Conduzida por cientistas de instituições dos Estados Unidos, Suécia, Suíça, México e da OMS (Organização Mundial da Saúde), a pesquisa analisou artigos publicados entre 2000 e 2021 que abordavam práticas de escuta inseguras entre indivíduos de 12 a 34 anos e estimou o impacto global do problema.
Eles descobriram que 23,81% dos jovens se expõem ao ruído excessivo com os dispositivos eletrônicos e calcularam em 48,2% a taxa daqueles que frequentam ambientes de lazer barulhentos. Em seguida, considerando que 2,8 bilhões de pessoas no mundo têm entre 12 e 34 anos, aplicaram esse recorte. O resultado foi que entre 666 milhões e 1,35 bilhão de adolescentes e jovens adultos podem prejudicar a própria audição.
Os danos dependem da intensidade, duração e frequência de exposição ao ruído. Os jovens sujeitos a danos, por exemplo, colocam o volume do celular em algo como 105 dB (decibéis), o equivalente a uma britadeira.
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Além disso, passam muito mais tempo em contato com o som do que o máximo admissível para essa intensidade. Para comparação, o limite para um som de 98 dB, de acordo com os autores, é de 38 minutos, e para 101 dB é de apenas 19 minutos.
Música via streaming
"Hoje, a música é escutada via streaming, o que faz com que tenhamos um número muito grande de faixas. A pessoa permanece então usando esses dispositivos por muito, muito tempo, e com a exposição prolongada ocorre a chance de lesão auditiva", comenta o médico Arthur Menino Castilho, membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).
O nível médio do som em locais de entretenimento apontado no estudo, de 104 dB a 112 dB, também superou os padrões admissíveis mesmo para curtos períodos de tempo.
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"Episódios recorrentes ou mesmo únicos de escuta insegura podem causar danos fisiológicos ao sistema auditivo, apresentando-se como zumbido transitório ou permanente e/ou alterações na audição", alertam os cientistas no artigo.
Preocupados com as conclusões, os autores elencam consequências sociais e econômicas da perda auditiva: ela provoca gastos de quase US$ 1 trilhão por ano, gera repercussões no bem-estar, está associada a uma pior qualidade de vida e a outras comorbidades.
Para eles, os resultados do estudo mostram a necessidade urgente de "implementar políticas voltadas para em hábitos de escuta seguros em todo o mundo, de forma a promover a prevenção da perda auditiva".
Eles também ressaltam que, nos últimos anos, a OMS disponibilizou diferentes documentos com recomendações de como tornar a escuta segura. Entre eles estão as publicações da iniciativa Make Listening Safe e da parceria com a International Telecommunication Union, além da norma global para eventos.
As publicações trazem sugestões a empresários de baladas e casas de shows, como monitorar o nível de ruído e oferecer alguns espaços de relaxamento com volume controlado e seguro; orientam pais, professores e médicos a alertar os jovens para os riscos; e indicam medidas de autoproteção, entre elas o uso de protetores auriculares e a adoção de intervalos silenciosos.
Outra medida, afirma Castilho, é utilizar os dispositivos sem ultrapassar metade da intensidade de fábrica, ou seja, adotar o meio do volume como limite. "Não existe uma forma oficialmente segura de como usar esses aparelhos, mas o ideal é não utilizar por tempo prolongado e nem com intensidade elevada".
Quanto a shows e eventos em ambientes fechados, os conselhos são manter distância das caixas de som e também controlar o tempo de permanência. Se, ao sair, houver qualquer incômodo ou zumbido no ouvido, é um indicativo de que o limite suportado foi ultrapassado.