Nos dois últimos anos, os números relacionados ao tratamento oncológico foram impactados pela pandemia de Covid-19. Com quedas expressivas nos procedimentos diagnósticos e nas cirurgias, os casos graves de câncer tendem a aumentar – fato que, infelizmente, também afetará as taxas de mortalidade em nosso país. E, como o câncer é uma doença complexa, muitas vezes agressiva e de rápida progressão, é fundamental chamar a atenção das pessoas para a necessidade de retomar, com uma certa urgência, os cuidados de saúde, incluindo exames de rastreamento e principalmente, a atenção a sinais e sintomas que podem indicar a presença da doença.
Leia Mais
Câncer de mama: 70% dos casos descobertos em estágio avançado, diz estudoBrasil terá mais de 2 milhões de novos casos de cânceres, diz IncaHospital do GRAACC orienta pais a identificar sinais de câncer pediátricoO que não dizer a alguém com câncer e outros conselhos de uma sobreviventeCongresso Brasileiro debate tratamentos e novas drogas contra o câncerMário Penna faz simpósio em BH com foco no paciente com câncerA ANCC 2022 chega presencialmente nas manhãs do domingo (27) em locais como o Complexo Turístico de Ponta Negra, em Manaus (AM); na Rodoviária de Salvador (BA), no ponto turístico Beira Rio em Imperatriz (MA), Portal da Amazônia em Belém (PA), Parque Carlos Raya, em Ribeirão Preto (SP), Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande (MS), em frente ao Lopana, na avenida Beira-Mar em Maceió (AL), Shopping Park Europeu, em Blumenau (SC), Praia do Laranjal, em Pelotas (RS), dois locais em Santa Cruz do Sul (RS) – sendo, pela manhã no Lago Dourado e à tarde na Praça da prefeitura; no Lago Igapó, em Londrina (PR); na Rodoviária do Rio no Rio de Janeiro (RJ), na Praça da Liberdade em Belo Horizonte (MG) e na Terminal Rodoviário Tietê, em São Paulo (SP).
Os locais contarão com a presença de médicos membros da SBCO e acadêmicos das ligas de oncologia local. Haverá espaços customizados da campanha, com orientações sobre exames de rastreamento de câncer como mamografia, colonoscopia, papanicolau, toque prostático e dosagem de PSA e distribuição de materiais educativos sobre prevenção e diagnóstico precoce dos tipos mais incidentes de câncer.
“A ação estará presente em pontos estratégicos, buscando sensibilizar a população de nosso país para a importância de cuidar da saúde. Por conta do atraso de diagnósticos, falta de exames de rotina e consultas médicas durante a pandemia do Covid-19, os pacientes estão chegando especialistas com doenças mais avançadas. É necessário um esforço coletivo de sociedades científicas como a SBCO, imprensa, redes sociais, empresas e agências para promovermos informações de saúde para nossa população”, ressalta o cirurgião oncológico Héber Salvador, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica.
NOVOS CASOS ESTIMADOS PELO INCA PARA 2023-2025
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) anunciou nesta quarta (23) as estimativas de novos casos anuais para o triênio 2023-2025. Os casos anuais de câncer esperados saltaram de 625 mil para 704 mil. A incidência de câncer de mama saltou para 73.610 e os demais mais comuns nas mulheres são colorretal, colo do útero, pulmão e tireóide. Em homens, o mais comum segue sendo o câncer de próstata, que saltou para 71.300 novos casos anuais, seguido por colorretal, pulmão, estômago, cavidade oral e esôfago.
O IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 EM NÚMEROS
Levantamento divulgado pela SBCO quantificou o impacto da pandemia de Covid-19 nas cirurgias de câncer em geral e nos exames de rastreamento populacional de câncer de mama, próstata, colorretal e colo do útero no Sistema Único de Saúde (SUS). A partir da base de dados TABNET/DataSUS, do Ministério da Saúde, a SBCO identificou que, comparado com 2019, foram realizadas 19.111 cirurgias oncológicas a menos em 2020, 15.450 a menos em 2021 e 19.254 a menos em 2022. Os dados de 2022 consideram os números disponíveis até junho, desconsiderando julho e agosto por conta de dados que podem ainda não ter subido nas bases do DataSUS.
