Foi-se o tempo em que a ortopedia era o único ramo da medicina envolvido com a prática esportiva. Com um número cada vez maior de pessoas praticando as mais variadas modalidades, o tratamento de lesões e traumas em decorrência dos exercícios envolve hoje um conhecimento multidisciplinar. Assim, é quase que impossível um mesmo profissional ter condições de avaliar as variadas ocorrências sem riscos para o praticante.
O livro “Beira do Campo – Urgências e Emergências no Esporte” tem o objetivo de preencher essa lacuna. Com 754 páginas, a obra traz 101 tópicos, assinados por mais de 220 profissionais, que tratam grande parte das ocorrências possíveis durante a prática esportiva, desde uma torção de joelho, ou pancada na cabeça em um jogo de futebol, até queimaduras causadas pelo sol escaldante em uma maratona, ou um princípio de hipotermia durante a prática de um esporte na neve.
A obra foi lançada na terça-feira (8/11), em Belo Horizonte, no teatro da Faculdade Ciências Médicas (Feluma), com a presença de um dos coordenadores, o professor Rodrigo Campos Pace Lasmar, que também é médico do Atlético e da Seleção Brasileira. Os também ortopedistas Rodrigo Araújo Góes e João Alves Grangeiro Neto, com vasta experiência em clubes de futebol, vôlei e modalidades olímpicas, também assinam o livro.
“Beiro do Campo”, no entanto, não é restrito ao esporte de alta precisão ou ao meio acadêmico. Vários capítulos tratam das condutas médicas recomendadas em situações de urgências envolvendo públicos específicos, de faixas etárias e condições diferentes, como idosos, crianças, mulheres, entre outros atletas, amadores ou não.
São destacados também os ganhos para a saúde e os cuidados para que as atividades esportivas sejam praticadas com segurança. Nos caso dos atletas máster, por exemplo, os autores falam dos inúmeros benefícios do esporte para controlar doenças crônicas e minimizar as alterações fisiológicas normais associadas ao envelhecimento, além dos efeitos benéficos psicológicos e sociais proporcionados pelos exercícios regulares nessa faixa etária.
De acordo com o livro, diversas alterações advindas do envelhecimento podem ser interrompidas, prevenidas ou até mesmo revertidas com uma rotina de exercícios. Rodrigo Lasmar também ressalta a importância das crianças começarem mais cedo as atividades esportivas. “Isso vai permitir a elas desenvolverem a coordenação, estruturar o esqueleto e a musculatura, que impactam o próprio crescimento, de forma que no futuro elas tenham condições de participar, dentro da sua modalidade, de práticas de alta demanda”, afirma.
Na beira do campo
Segundo Rodrigo Lasmar, “Beira do Campo- urgências e emergências no esporte é um guia completo que vai orientar os profissionais que trabalham na área da Saúde, dentro do esporte, mas pode também ser usado tranquilamente por profissionais de educação física que trabalham em academias ou até em escolas infantis, para que eles possam ter parâmetros mais confiáveis para fazer avaliações e orientações para alunos de todas as idades.
O livro apresenta trabalhos de médicos de times das séries A e B do futebol, do vôlei, do basquete, do judô, do remo, do tênis, do atletismo, do hipismo, da vela, do ciclismo, do handebol, da ginástica, do surf, do MMA, entre outros, ou seja, engloba as principais modalidades praticadas no mundo. “Há um capítulo, inclusive, que trata de problemas que ocorrem em situações extremas – esportes na neve ou no deserto -, como casos de hipotermia e hipertermia, ou hipoglicemia – comum nas ultramaratonas”, resume Rodrigo Góes, outro autor.
Referência mundial
Preparando-se para embarcar para sua 5ª Copa do Mundo, Rodrigo Lasmar diz que a medicina esportiva, especificamente a ortopedia/traumatologia, do Brasil, hoje é referência para o mundo. Responsável por tratar uma grave lesão de Neymar, que veio da França, onde atuava pelo PSG, em 2018, para se operar em Belo Horizonte, ele diz que costuma receber atletas de vários lugares do mundo, como França, Inglaterra e Itália, que recorrem ao país em busca de tratamentos mais modernos e avançados.
De acordo com o especialista, as lesões musculares, muito comuns no futebol, esporte mais popular no Brasil, são as mais recorrentes em atletas de alta performance, seguidas por lesões nas articulações, como joelhos e tornozelos. Os problemas são responsáveis por inúmeros afastamentos de profissionais do meio esportivo.
“Temos o desafio de recuperar o atleta para que ele possa voltar rapidamente a sua modalidade esportiva”, complementa o médico. Outro desafio é evitar ou pelo menos amenizar a incidência de lesões. De acordo com o especialista, é feito um intenso trabalho de prevenção, com exercícios específicos de fortalecimento e equilíbrio muscular, além do emprego de protocolos modernos para minimizar o problema.