As primeiras 72 horas de vida de um bebê são determinantes para rastrear a presença de possíveis doenças oculares graves por meio do teste do reflexo vermelho (TRV), comumente denominado de teste do olhinho. Na maior parte dos estados brasileiros esse exame é coberto pelo SUS, além de ter cobertura pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), quando é realizado por convênio particular.
Trata-se de um teste rápido, indolor e sem riscos, que consiste na identificação do reflexo vermelho, projetado por um feixe de luz do oftalmoscópio que ilumina os olhos do bebê, explica Raquel Toledo Caten, oftalmologista do Instituto de Olhos Minas Gerais (IOMG), especialista em catarata e glaucoma pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte e em retina clínica pelo Hospital Evangélico de BH. Segundo a médica, o reflexo na cor vermelho-alaranjado simétrico é considerado normal. Na ausência do reflexo vermelho em um ou ambos os olhos, ou em caso de assimetria, a criança deve ser encaminhada ao oftalmologista com urgência.
O TRV não permite a visualização das estruturas oculares, por isso bebês que nascem antes de 32 semanas gestacionais e pesam menos de 1,5 kg devem ser examinados pelo oftalmologista o mais breve possível para uma avaliação mais detalhada do fundo de olho com a dilatação das pupilas. Crianças prematuras são mais suscetíveis a apresentar problemas oculares, como a retinopatia da prematuridade, considerada uma das principais causas de cegueira prevenível da infância.
“Através do exame do reflexo vermelho é possível detectar diversas patologias: tumores intraoculares, como o retinoblastoma, catarata congênita, glaucoma congênito, opacidades de córnea e malformações. Quanto mais cedo o problema é identificado, melhor é o seu prognóstico”, ressalta Raquel Toledo Caten.
O retinoblastoma é o tipo de câncer ocular mais comum na infância, considerado uma doença silenciosa, que pode levar à cegueira e até mesmo à morte. O diagnóstico precoce é pré-requisito para o sucesso do tratamento, elevando as chances de cura e preservação da visão.
A catarata congênita, quando interfere na visão, deve ser operada o mais rápido possível, pois um atraso na sua remoção pode comprometer o desenvolvimento da região cerebral responsável pela visão, gerando um déficit visual permanente. Inclusive, a catarata é considerada uma das principais causas de cegueira infantil.
O desenvolvimento visual da criança ocorre até os sete anos de idade, por isso é desejável que o diagnóstico e tratamento de possíveis doenças oculares que comprometam esse desenvolvimento sejam realizados prematuramente. Ainda que não apresente nenhum sinal de alteração ocular, segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), todas as crianças saudáveis devem ser examinadas por um oftalmologista entre 6 e 12 meses de vida, e entre 3 e 5 anos de idade. Cuidar da saúde integral da criança é cuidar também da sua visão.