Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Estudo na USP vai testar profilaxia injetável para prevenção do HIV



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma pesquisa internacional e com participação da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) vai testar uma nova forma de Prep (profilaxia pré-exposição) injetável para prevenção do HIV. A expectativa é que, com métodos diversos de proteção, seja mais fácil abarcar um maior número de pessoas que utilizam alguma forma de prevenção.





O Brasil já conta com o modelo de Prep em comprimido fornecido gratuitamente pelo Ministério da Saúde. O dispositivo envolve tomar todo dia uma cápsula formada pelos antirretrovirais tenofovir e entricitabina, medicamentos eficazes contra o HIV.

Então, se alguém for exposto ao vírus, ele não conseguirá se replicar no organismo da pessoa. "A ideia é não deixar o vírus se multiplicar, porque, assim, o sistema imunológico consegue eliminá-lo", afirma Rico Vasconcelos, médico infectologista, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP e coordenador da pesquisa na universidade.


Estudos já demonstraram a eficácia do método. Um deles concluiu que a Prep reduziu em 95% a incidência do HIV em participantes com níveis sanguíneos detectáveis, ou seja, com adesão constante à prevenção.





 

 


No entanto, a necessidade de tomar diariamente o comprimido pode ser um impedimento para alguns usuários. "O desempenho da Prep em vida real não é igual em todos os grupos por causa da baixa adesão que algumas pessoas têm", diz Vasconcelos.


Por isso, o desenvolvimento de novas profilaxias preveníveis são importantes a fim de aumentar o leque de opções para a prevenção combinada, conceito de ter uma ampla gama de formas para evitar a infecção por HIV.

 

"Os melhores métodos de prevenção para cada um são aqueles que as pessoas escolhem e que a pessoa é capaz de utilizar de forma correta e constante", afirma.

 

Um caminho possível de melhorar a adesão à Prep são as versões injetáveis de antirretrovirais, já que demandam aplicações com maior espaço de tempo. O caso da pesquisa com participação da USP é baseado no antirretroviral lenacapavir, com uma injeção subcutânea a cada seis meses.





 

Para o tratamento, o lenacapavir injetável já apresentou resultados positivos, entretanto não há evidências sobre os efeitos para prevenção do vírus -esse é o objetivo principal da nova pesquisa.

 

O estudo clínico é de fase 3, última etapa na pesquisa de novos fármacos. No momento, os pesquisadores estão no estágio de recrutamento de participantes. Ao todo, espera-se atingir um total de 3.000 voluntários.

 

Leia também: Como se proteger de tristeza, raiva e medo após eleição 

 

HIV no Brasil Vasconcelos explica que o Brasil, em comparação com outros países da América Latina, conta com um sistema mais estruturado de prevenção e tratamento do HIV. Mesmo assim, desafios ainda existem, como na desigualdade racial de acesso aos serviços de saúde.





 

"Entre mulheres e homens brancos, a gente tem uma taxa de detecção de novos casos e de óbito por Aids que cai a partir do tempo, isso não se repete entre negros. Isso mostra que temos uma desigualdade de acesso à saúde no Brasil com esse fator determinante racial", explica o pesquisador.

 

Além disso, a grande maioria dos usuários da Prep em comprimido são homens gays, brancos e com ensino superior. "É bom eles estarem tomando, mas isso também aponta a desigualdade social no acesso à saúde", completa.

 

O pesquisador também tem receios sobre a previsão de cortes de R$ 407 milhões para prevenção, controle e tratamento de HIV/AIDS e outras infecções. "Como é que vai ser o desempenho de um programa sucateado e sem dinheiro? Será que ainda seremos um país exemplo na América Latina? Tudo indica que não", conclui.