Em algum momento, você certamente se apegou a um animal, mesmo àqueles da ficção. Afinal, eles estão em todos os lugares - se não na sua casa, no lar de algum familiar ou no jardim do vizinho. Na tevê, ao menos três gerações assistiram a desenhos nos quais os bichos eram protagonistas, sem contar os inúmeros filmes da Sessão da Tarde em que eram o braço direito do personagem principal. “Scooby-Doo”, “101 Dálmatas”, “Procurando Nemo”, “Beethoven” e “Marley & Eu” são apenas alguns exemplos.
Na vida real, muitos tutores vivenciam a força dessa amizade e, quando crianças, os benefícios se multiplicam. Pensando nisso, conversamos com tutores que têm histórias bastante especiais com seus amigos de quatro patas, daquelas de encher o peito de satisfação. E mais: preparamos o breve guia da adoção (leia ao lado), para os pais que ainda sentem receio em juntar criançada e pets. Antes, um spoiler: esse companheirismo, apesar das boas bagunças, pode gerar bons frutos para ambos! Então, por que não tentar?
O gato Chuvisco não recebeu esse nome por acaso. Como a chuva de verão, que chega de repente, ele caiu do telhado, inesperadamente, para ganhar uma nova vida na família da auxiliar administrativa Cleidiane Silva Soares, de 38 anos. A adoção do felino, ainda filhote e indefeso, foi motivo de insistência dos pequenos Rafael, de 5 anos, e Clarice Silva Soares, de 10.
A resistência da mãe em pegar um pet para cuidar se deu pela experiência passada, com a cadela Malu, que, há cinco anos, fugiu ao ser adotada, não deixando qualquer rastro aos tutores. Com Chuvisco seria diferente, garantiram as crianças.
Para elas, então, Cleidiane destinou funções: colocar comida e água para o peludo todos os dias, limpar sua caixa de areia e cuidar do cantinho em que dorme. O apego foi tanto que, quando Rafael está com o felino no colo, Clarice sente ciúmes. E vice-versa. “Apesar dos conflitos, é maravilhoso ver o carinho e o cuidado da criançada com ele, que faz festa quando chegamos em casa.”
No quintal, não falta diversão. Em um carro de brinquedo com uma cordinha, gostam de colocá-lo para “passear”, além dos passatempos com bolas de papel e brinquedos com barulho. Para o caçula, o gato é seu “amigãozão”.
Mesmo sem a intenção de adotar outro pet posteriormente, a tutora reconhece os benefícios dessa amizade, dado que tem percebido os pequenos mais responsáveis com suas respectivas obrigações. “É lindo ver o afeto que têm construído nos últimos meses, fico orgulhosa”, comenta.
RESPEITO AOS PELUDOS
Para que as crianças tenham uma interação saudável com seus animais, é preciso que os pais conheçam bem a raça, o tamanho e a espécie, antes de adquiri-los, para orientar os filhos da melhor forma. No caso de cães e gatos, os adultos devem ensinar sobre limites e responsabilidades, como evitar puxões de orelha, de cauda e de pelo; oferecer carinho quando o bichano se sentir à vontade; e ensinar que eles gostam de ter espaço e que nem todo pet gosta de colo e abraço.
Para que as crianças tenham uma interação saudável com seus animais, é preciso que os pais conheçam bem a raça, o tamanho e a espécie, antes de adquiri-los, para orientar os filhos da melhor forma. No caso de cães e gatos, os adultos devem ensinar sobre limites e responsabilidades, como evitar puxões de orelha, de cauda e de pelo; oferecer carinho quando o bichano se sentir à vontade; e ensinar que eles gostam de ter espaço e que nem todo pet gosta de colo e abraço.
Vale lembrar que existem animais que se sentem ameaçados ou estressados com os pequenos. Nessas situações, eles demonstram insegurança de inúmeras formas (colocar a cauda entre as pernas, desviar o olhar, abaixar a orelha, bocejar constante, procurar local para fuga, sentir tremores etc). Então, esteja atento aos sinais e promova essa interação com cautela.
Afeto com reflexos no futuro
Os felinos, para a jovem Gabriela Matos, de 27 anos, têm um ar de mistério que sempre a intrigou. Aliado ao fato de serem caseiros e menos enérgicos que os cães, tornaram-se seus animais preferidos, além de fonte de desejo. Em 2005, o sonho começou a se concretizar com a chegada de Pirata, um gato nascido em meio selvagem, conhecido como feral.
