Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos, juntamente com colegas da University College London, no Reino Unido, estão sugerindo mudanças no protocolo de diagnóstico da sarcopenia, doença que tem como característica a perda gradual de massa magra e músculo, que acontece ao longo do processo do envelhecimento, principalmente após os 60 anos e, tem prevalência no mundo girando em torno de 5% a 13%. Quanto mais idoso, maior esse número. Tanto é que esse percentual para pacientes com mais de 80 anos pode chegar a 50%.
Para identificar a doença, é realizada a medida da força das mãos, através de um aparelho chamado dinamômetro. A ideia do estudo é aumentar o valor mínimo de força palmar que é considerado normal para diagnosticar a doença de forma precoce, diminuindo, assim, o risco de morte.
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Ela pode ser classificada como primária e acontece a partir do processo de envelhecimento, e secundária, que tem como causa uma má nutrição que, somada ao envelhecimento, vai aumentar a velocidade da perda muscular. O sedentarismo ou falta de exercício físico, alguns medicamentos, doenças que causem hospitalização e que restrinjam o movimento do paciente, alguns tipos de câncer, problemas renais que deixem o paciente mais frágil, problemas neurológicos e até mesmo problemas cardíacos, se limitarem a funcionalidade e a capacidade do paciente de fazer exercícios, são outras causas.
A geriatra ressalta que a perda progressiva de massa magra (muscular) típica do processo de envelhecimento, quando encontra fatores que a favoreçam, acaba gerando a diminuição acelerada da força e da função muscular.
"Esses sintomas acabam aumentando o risco de queda, favorecem a chance de fratura e, caso isso aconteça, gera uma limitação funcional ou até mesmo um declínio funcional. Ao perder função, o idoso fica mais frágil e dependente, podendo, em casos extremos, chegar a óbito."
O médico ortopedista especializado em coluna vertebral e diretor do NOT - Núcleo de Ortopedia e Traumatologia, Daniel Oliveira, pontua que os principais sintomas que devem ser levados em consideração quando o assunto é sarcopenia são: fraqueza muscular, dificuldade em realizar atividades que antes eram consideradas fáceis no dia a dia, tais como subir escadas, carregar objetos, bolsas e sacolas, desequilíbrio ao caminhar, principalmente em terrenos com chão irregular e queda persistente.
O diagnóstico ainda não é um consenso. O ortopedista afirma que essa análise pode ser feita por médicos como clínico geral, geriatra ou ortopedista, através de um exame físico, histórico do paciente, investigação sobre idade, nível de atividades e de dependência, comorbidades, hábitos, medicações e exames de imagem, para que o profissional consiga mensurar o quão de perda de massa muscular o paciente perdeu. "Também é feito um teste da velocidade da marcha e o DEXA, exame parecido com o de densidade óssea, mas que permite a avaliação da massa óssea, muscular e adiposa."
Segundo a geriatra, existem vários estudos sendo realizados e cada país/região adota alguns parâmetros. "No Brasil, iniciamos com a aplicação de um questionário (perguntas) e a medida da circunferência da panturrilha. Através da pontuação obtida rastreamos os pacientes com maior chance de ter a doença. Esse rastreio seria parecido com fazer a mamografia para detectar precocemente o câncer de mama. Se o rastreio for positivo (depende da pontuação alcançada com as respostas), nós passamos para a medição da força de preensão palmar através de um dinamômetro (aparelho que mede força da mão) ou fazemos um teste de levantar e sentar da cadeira. Quando qualquer um destes dois últimos testes está alterado, já podemos dizer que temos uma sarcopenia provável", ensina Simone.
O tratamento, conforme explica Daniel, é feito de maneira multidisciplinar com ortopedistas, fisiatras, geriatras, fisioterapeutas e nutricionistas e vai depender do estágio da doença. "O objetivo é promover mudanças no estilo de vida do paciente, dando a ele mais qualidade de vida. São realizados exercícios físicos, dieta balanceada com inclusão de proteínas (carnes, aves e suplementação) e reposição de vitaminas, se necessário", pontua.
A geriatra recomenda uma boa ingestão de proteínas que podem ser encontradas na carne, no leite e derivados, e também no ovo. "Isso já é um grande começo para mantermos nosso músculo bem. Outros alimentos também possuem proteína, mas o aproveitamento costuma ser menor. Quando o paciente é vegetariano ou vegano, por exemplo, precisa procurar outras fontes de proteína para atingir o valor mínimo necessário por dia de ingestão. Muitas vezes é necessário recorrer a nutricionistas para fazer o ajuste/cálculo da quantidade desses alimentos e atingir a quantidade de proteína necessária", sinaliza.
Além disso, faz-se necessário um acompanhamento de perto com um educador físico que tenha conhecimento sobre a patologia durante a realização de exercícios, já que o paciente com sarcopenia corre o risco de lesionar e desequilibrar com mais facilidade.
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Segundo o ortopedista, uma queda favorece fraturas e, pela necessidade de permanecer em repouso, aumenta também a atrofia muscular nesses pacientes com sarcopenia e muitos, infelizmente, após uma queda mais séria, podem não voltar a andar. "Além das limitações para realizar as atividades do dia a dia, a dependência de cuidadores e familiares se torna maior e pode levar a casos graves de depressão e sofrimento mental", finaliza.
Sarcopenia secundária
O empresário Thiago Salvador de Oliveira, de 42 anos, conta que sua mãe, Denise Drummond Salvador, de 62 anos, já falecida, deu início ao processo de sarcopenia em outubro de 2020, seis meses após ser diagnosticada com câncer.
Ele acredita que a evolução do quadro de sarcopenia em sua mãe se deu tanto pelo tumor quanto pelo tratamento realizado para a doença.
"Os primeiros sintomas observados na época foram cansaço precoce em tarefas básicas como subir escadas e carregar compras. Com o passar do tempo e a evolução dos sintomas, o fato de levantar de uma cadeira ou até mesmo da cama somente era possível com um esforço muito grande."
Além do prejuízo prático de não conseguir fazer tarefas simples como se movimentar dentro do seu próprio lar, Thiago fala do abalo emocional constante por conta da dependência de terceiros, que fez com que sua mãe se visse em uma situação que jamais imaginaria estar.
"Nesse período, nós tivemos acompanhamento constante de atendimento domiciliar de profissionais de fisioterapia, técnicos de enfermagem e enfermeiros, médicos especialistas, nutricionista e psicólogos, que fizeram com que o processo de toda doença que minha mãe passou fosse menos doloroso, física e psicologicamente. Durante a fisioterapia, um ponto fundamental foi o trabalho de movimentação dos músculos e um trabalho de controle respiratório, esse último servia tanto para função da respiração como para trazer calma e tranquilidade para ela, quase como uma meditação."
O cuidado com o corpo e o zelo pela saúde mental e corporal, de acordo com o empresário, são fundamentais para enfrentar de forma digna, e com melhores chances de vitória, os desafios que a terceira idade traz. Essas, segundo ele, foram as lições deixadas por Denise.