aqui na clínica sejam acolhedores e felizes", diz a psicóloga Donata Hamad, da clínica Samarim, da Fresenius Medical Care, onde Guilherme faz suas sessões de diálise.

Guilherme Nascimento de Arruda
Guilherme fez transplante com rim doado pela mãe e hoje aguarda novamente na fila por outro rim compatível (foto: Arquivo Pessoal)
Muitas das doenças renais que atingem as crianças são provocadas por más formações congênitas que podem até mesmo ser detectadas enquanto o feto se desenvolve no útero materno. Além disso, infecção urinária de repetição, doenças renais hereditárias, como rins policísticos, nefrites (doenças inflamatórias nos rins), cistos renais e outros fatores genéticos podem levar uma criança a ter a função renal prejudicada, necessitando de terapias de substituição, que podem ser a hemodiálise, a diálise perito neal e/ou o transplante de rins.

"O ultrassom morfológico que as mães realizam com 20 semanas de gestação já pode apontar anormalidades no trato urinário e normalmente as intervenções, como cirurgias, são feitas após o nascimento, mas, dependendo do problema verificado, é possível que haja a operação com o feto ainda na barriga. É mais raro, mas pode acontecer. O nosso alerta é que as mães jamais deixem de fazer o pré-natal e todos os exames necessários. Quanto antes uma doença é detectada, maiores as chances de intervenções", explica a médica nefropediatra Simone Vieira, que é coordenadora médica da unidade de Hemodiálise Pediátrica da Samarim.

Sinais da doença

Caso os rins dos pequenos não estejam funcionando bem, podem aparecer sinais que muitas vezes os pais nem percebem e, quanto mais tarde o diagnóstico é feito, mais grave a doença renal pode se tornar. Por isso, os pais devem ficar atentos. Inchaços nas mãos e pés, cansaço, alteração na quantidade e cor de urina, sangue na urina, febre ou calafrios com dor na bexiga, além de ardência ao urinar são sintomas que indicam a necessidade de ir ao médico.

"A pressão alta na infância é um sinal de alerta, e normalmente é diagnosticada em exame clínico no pediatra com aferição da pressão arterial. Quando há alteração, a criança é encaminhada ao especialista, um nefrologista pediátrico, para investigação, visto que 80% dos casos de hipertensão arterial na faixa etária pediátrica está relacionada com problema renal", explica Simone.

Prevenção

A alimentação das crianças é fundamental na prevenção quanto à saúde renal. Eles precisam beber muito líquido, e diminuir a ingestão de alimentos que contenham alto teor de sal, açúcar e gorduras. "O sódio é um conservante e está presente em muitos alimentos industrializados que as crianças consomem", alerta a médica.

Leia também: Fisioterapia recupera força de pacientes em diálise

Medidas preventivas fazem a diferença no crescimento e desenvolvimento das crianças, pois o bom funcionamento dos rins é imprescindível para garantir uma vida saudável. Na vida adulta, muitas pessoas em hemodiálise são diabéticas ou perderam a função renal devido a hipertensão arterial não controlada. Atitudes saudáveis desenvolvidas já na infância podem impedir o aumento da incidência de diabéticos, hipertensos e doentes renais no futuro.

De acordo com Simone Vieira, apesar da doença renal crônica ser menos frequente na infância, é necessário ampliar a oferta de tratamentos destinados às crianças. "São poucas as unidades que possuem esse serviço, que exige uma equipe multiprofissional especializada. Crianças de todo o país vêm para São Paulo, porque aqui nos tornamos referência. As crianças demandam cuidados intensos e especiais porque apresentam comorbidades associadas, estão em fase de crescimento, desenvolvimento neurológico e psicossocial. Muitas delas com ótimas perspectivas para realizar transplante renal. Então cuidamos para atingir o maior sucesso possível nessa jornada", explica.

Veja dicas para cuidar da saúde renal desde a infância:

- Aleitamento materno exclusivo: protege contra desidratação e algumas doenças

- Evitar sal, açúcar e alimentos industrializados: o consumo de produtos industrializados e fastfood tem impacto direto na saúde infantil, com aumento da incidência de cálculos renais, obesidade, diabetes e hipertensão arterial

- Manter a criança hidratada: incentivar as crianças a beber água e evitar exposição prolongada ao sol

- Praticar atividades físicas regularmente: crianças que praticam atividades físicas se tornam adultos mais saudáveis e com menor risco de lesão renal. O sedentarismo leva a complicações como hipertensão arterial e diabetes da infância até a idade adulta

- Acompanhamento pediátrico regular

- Aferir pressão arterial em crianças nas consultas de rotina com o pediatra

- Controlar o peso corporal da criança

- Evitar uso de anti-inflamatórios


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