Jornal Estado de Minas

SENSAÇÃO DE CHOQUE

Neuralgia do trigêmeo: doença é considerada uma das piores dores do mundo


Doença que afeta o nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade da face, a neuralgia do trigêmeo é considerada uma das piores dores do mundo. Apesar de pouco conhecida, é comum no Brasil, com estimativa de 4,5 casos por 100 mil habitantes por ano. Trata-se de um quadro de dor lancinante, muito forte e com sensação de choque na área afetada. Se manifesta por meio de crises intercaladas com períodos de remissão, contudo, ao longo do tempo, os intervalos sem dor podem se tornar cada vez mais raros e a dor mais constante.



Foi o que aconteceu com Eustáquio Custódio Teles, de 73 anos. O aposentado sofre com a dor há mais de 10 anos. Ele conta que as dores começaram de forma repentina e intensa. "A minha está localizada no lado direito do rosto, começando pela orelha e indo até o meio da boca. No início, durava alguns segundos, como se estivessem rasgando a minha gengiva com uma faca. Meu olho começava a incomodar e parecia que ia saltar da minha face e minha língua ficava dormente. Outras vezes também cheguei a permanecer mais de uma hora com crise intensa."

De acordo com o médico neurocirurgião, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Felipe Mendes, além dos sintomas de Eustáquio, o principal sinal da doença é uma dor muito forte em apenas um lado da face e sua localização varia de acordo com a porção do nervo afetada, na região da testa, na região maxilar ou próximo à mandíbula.

"Às vezes, parece que a dor é originada nos dentes, motivo pelo qual muitas pessoas inicialmente procuram a ajuda de um dentista. Pode ser caracterizada como uma sensação de queimação, pontadas ou fincadas, como se alguém estivesse levando um choque elétrico."



Apesar de ser mais comum em mulheres, geralmente a partir dos 50 ou 60 anos, a neuralgia do trigêmeo também atinge homens e outras faixas etárias. Felipe Mendes conta que as principais causas podem ser divididas de duas formas. "A primeira, a forma clássica, geralmente ocorre quando um vaso - artéria ou veia - encosta na emergência do nervo assim que ele sai do tronco encefálico, causando disparos que desencadeiam a sensação de dor. A forma secundária ocorre quando uma lesão como um nódulo ou tumor surge próximo e comprime o nervo ou quando quadros de esclerose múltipla causam um processo de desmielização no nervo."

Alguns atos podem desencadear a dor, como, por exemplo, escovar os dentes, ingerir alimentos quentes ou líquidos gelados e fazer coisas corriqueiras do dia a dia. Ao perceber alguma dessas manifestações, o primeiro passo, segundo o neurocirurgião, é procurar ajuda médica para saber se o paciente possui o diagnóstico da neuralgia do trigêmeo.

"A investigação é feita com base no exame clínico baseado na história que a pessoa nos conta. Pode ser confirmada com auxílio de alguns exames de imagem, principalmente a ressonância magnética, que vai ajudar a determinar a causa dessa neuralgia. Como o diagnóstico é essencialmente clínico, o grande papel do exame de imagem é confirmar se a doença é primária ou secundária. Além disso, existem outras ferramentas, como a eletroneuromiografia, que também pode ajudar em alguns casos duvidosos, porque o quadro típico é muito tranquilo e fácil de ser identificado e diagnosticado."



Leia também: Jovem que sofreu AVCs e se comunicava com os olhos corre meia maratona

Eustáquio relata que, por ser do interior, ao sentir os fortes incômodos, procurou um posto de saúde de sua cidade e foi atendido por um clínico geral. "Contei para o médico o que eu estava sentindo, perguntei qual seria o diagnóstico e ele respondeu que poderiam ser várias coisas. Não foi indicado nada e as dores, infelizmente, não passavam com a dipirona. Nesse meio tempo, procurei também um cirurgião bucomaxilo. Por não ter meus dentes e não usar, nem nunca ter usado nenhuma prótese dentária, achei que teria algo a ver com isso. Foi esse o especialista que me explicou o que era o nervo do trigêmeo e falou para que eu procurasse um neurocirurgião."

De acordo com o médico neurocirurgião, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Felipe Mendes, o principal sinal da doença é uma dor muito forte em apenas um lado da face (foto: Ana Slika/Divulgação)
Apesar de ser difícil dizer sobre cura, devido às recidivas, hoje existem diversos tratamentos que costumam trazer resultados satisfatórios. Inicialmente, o tratamento é feito à base de medicamentos antiepilépticos que melhoram as crises de dor, como foi o prescrito para Eustáquio. Durante quatro anos, ele não teve episódio de crise e, com o passar do tempo, precisou aumentar a medicação e acrescentar mais uma terapia.

De acordo com o especialista, caso não haja melhora com o tratamento inicial, a próxima opção são os tratamentos cirúrgicos. "Hoje estão à disposição técnicas percutâneas que realizam lesões mecânicas ou térmicas em pontos específicos do nervo e também existe a possibilidade de uma microcirurgia para separar o vaso sanguíneo que está causando o conflito com o nervo, além da possibilidade de um tipo de radioterapia para controle da dor em casos selecionados", comenta.

Para Eustáquio, as medicações são eficazes e fundamentais devido à angústia e aflição causadas pela doença. Durante anos, antes do diagnóstico, o aposentado não conseguia colocar uma colher de comida na boca sem sentir um choque na face e, ao tomar água, era impossível engolir o líquido por conta da dor insuportável. Tudo isso sem saber o que realmente estava causando esse mal. Por isso, Eustáquio acredita ser tão importante falar sobre a doença, para que melhore o sofrimento agudo e os pacientes consigam levar, novamente, uma vida normal.