Jornal Estado de Minas

COVID-19

Universidade em Boston nega criação de vírus Sars-CoV-2 mais letal

Paloma Oliveto - Correio Braziliense

A Universidade de Boston negou que cientistas da instituição desenvolveram um híbrido do vírus Sars-CoV-2 mais letal do que a cepa original. Na segunda-feira (17/10), o tabloide inglês Daily Mail afirmou que uma pesquisa realizada nos Laboratórios Nacionais de Doenças Infecciosas Emergentes (NEIDL) "criou uma nova cepa mortal de COVID". Diversos veículos de imprensa, incluindo a rede norte-americana Fox News, reproduziram a informação incorreta.



Segundo a universidade, a informação é "falsa e imprecisa". Na realidade, afirmaram os cientistas em um comunicado à imprensa, a pesquisa fez justamente o contrário: tornou o vírus menos perigoso. O objetivo do trabalho, ainda em desenvolvimento, é descobrir qual parte do vírus determina a gravidade da doença, já que algumas cepas são mais agressivas que as outras. A instituição também observou que a pesquisa foi revisada e aprovada pelo Comitê de Biossegurança Institucional (IBC), formado por cientistas e membros da comunidade local, e que a Comissão de Saúde Pública de Boston aprovou a pesquisa.

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"Eles sensacionalizaram a mensagem, eles deturpam o estudo e seus objetivos em sua totalidade", diz Ronald B. Corley, diretor do NEIDL e presidente de microbiologia da BU Chobanian & Avedisian School of Medicine, sobre as reportagens. De acordo com ele, no estudo os pesquisadores examinaram a proteína spike da variante ômicron (BA.1). Essa proteína permite que o vírus entre nas células humanas.

Segundo Corley, a ideia era descobrir se essa cepa era realmente mesmo virulenta, já que não estava infectando as mesmas células que a original. O presidente do departamento de microbiologia afirmou que a reportagem do Daily Mail, conhecido pelo teor sensacionalista das publicações, fez uma série de outras alegações enganosas, incluindo a de que os pesquisadores pretendiam criar um vírus mais letal.



"Não é verdade", disse Corley. "Primeiro, esta pesquisa não é um estudo de ganho de função, o que significa que não amplificou a cepa ômicron ou a tornou mais perigosa. Na verdade, essa pesquisa fez com que o vírus se replicasse de forma menos perigosa", disse o comunicado à imprensa da universidade. Segundo Corley, o Daily Mail retirou de contexto informações de uma versão preliminar do estudo que, na verdade, não tinha nada a ver com o efeito do vírus em humanos.

A pesquisa começou em uma cultura de tecidos, depois passou para um modelo animal. Esse modelo é um tipo de camundongo altamente suscetível ao coronavírus, sendo que 80% a 100% dessas cobaias não resistem à cepa original do vírus. Já a ômicron causa uma doença muito mais leve nos mesmos animais. Segundo Corley, o Daily Mail retirou do contexto a informação, dizendo que os cientistas "desenvolveram uma cepa 80% mais letal". "Esta foi uma declaração tirada do contexto para fins de sensacionalismo", diz Corley, "e deturpa totalmente não apenas as descobertas, mas o objetivo do estudo".

"Levamos a sério nossa segurança e proteção de como lidamos com patógenos, e o vírus não sai do laboratório em que está sendo estudado", diz Corley. "Todo o nosso objetivo é a saúde da população. E este estudo foi parte disso, descobrindo qual parte do vírus é responsável por causar doenças graves. Se pudermos entender isso, poderemos desenvolver as ferramentas de que precisamos para desenvolver melhores terapêuticas".