Somando o represamento dos anos de 2020 e 2021 e o primeiro semestre de 2022 – tendo como base o ano de 2019 (o último antes da pandemia) - são 53.815 cirurgias oncológicas que deixaram de ser realizadas durante a pandemia no Sistema Único de Saúde. “O maior complicador é que não houve redução do número de casos de câncer. O que ocorreu foi o represamento dessas cirurgias. E muitas, que foram realizadas, chegaram para em fase mais avançada”, alerta o cirurgião oncológico e presidente da SBCO, Héber Salvador.
Até 2040, a demanda por cirurgias relacionadas ao câncer, segundo estudo publicado na revista The Lancet, deve aumentar 52%, chegando a 13,8 milhões de procedimentos nos próximos 20 anos. Para dar conta desse cenário, estima-se que quase 200 mil cirurgiões e 87 mil anestesistas adicionais sejam necessários para cumprir o desafio. Além disso, também será preciso melhorar sistemas de saúde para evitar mortes decorrentes de complicações pós-operatórias.
QUEDA DOS EXAMES DE RASTREAMENTO DE CÂNCER
A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA), anunciada antes da pandemia, era que seriam registrados 626 mil novos casos de câncer por ano no Brasil no triênio 2020/2022. Os dados levantados no DataSUS apontam que, exclusivamente no sistema público, foram 351 mil novos casos diagnosticados em 2020 e 368 mil novos casos em 2021. Antes da pandemia, em 2019, foram 386.485 novos casos.
A SBCO, a partir do TABNET/DataSUS, levantou como a Covid-19 refletiu no rastreamento de câncer. O programa de screening, denominado no Brasil como rastreamento, é o conjunto de métodos aplicados para o diagnóstico precoce do câncer ou descoberta de lesões pré-cancerosas em determinada população que não apresenta sinais ou sintomas de câncer. Como base nisso, a entidade levantou os dados de biópsias de mama e próstata, assim como de colonoscopia e Papanicolau.
Foram realizadas 43.045 biópsias de mama em 2019, caindo para 34.889 em 2020 e uma retomada em 2021 para 41.005, refletindo em 10.186 biópsias a menos nos dois primeiros anos da pandemia. No mesmo período, houve o represamento de 14.123 biópsias de próstata. Essenciais para retirar lesões pré-malignas no intestino grosso, foram 148.111 colonoscopias represadas no período. Já o exame de Papanicolau, por conta de seu volume de procedimento, registrou a mais alarmante: mais de 2,2 milhões de exames a menos em 2020 e 2021.
De acordo com o cirurgião oncológico e presidente da ANCC 2022, Marcos Gonçalves Adriano Jota, a importância da ação nacional está em poder direcionar a informação àqueles que mais precisam saber sobre o câncer e quais exames periódicos realizar: o público-leigo. “Mesmo com novas variantes de Covid-19 e potencial risco de nova onda, a maioria da população está imunizada e mais segura. É nossa missão trabalhar pela retomada dos cuidados e exames periódicos e que a população tenha, em dia, a sua mamografia, toque retal, toque prostático e PSA, colonoscopia, dentre outros exames de rastreamento, assim como os meninos e meninas vacinados contra o vírus HPV”, ressalta.
O QUE A POPULAÇÃO PRECISA SABER PARA PREVENIR OS PRINCIPAIS TIPOS DE CÂNCER
Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Para diferentes tipos de células de um mesmo órgão, pode-se desenvolver determinados tipos de câncer. Suas características e tipos fazem com que o câncer se torne diferente, como a velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes (metástases). Veja os principais tipos de câncer, as chances de tratamento, cuidados e prevenção:
8 dicas para prevenir o câncer
1ª - Não fume!Essa é a regra mais importante para prevenir o câncer, principalmente os de pulmão, cavidade oral, laringe, faringe e esôfago. Ao fumar, são liberadas no ambiente mais de 4.700 substâncias tóxicas e cancerígenas que são inaladas por fumantes e não fumantes. Parar de fumar e de poluir o ambiente é fundamental para a prevenção do câncer.