“Começou a se concretizar”, porque a experiência não foi como o esperado. O peludo não se adaptou ao lar e, ao ser devolvido ao abrigo, fugiu. “Não tínhamos experiência alguma com gatos, na época, e eu o quis justamente por ele não ter um olho e por saber que sua adoção seria pouco considerada por outros tutores”, recorda.
Apesar da decepção, ela não desistiu da ideia e, pouco tempo depois, adotou a persa Samara e a vira-lata Serena, suas parceiras por 17 anos, idade em que, já bastante idosas, se foram. Os aprendizados e a saudade, entretanto, são eternos. Sentimentos como responsabilidade e carinho só cresceram ao longo dos anos de convivência.
Companheiras fiéis, as felinas estavam sempre por perto, na hora de dormir, nos estudos e, claro, nas brincadeiras. Gabriela reconhece, porém, que a maior parte dos cuidados ficavam por conta da mãe, também tutora de outra gata, chamada Sabrina, ainda viva. Já adulta, porém, assumiu mais responsabilidades, dado que as peludas, adoecidas, precisavam de auxílio para quase tudo.
“Aprendi a valorizar amigos que também gostam de animais. Nos melhores e piores momentos da minha infância, elas estiveram lá comigo. E melhor, faziam sempre minha mãe sorrir… Isso não tem preço. Aprendi, principalmente, que eles vivem pouco demais para deixarem de existir neste plano sem saber o que é amor”, conta.
Nesse contexto, desenvolveu grande interesse pela geriatria animal e, hoje, além de protetora, ela tem um hotel para gatos, o The Potatos Pet Sitter (@thepotatos_pet), ao lado do sócio e ex-marido. O local, há seis anos, sempre abriga, no mínimo, 20 felinos, mais os cinco do qual é tutora: Kuriboh, Branquinho, Aurora, Pulga e Vivi.
Para ela, a escolha da profissão está totalmente vinculada a esse afeto que desenvolveu ainda criança. “Fiz daquilo que descobri ser talento algo rentável. Vivo para servir e sirvo para viver por eles”, frisa. E, como em todo trabalho, nem tudo são flores, a empreendedora já presenciou situações lamentáveis, nas quais tutores se desfizeram do pet – muitas vezes doente, idoso ou prenhe – abandonando-o em sua casa para adoção, após cinco ou mesmo 10 anos de convivência.
Entre tantas histórias, ela prefere lembrar-se das mais alegres, combustíveis para sua atuação. Recorda-se, por exemplo, de um episódio marcante, no qual conheceu um casal que precisava de doação de sangue, do tipo B, bastante raro, para sua gatinha Felv+. No The Potatos Pet Sitter, Gabriela tinha um possível doador. Mediação feita com a tutora do felino, a transfusão ocorreu com sucesso.
“O casal ficou tão agradecido por eu ter ajudado a salvar a vida de sua pequena que me ofereceu uma inesperada recompensa em dinheiro. Depois de tantas despesas com o tratamento, ainda agradeceram dessa forma. Fiquei muito emocionada, pois só queria ajudar. Realmente, quando há amor pelos bichos, há também dedicação e cuidado”, conclui.
Qual raça é a ideal?
Afinal, existem espécies ou raças que melhor se adaptam à energia da garotada? Todas têm algo a ensinar, tanto aos pais quanto aos pequenos. No entanto, na hora de escolher um animal de estimação, os tutores devem avaliar qual tipo de interação procuram e qual é o estilo de vida da família.
Espécies diferentes agem de forma distinta e têm necessidades díspares. Cães e gatos precisam de maior atenção e interação, gostam de receber carinho, de brincar e de passear. Já um peixe pode estimular a observação, a criatividade, a responsabilidade e demanda menos atenção do que os peludos.
No que tange à idade do pet, é preciso considerar que crianças, normalmente, têm muita energia e gostam de uma interação maior com os animais. Logo, aqueles mais jovens são indicados. Mas atenção: bichos com mais energia, consequentemente, demandam mais passeios longos, exercícios, interação, enriquecimento ambiental etc. Assim, vale escolher com responsabilidade.