A vacinação contra a COVID-19 salvou a vida de 54 a 63 mil idosos durante os primeiros oito meses de 2021. Também evitou de 158 mil a 178 mil internações de pessoas com 60 anos ou mais em hospitais brasileiros, no mesmo período. Os números, divulgados na revista científica The Lancet Regional Health Americas, podem ser ainda melhores. Isso porque fazem parte de uma análise considerada "conservadora" pelos autores do estudo, integrantes do Observatório COVID-19 BR. O que é certo, dizem, é que o resultado do trabalho evidencia o impacto positivo da imunização em massa no país.
"O fato de as vacinas terem feito diferença é algo incontestável", afirma, ao Jornal da Unesp, o pesquisador Leonardo Souto Ferreira, primeiro autor do artigo e pesquisador do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista. Além da Unesp, fazem parte do observatório a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Universidade Federal do ABC (UFABC) e a Universidade de São Paulo (USP).
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Livro conta a história de um sobrevivente da COVID-19COVID-19 desencadeou e agravou casos de diabetesCOVID-19: Saúde distribui 1 milhão de doses de vacina para criançasPaxlovid contra COVID chega tarde e eficácia contra ômicron não é claraSegundo Leonardo Ferreira, o efeito deve ter se repetido entre os indivíduos mais novos. "Nosso modelo parte do princípio de que o comportamento da epidemia nas diversas faixas etárias é o mesmo. Não no sentido que eles tenham o mesmo número de casos, mas que eles tenham o mesmo comportamento de subida e descida, mais ou menos, no mesmo momento", explica. "O número de casos graves em idosos começou a descer, enquanto o número de hospitalizações em pessoas mais jovens continuava a subir. Esse comportamento é devido à vacinação naquela população", completa.
Variante gama
O grupo de cientistas também estimou quantas internações poderiam ter sido evitadas se o país tivesse adotado um ritmo acelerado de vacinação desde o começo da campanha, iniciada em 18 de janeiro de 2021. Para os autores, a imunização foi ganhando velocidade aos poucos. Entre fevereiro e março daquele ano, eram aplicadas cerca de 250 mil doses por dia. Só em junho, chegou-se ao nível de 1 milhão.Caso esse ritmo tivesse sido adotado oito semanas depois do início da campanha, em meados de março, o número de mortes de idosos poderia ter sido de 40% a 50% menor, em relação àquele observado no pico da epidemia da variante gama. Dessa forma, outros 47 mil óbitos e um adicional de 104 mil hospitalizações de pessoas com mais de 60 anos poderiam ter sido evitados, indica o estudo brasileiro.
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"Ainda que não pudéssemos evitar a emergência da variante gama, visto que ela surgiu em novembro e as vacinas foram disponibilizadas em janeiro, uma vacinação rápida poderia diminuir consideravelmente o pico de hospitalizações e óbitos, especialmente entre idosos e principalmente nos estados em que a gama demorou um pouco para chegar", avalia Flávia Maria Darcie Marquitti, pesquisadora do Instituto de Física Gleb Wataghin e do Instituto de Biologia, ambos da Unicamp.
Crianças
Os autores também consideram que, em meados de 2021, a imunização da população, já em ritmo acelerado, cumpriu um "papel decisivo" para impedir o surgimento de uma nova onda grave de COVID-19 devido ao aparecimento da variante delta, que se espalhou pelo país e se tornou dominante. "Quando a delta chegou, encontrou dificuldade maior de circular", explica Marcelo Gomes, coautor do estudo e pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz.Para o cientista da Fiocruz, os resultados observados sinalizam que a estratégia pode ser eficiente para a vacinação das crianças contra a COVID-19. "A vacinação infantil tem sido lenta porque se criou uma série de questionamentos infundados a respeito da segurança da vacina, o que acabou gerando o que chamamos de hesitação vacinal, ou seja, parte da população ficou em dúvida em relação à segurança e eficácia do imunizante", diz.