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Estado de Minas AMIZADE

Literatura: quando passado e presente se misturam

Mineiro publica livro sobre um velho vendedor e um menino sem futuro que fizeram história na década de 1970. A amizade improvável é o ponto de partida da obra


13/11/2022 04:00 - atualizado 13/11/2022 07:30

José Carlos Martin
José Carlos Martins traz recordações sobre a infância do menino e de momentos da ditadura militar (foto: aspas e vírgula/divulgação )


 Um velho vendedor de mel, ateu e anarquista; um menino sem futuro, entregue à própria sorte. A aproximação dos dois personagens, em uma amizade improvável, é o ponto de partida de “O velho e o menino: O rio”, obra de estreia do escritor mineiro José Carlos Martins, professor de letras e advogado aposentado.
 
A história é narrada por Manuel, um imigrante português com mais de 70 anos, metódico, franzino e não religioso, por influência do pai, de quem também herdou a tez morena. Um dia, aparece um menino, sem obrigação alguma e com acesso livre às casas dos clientes, que passa a ajudar o velho em sua tarefa diária. 
Os dois primeiros elementos que intitulam o livro eram desconhecidos, sem nenhuma relação de parentesco, mas que tinham algo em comum: ambos rejeitados pela sociedade na qual viviam e ambos amparados pelo terceiro elemento, o rio.
 
Manuel é rejeitado por ser ateu e anarquista e a criança por ser “menino de rua”, como explica José Carlos. “Por não serem aceitos pelas pessoas daquela pequena cidade, eu quis um elemento natural para recebê-los e recompensá-los pelo amor que ambos sentiam pela natureza.”
 
O rio entra em cena para mostrar que não é preciso morrer para encontrar alento. “Poderia matá-los no final da história e dar-lhes o céu como recompensa: o autor tem esse poder. Mas era preciso dar-lhes esse conforto aqui na Terra, por isso coloquei o rio para acolhê-los, porque o rio é água e água é vida”, afirma o autor.
 
Ambientada em 1970, a narrativa oscila entre presente e passado, ao trazer as recordações de Manuel sobre sua infância e de outros tempos tão difíceis quanto aqueles vividos durante a ditadura militar no Brasil. O autor, assim, faz o leitor refletir sobre o status quo em áreas como política e religião.
 
Segundo o escritor, foi preciso questionar tantas “verdades” recebidas de geração em geração. Nascido em família católica, José Carlos conta que sempre teve questões angustiantes e respostas "porque assim é o certo" ou "porque Deus quis assim" nunca o satisfizeram. Por isso, ele criou um personagem velho, ateu e anarquista: “Fiz isso para que, através dele, eu me perguntasse: ‘Mas é isso mesmo?’. Fiz várias perguntas pela boca do velho vendedor de mel.”

INFÂNCIA

Como personagens secundários, José fez questão de colocar vários “habitantes pitorescos” de sua infância, que morreram sem deixar descendentes. “Não poderia deixar que suas histórias fossem apagadas para sempre. Quis colocá-las no livro para que sobrevivessem ao seu passamento. Alguns eram carismáticos, outros nos metiam medo, mas os deixei viver eternamente no meu livro”, declara.
 
“O velho e o menino: O rio” nasce de um conto, “O vendedor de mel”, em uma experiência dolorosa e profunda do autor, que ficou adormecida por uma década. José Carlos comenta que o processo de escrita é como soltar pipa, ou papagaio. “No início, é preciso um grande esforço para fazê-la levantar voo, a pipa teima em voltar à terra, mas depois que pega uma rajada de vento, basta dar a ela linha e mais linha.”
 
“O voo é tranquilo, com alguma turbulência, claro, mas indo cada vez mais alto. Então, no dia em que me aposentei, sentei-me para escrever um conto: ‘O vendedor de mel’. No início foi difícil, corri de um lado a outro, sem que a pipa pegasse o jeito de voar, mas depois que levantou voo foi só dar linha. Acrescentei histórias paralelas à principal – dei tanta linha – que acabou virando um livro”, esclarece o professor.
 
A obra é também uma homenagem a João Guimarães Rosa, leitura diária do escritor. “Fiz-lhe uma pequena homenagem, iniciando no próprio título do livro, com a utilização dos dois pontos de que ele tanto gostava.”

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie
 
Livro
(foto: Reprodução)
 

Serviço

Título: “O velho e o menino: o rio” 
Autor: José Carlos Martins
Páginas: 234 páginas
Preço: R$ 50
Venda: Amazon 


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