2ª - Mantenha uma alimentação saudável
Uma ingestão rica em alimentos de origem vegetal, como frutas, legumes, verduras, cereais integrais, feijões e outras leguminosas, e pobre em alimentos ultraprocessados, como aqueles prontos para consumo ou prontos para aquecer e bebidas adoçadas, pode prevenir o câncer. A alimentação deve ser saborosa, respeitar a cultura local, proporcionar prazer e saúde, além de incluir alimentos regionais.
3ª - Evite a ingestão de bebidas alcoólicas
Seu consumo, em qualquer quantidade, contribui para o risco de desenvolver câncer. Além disso, combinar bebidas alcoólicas com o tabaco aumenta a possibilidade do surgimento da doença.
4ª - Evite comer carne processada
Carnes processadas, como presunto, salsicha, linguiça, bacon, salame, mortadela, peito de peru e blanquet de peru, podem aumentar a chance de desenvolver câncer. Os conservantes (como os nitritos e nitratos) podem provocar o surgimento de câncer de intestino (cólon e reto) e o sal pode provocar o de estômago.
5ª - Mantenha o peso corporal adequado
Manter um peso saudável ao longo da vida é uma das formas mais importantes de se proteger contra o câncer. Uma alimentação saudável favorece a manutenção do peso saudável e a recomendação é evitar alimentos ultraprocessados, como aqueles prontos para aquecer ou consumir, e basear a alimentação em alimentos in natura e minimamente processados, como as frutas, legumes, verduras, feijões e outros grãos, sementes e castanhas. A atividade física também contribui para se proteger contra o câncer, além de contribuir para a manutenção do peso corporal saudável. Você pode, por exemplo, caminhar, dançar, trocar o elevador pelas escadas, levar o cachorro para passear, cuidar da casa ou do jardim ou buscar modalidades como a corrida de rua, ginástica, musculação, entre outras. Experimente, ache aquela modalidade de que você goste, aproveite e busque fazer dessas atividades um momento coletivo, prazeroso e divertido, com a família e amigos, ou faça da atividade física um momento introspectivo no qual você se conecta consigo. Enfim, é possível encaixar a atividade física na rotina de cada um, seja através do deslocamento ativo indo ao trabalho ou outras atividades, caminhando ou de bicicleta, são diversas as possibilidades. A criação de ambientes que incentivem a alimentação saudável e ser fisicamente ativo ao longo da vida é fundamental para o controle do câncer.
6ª - Amamente
O aleitamento materno é a primeira ação de alimentação saudável. A amamentação até os dois anos ou mais, sendo exclusiva até os seis meses de vida da criança, protege as mães contra o câncer de mama e as crianças contra a obesidade infantil. A partir de seis meses da criança, deve-se complementar a amamentação conforme a dica sobre alimentação saudável e proteção contra o câncer. Mulheres entre 25 e 64 anos devem fazer o exame preventivo do câncer do colo do útero a cada três anos. As alterações das células do colo do útero são descobertas facilmente no exame preventivo (conhecido também como Papanicolau), e são curáveis na quase totalidade dos casos. Por isso, é importante a realização periódica deste exame. Tão importante quanto fazer o exame é saber o resultado, seguir as orientações médicas e o tratamento indicado.
7º - Vacine-se contra o HPV e a Hepatite B
A vacinação contra o HPV, disponível no SUS, e o exame preventivo (Papanicolau) se complementam como ações de prevenção do câncer do colo do útero. Mesmo as mulheres vacinadas, quando chegarem aos 25 anos, deverão fazer um exame preventivo a cada três anos, pois a vacina não protege contra todos os subtipos do HPV.
O câncer de fígado está relacionado à infecção pelo vírus causador da hepatite B e a vacina é um importante meio de prevenção deste câncer. O Ministério da Saúde disponibiliza, nos postos de saúde do país, a vacina contra esse vírus para pessoas de todas as idades.
8º - Evite a exposição solar