Jornal Estado de Minas

OUTUBRO ROSA

O ideal é emagrecer sem dietas restritivas

 

A empresária Márcia Machado, de 42 anos, sempre foi amiga da balança – o biótipo é de magra. Até a segunda gestação. Durante a gravidez e no pós-parto, engordou 20 quilos, ao mesmo tempo em que vivenciou um processo de divórcio. "Depois, não consegui mais emagrecer. Nunca tive aquele peso. Não me identificava com aquele corpo, olhava no espelho e não me via", conta. Márcia passou sete anos com os quilos a mais, até o  momento em que o que pesou mesmo foi a questão da saúde. Ela se lembra da sobrecarga de trabalho, que a deixava cansada, indisposta, sem vigor físico para fazer nada ao chegar em casa.




 
 
 
E assim tomou uma atitude. Procurou uma nutróloga, que indicou a colocação de um implante hormonal. "O implante desempenha quase a mesma função que uma dieta low carb, baixa a insulina, faz o corpo queimar gordura, acelera o metabolismo", explica a empresária, de forma didática. Ao mesmo tempo, Márcia mudou alguns hábitos. Não fez dietas extremamente restritivas, mas cortou o refrigerante, que consumia em grandes quantidades, e também o álcool. Perdeu 16 quilos em nove meses, e agora vem mantendo o ponteiro da balança nos 70 quilos. 
 
Marcella Garcez chama a atenção para a desnutrição de obesos: 'As pessoas devem ser orientadas a fazer melhores escolhas alimentares' (foto: Arquivo pessoal)
 
 
Para ela, a falta de cuidado com a alimentação também é um mecanismo de compensação. "Já que eu trabalho tanto, mereço comer o que eu quero. A vida já é tão corrida, tão estressante, que se você chega em casa com vontade de comer alguma coisa e não pode, a alimentação muito restritiva pode virar um problema. É fácil descontar o estresse, a frustração e o cansaço na comida. Hoje, minha estratégia é dar uma segurada durante a semana e uma afrouxada no fim de semana. Tem funcionado bem, o que para mim é uma vitória", relata.
 
Enquanto muitas pessoas têm acesso a alimentos, a fome é um grande problema de saúde pública que pode ter consequências graves, principalmente entre as crianças em fase de desenvolvimento, alerta a nutróloga Marcella Garcez. Afeta 10% da população brasileira, cerca de 33 milhões de pessoas, informa a profissional.




 
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Em paralelo, a desnutrição, que pode ocorrer mesmo em quem tem acesso à comida, se relaciona mais com as escolhas alimentares. É um quadro que acontece quando não há a ingestão adequada dos nutrientes que o organismo necessita. "A desnutrição é responsável por 55% das mortes de crianças no mundo inteiro, e está associada a diversas doenças. Entre os brasileiros, mais de 60% da população está em sobrepeso e, desses, 24% obesos, sendo muitos obesos desnutridos. As pessoas devem ser orientadas a fazer melhores escolhas alimentares", pontua Marcella.
 
A desnutrição pode ter como consequência, essencialmente entre as crianças, a perda de peso, o crescimento deficiente, a baixa imunidade. Mas, ao longo do tempo, continua Marcella, a falta de nutrientes de forma constante pode causar alterações metabólicas que acarretam problemas como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.

DESPERDÍCIO Quando se fala em alimentação, outro assunto correlato é o desperdício. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que, no Brasil, quase 30 milhões de toneladas de alimentos são perdidas todos os anos. "Isso acontece no manuseio, no transporte e armazenamento dos alimentos. E, quando se trata do consumidor final, também na escolha e na forma de guardar a comida", diz a nutróloga. “As pessoas devem ser educadas a aproveitar o alimento em sua integralidade, usando partes que podem ser consumidas e muitas vezes não são”, ensina Marcella.




 
Quando a pauta segue para a questão ambiental, é importante lembrar que o meio ambiente não dispõe de recursos infinitos e, portanto, continua a profissional, a produção alimentar deve se basear em técnicas de menor impacto, que evitem a degradação da natureza. "Esse deve ser o foco dos grandes produtores, e o Brasil é um deles, um importante polo exportador de alimentos para o mundo. Devemos pensar que as populações futuras podem ter problemas na produção alimentícia", alerta Marcella.
 
Com a pandemia e a crise econômica gerada por ela, muita gente deixou de conseguir bons alimentos, porém, mesmo entre quem isso não aconteceu, o que se viu, muitas vezes, foi uma inadequação em relação à dieta. Além do aumento nos números da obesidade (para Marcella, outra pandemia em particular), cresceu a incidência de transtornos alimentares ligados à ansiedade, por exemplo.
 
Outro fenômeno em particular advindo da crise sanitária, diz Marcella, é a forma como as pessoas passaram a lidar com a comida. Mesmo com acesso a bons alimentos, muita gente, lembra a nutróloga, em vez de aproveitar melhor seu tempo em casa e se envolver no preparo das refeições, de forma mais saudável, o que se viu foi o contrário. "As pessoas procuraram alimentos que traziam conforto emocional, normalmente mais calóricos, escolhas equivocadas, além do aumento nos números de pedidos por delivery", aponta.




 
CONSUMO DIÁRIO DE ALIMENTOS

A pirâmide alimentar elaborada em 2013 por Philippi, no trabalho “Redesenho da pirâmide alimentar brasileira para uma alimentação saudável”, indica oito grupos alimentares, distribuídos em quatro níveis, em que estão suas recomendações em quilocalorias para o consumo diário. O desenho está assim desenvolvido:

» Arroz, pão, massa, batata, mandioca: 
     900kcal (6 porções por dia)

» Legumes e verduras: 45kcal (3 porções por dia)

» Frutas: 210kcal (3 porções por dia)

» Carnes e ovos: 190kcal (1 porção por dia)

» Leite, queijo e iogurte: 360kcal (3 porções por dia)

 » Feijões e oleaginosas: 55kcal (1 porção por dia)

» Óleos e gorduras: 73kcal (1 porção por dia)

 » Açúcares e doces: 110kcal (1 porção por dia)

Na base da pirâmide, estão os alimentos responsáveis por fornecer energia, sendo o grupo dos carboidratos. No segundo nível, estão alimentos ricos em vitaminas, minerais e fibras, considerados reguladores. No terceiro nível, os alimentos com proteínas. No último nível, o grupo de alimentos que devem ser ingeridos sem excessos, já que têm ligação direta com o desenvolvimento de obesidade. 
Observa-se também, no trabalho de Philippi, a recomendação para a realização de atividades físicas e a necessidade de se realizarem seis refeições diariamente. 
 
 
ERROS MAIS COMUNS NA ALIMENTAÇÃO 

Tempo curto para a refeição, alimentos industrializados, produtos pouco saudáveis, a rotina cada vez mais corrida. A vida contemporânea tem muitas armadilhas que provocam uma maneira de se alimentar pouco saudável. Veja os erros mais comuns:

» Sal em excesso: aumenta a pressão arterial e     
      a retenção de líquidos

» Açúcar em excesso: acarreta uma série de      
     problemas relacionados à obesidade

» Pouca variedade: pratos coloridos têm mais     
      nutrientes e são mais saudáveis

» Falta de frutas, legumes e verduras: esses são   
      alimentos importantes como fonte 
   de fibras e vitaminas

» Hidratação ruim: é indicada a ingestão em
     torno de dois litros de água todos os dias

» Pular refeições: a pessoa fica muito tempo     
     sem se alimentar, o que pode fazer com que,   
     na hora da refeição, coma em exagero