A cozinheira Lorisete dos Santos, 37, está no sétimo mês de gestação e apresenta gravidez de alto risco. Segundo laudo médico, ela e suas bebês, gêmeas siamesas ligadas por um único tronco, têm poucas chances de sobreviver ao parto. O direito ao aborto, no entanto, já foi negado quatro vezes pela Justiça brasileira, inclusive pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
O processo teve início em 12 de setembro, na Vara Criminal de São Luiz Gonzaga (RS), onde mora a família. Negado, o aborto foi novamente solicitado, via habeas corpus, ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que também indeferiu o pedido.
Nova solicitação foi feita ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), que em decisão liminar negou mais uma vez o aborto, enquanto não se esgotarem as análises pelo Tribunal de Justiça gaúcho.
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Após aborto legal, promotora mandou buscar feto no hospitalOperação desarticula venda de remédios para aborto pela internetDefensorias Públicas pedem revisão de cartilha do MS sobre abortoFotos mostram que não há embrião visível até 9 semanas de gravidezO aborto também foi negado pelo STF, alegando supressão de instância, ou seja, que é o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul quem deve decidir primeiro.
O caso foi divulgado inicialmente pela colunista Marina Rossi no site UOL.
No Brasil, o aborto é permitido em casos de estupro, risco para a mãe e anencefalia do feto --este último caso foi garantido por uma decisão do STF em 2012. Nas demais situações, a prática é considerada crime.
Segundo avaliação de especialistas em medicina fetal que examinaram Lorisete, a separação das gêmeas após o nascimento é inviável e "incompatível com a vida", pois elas compartilham um tronco único e uma série de órgãos nobres e vitais.
O defensor público Andrey Melo, que atua na defesa da gestante, explica que a fundamentação jurídica nesse caso está no fato de não haver possibilidade de vida extrauterina para as bebês --semelhante ao que ocorre com crianças com anencefalia.
Ele diz que a intenção é recorrer até que a Justiça acolha o pedido da família e dê a Lorisete o direito de abortar. Caso isso não ocorra até o dia 31 de outubro, quando as gêmeas completarão 32 semanas de gestação, o parto será realizado.
Nesta fase, explica Melo, não é mais necessária autorização judicial para a realização da cesariana, decisão que competirá, então, à equipe médica.
"Aí elas vão nascer e só Deus sabe quanto tempo vão durar, um dia, dez dias, 20 dias, só por Deus. O que mais temos medo é que aconteça alguma coisa com a vida dela . Esse é o nosso medo maior", diz o pai, Marciano da Silva Mendes.
Ele diz achar "um absurdo" a Justiça não ter autorizado o aborto para sua esposa. "É uma situação horrível. Ela nem gosta de falar porque se desespera", conta.