Jornal Estado de Minas

ATIVIDADE FÍSICA

Projeto Verão: especialistas reforçam cuidados com corpo durante todo o ano

 

Projeto Verão. Chegou a hora. Seguramente, você já esbarrou nessa expressão por aí. Na vida de muitos, ele se apresenta poucos meses antes da estação mais quente do ano e é adotado por quem curte muito o calor. É a época em que quem deixou a prática de exercícios físicos de lado e exagerou na alimentação, corre contra o tempo para conquistar o corpo que deseja desfilar pelas praias, piscinas, baladas e festas de fim do ano, período embalado em roupas mais curtas, decotadas e pele à mostra. 




 
Em contagem regressiva, muitos se apegam a dietas milagrosas, uso de suplementos e remédios perigosos e cargas de treinamentos físicos exagerados. Ou seja, um risco à saúde diante das decisões adiadas, já que são cuidados que deveriam fazer parte da rotina de todos ao longo do ano.

O verão chega em 21 de dezembro e vai até 20 de março de 2023. E o Projeto Verão tem a ver com questões relacionadas à autoconfiança e autoestima, que cercam mulheres e homens. Assim, há aqueles que estabelecem metas que, acreditam, lhes darão resultado rápido em pouco tempo. 
 
 
 
O cardiologista Marconi Gomes, médico do esporte e atual presidente do Grupo de Estudo e Cardiologia do Esporte da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), do Departamento de Ergometria, Exercício, Cardiologia Nuclear e Reabilitação Cardiovascular (DERC), alerta: “O aumento desenfreado nesta época do ano de pessoas procurando academias atrás de soluções milagrosas para perder peso, ganhar músculos e diminuir a gordura corporal para ficarem saradas para o verão é uma realidade”, comenta. 





EQUÍVOCO “No entanto, existe um grande erro pensar que o cuidado com o corpo, a mente e o estado psicológico, pensando no ser global e não apenas físico ou musculoesquelético, é algo que deveria ser feito apenas em determinada época do ano, como se preparasse para um casamento, formatura, viagem e, no caso, as férias do verão. Isso é um equívoco, porque coloca o corpo diante de algo que ele não gosta: a irregularidade e a falta de rotina nos hábitos saudáveis.”
 
Marconi Gomes explica que o corpo, muitas vezes bombardeado por períodos de grande estresse físico e emocional, e também pela falta de cuidado com alimentação somado a períodos de trabalho em frente ao computador, imobilizado, sem nenhum tipo de atividade física regular, acaba gerando processos inflamatórios que estão diretamente relacionados com as  chamadas doenças crônicas não transmissíveis, como obesidade, diabetes e as doenças cardiovasculares (AVC, derrame, infarto, doenças coronarianas e a insuficiência cardíaca).
 
“Esse trabalho, apenas pontual, de autocuidado, também gera problemas, uma vez que o corpo, desabituado a ser exercitado, em estado de sedentarismo, acaba sendo estressante do ponto de vista físico, sem nenhum preparo prévio ou gradativo. Muitas pessoas fazem programas de exercícios físicos intensivos com o objetivo de perder peso rapidamente, achando que a solução está na intensidade elevada, e não na regularidade. Uma premissa errada”, explica.




 
“Esses exercícios podem colocá-la em risco cardiovascular porque processos ateroscleróticos (gorduras nas artérias) e processos anti-inflamatórios, que têm relação com a inflamação no sistema orgânico, nos vasos sanguíneos e desprendimento de placas de gordura, podem ocasionar eventos coronarianos quando a pessoa se exercita de forma despreparada para perder peso.” 
 
ANABOLIZANTES Portanto, alerta o cardiologista e médico do esporte, quando a pessoa decide se cuidar já na prorrogação para chegar ao verão com menor peso, com mais massa magra e menos massa gorda, o melhor caminho é focar, sobretudo, na regularidade do exercício físico. Idealmente, 300 minutos por semana, cinco horas por semana, de exercício com intensidade moderada. “Entretanto, a melhor opção, o carro-chefe para essa modificação, é uma alimentação balanceada com a consulta a um endocrinologista ou nutricionista.” 
 
O cardiologista Marconi Gomes diz que é um erro pensar que o cuidado com o corpo, a mente e o estado psicológico é algo que deveria ser feito apenas em determinado período do ano (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
 
Uma nova rotina alimentar torna-se, portanto, mais eficaz para a perda de peso do que enveredar para a prática de exercícios de alta intensidade, que além dos riscos cardiovasculares já mencionados, tem eventos adversos musculoesqueléticos, como fraturas ósseas, fraturas por estresse, estiramento, contusão ou lesão muscular ou articular que podem impedir a pessoa de treinar. “Assim, em vez de estar diante de um profissional da educação física, pela destemperança na busca imediata pelo resultado, estará diante de um profissional da fisioterapia.”
 
Marconi Gomes lembra outra questão que deve ser sempre lembrada: o novo posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) sobre os esteroides anabolizantes. A SBEM contraindica qualquer tipo de terapia com o uso de anabólicos para fins estéticos ou perda de peso. “Isso tem sido muito preconizado de uma forma não cientificamente embasada, tendo em vista que as principais sociedades relacionadas ao exercício, ao esporte e ao estado metabólico não indicam em hipótese alguma a suplementação, mesmo que as pessoas que fazem essa prescrição queiram inferir que existe uma indicação para reposição adequada e bem assistida”, explica o especialista. 
“Para fins estéticos e sem que a pessoa apresente sintomas do déficit dessas substâncias, e sem uma comprovação laboratorial da queda de produção endógena, ou seja, pelo próprio corpo, da testosterona e seus análogos, não existe indicação de prescrição para tais fins, como estéticos, perda de peso, ga- nho de força, ganho de performance. São proibidas pelas sociedades que detêm a ciência de uma forma real do ponto de vista de prescrição. E quem usa se coloca em um estado de vulnerabilidade muito grande”, alerta o cardiologista. 




 
Para Marconi Gomes, uma das formas mais seguras para quem se encontra interessado neste momento em se preparar de alguma forma para o verão é, primeiramente, perceber que ela deve ser feita de forma regular, contínua e durante todo o ano. “Na impossibilidade disso, a pessoa deve procurar um cardiologista ou médico do esporte, ou ainda profissionais de educação física capacitados para prescrever os exercícios físicos e, se for o caso, um nutricionista idôneo, capaz de prescrever não fórmulas mirabolantes, mas uma re- educação alimentar real do ponto de vista nutricional.” 
 
A verdade é que, acrescenta Marconi, “não existe como alguém se transformar em um atleta em poucos meses e, se isso for prometido, pode ser muito perigoso por que se leva tempo. A estação do autocuidado é permanente”.