Considerados o futuro do planeta, os jovens estão cada vez mais engajados em pautas ligadas ao meio ambiente e a favor de bandeiras sustentáveis. O protagonismo cresceu à medida em que são sentidos os efeitos das mudanças climáticas. Um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontou que mais de 40 milhões de crianças e adolescentes do Brasil estão expostos a um ou mais riscos ambientais agravados pelo aquecimento global.
O ativista indígena João Vitor Pankararu, de 25 anos, é um dos jovens que lutam por um mundo mais ecossistêmico. Integrante da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), ele teve a oportunidade de participar da COP 27 — conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), no Egito.
"Foi muito significativo para mim, enquanto jovem, e enquanto morador de uma região do Nordeste, que tem um bioma, a caatinga — muito pouco falado. Levar a esses espaços, esses diferentes contextos, essas diferentes realidades é muito importante para que as pessoas do mundo conheçam e tomem ciência de que existem muitos agentes fazendo essa transformação e que nós, jovens, estamos envolvidos nessa grande proteção ao meio ambiente", disse.
Pankararu também esteve presente na Semana do Clima em Nova York, Estados Unidos, em setembro. No Egito, teve a oportunidade de trocar experiências com outros jovens engajados em pautas ambientais. "Ações como reflorestamento, plantio de mudas, monitoramento dos territórios indígenas, tudo isso são práticas que nos aproximam da terra e a gente consegue ouvir os sinais que a terra tem dado", apontou.
"A gente está diretamente nos territórios, entendendo como as coisas têm acontecido, como a Terra tem se comportado e estamos tentando difundir esse recado, que a Terra precisa de ajuda'', destacou Pankararu.
Na mesma direção, a jovem indígena Bruna Flávia Tabajara, de 23 anos, moradora da Aldeia Vitória, em João Pessoa (PB), ressaltou que as pautas verdes estão cada vez mais presentes nos debates de sua faixa etária. Ela também destacou as discussões sobre os povos originários.
"Cuidar do clima e do meio ambiente é cuidar do nosso futuro e isso é muito importante. Quando se trata de pautas ambientais, a população, seja indígena ou não indígena, tem que agir conjuntamente. Os indígenas são mais atingidos, porque o meio ambiente está sendo degradado e nos atinge de forma direta", observou.
Bruna Tabajara ressaltou que o reflorestamento, a plantação de mudas e o monitoramento dos territórios indígenas são algumas das ações que ajudam na preservação da biodiversidade do país. "Temos realizado uma ação de reflorestamento na minha aldeia com o apoio do instituto Hans Haller Stiftung — fundação de apoio a crianças e adolescentes do Nordeste. Eles fizeram a doação de mudas de árvores e a ação foi essencial para cuidar e olhar para o nosso futuro", afirmou.
Clima extremo Segundo dados do relatório “Crianças, Adolescentes e Mudanças Climáticas no Brasil”, publicado em novembro deste ano pelo Unicef, mais de 40 milhões de crianças e adolescentes estão expostas a um ou mais riscos ambientais no Brasil. O estudo apontou que faltam no país políticas públicas de combate à crise climática que priorizem as populações mais vulneráveis.
Crianças, principalmente as em situação de vulnerabilidade, como as negras, pobres e indígenas, são as mais sujeitas aos efeitos ambientais. Os impactos seriam desde a frequência de chuvas até a amplitude térmica e as ondas de calor; da quantidade e da intensidade de eventos extremos, como ciclones e queimadas, até o prolongamento de secas extremas. Todos esses fenômenos afetam a vida humana de diversas formas, colocando em risco o bem-estar, o desenvolvimento e a própria sobrevivência das pessoas.
De acordo com o estudo “Índice de Risco Climático das Crianças”, do Unicef, em todo o mundo passa de 2 bilhões o número de crianças expostas a mais de um efeito negativo, choque ou estresse climático. O levantamento indicou também que mais de 8,6 milhões de meninas e meninos brasileiros podem sofrer com a falta de água, e mais de 7,3 milhões estão expostos ao risco de enchentes de rios.
A antropóloga e indigenista Amanda Signori indica que a ecologia é um assunto essencial para a sobrevivência dos povos originários. Ela destacou que a escalada do desmatamento, o avanço do garimpo e outras práticas de destruição do meio ambiente afetam diretamente a vida dos indígenas.
"Há muito tempo os povos originários (indígenas, quilombolas, ribeirinhos) nos informam como preservar a natureza e todas as formas de vida existentes. E se são eles hoje os mais afetados, é justamente porque não têm essa separação natureza e cultura. Ou seja, os seus modos de vida estão diretamente associados e interligados à preservação da natureza", explicou.
Na avaliação da antropóloga, os jovens devem estar inseridos nos debates socioambientais. "É importante que o tema seja abordado nas escolas, mas considerando sempre a relação do movimento ambientalista com o movimento indígena. Os jovens precisam ser estimulados cada vez mais a pensar nisso", disse.
*Estagiária sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza