Maria Laura Giuliani - Correio Braziliense*
Os tradicionais almoços entre amigos e família podem trazer mais benefícios do que o imaginado. Uma pesquisa divulgada pela Associação Americana do Coração (AHA, pela sigla em inglês) indica que realizar refeições coletivas é uma ferramenta que ajuda a gerenciar o estresse, com benefícios diversos à saúde. "Compartilhar esses momentos é uma ótima maneira de reduzir o estresse, aumentar a autoestima e melhorar a conexão social, principalmente para as crianças", enfatiza, em nota, Erin Michos, cardiologista da AHA.
Para chegar à conclusão, os investigadores, da Wakefield Research, ouviram mil adultos, moradores de cidades estadunidenses, entre 14 e 20 de setembro. Dos participantes, 65% disseram estar, no momento da entrevista, ao menos um pouco estressados e mais de um quarto, 27%, relataram estar muito ou extremamente estressados. A análise das respostas mostrou que 84% dos entrevistados gostariam de fazer refeições coletivas com mais frequência, já que, no geral, comiam sozinhos cerca de metade do tempo.
Além disso, 91% dos pais ouvidos alegaram que suas famílias apresentavam menos casos de estresse quando se alimentavam juntos. "Durante esse momento, a pessoa pode conseguir se desconectar do estresse decorrente do trabalho ou demais tarefas cansativas", analisa Sofia Sebben, psicóloga ligada à Associação Brasileira de Psicologia do Desenvolvimento (ABPD).
De fato, o estudo mostrou que 54% dos entrevistados avaliaram que essa experiência os ajuda a desacelerar e dar um intervalo. Além disso, 69% dos que trabalhavam em período integral ou meio período relataram que se sentiriam menos estressados no trabalho se tivessem mais tempo para fazer uma pausa e compartilhar uma refeição com um colega.
Na avaliação da psicóloga brasileira, as refeições seriam intervalos de pausa e autocuidado. "É a hora de se alimentar, de cuidar do próprio corpo", afirma. Michos chama a atenção para os efeitos mais críticos de estresse, como o aumento do risco de doenças cardíacas e derrames. "Por isso, é importante que as pessoas encontrem maneiras de reduzir e controlá-lo o máximo e o mais rápido possível", alerta a cardiologista da AHA.
Presidente da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), Ana Maria Rossi afirma que, por si só, o fato de as pessoas realizarem refeições juntas não garante que haverá alterações nos níveis de estresse. A psicóloga lembra que a socialização é importante desde que seja prazerosa e agradável. "Vale ressaltar que precisam ser relações gratificantes, onde não há brigas nem conflitos, sejam elas familiares ou não. Ter esses elos de confidencialidade, de diálogo, desabafo e não julgamento são indispensáveis", afirma.
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Segundo Rossi, pesquisas recentes indicam que indivíduos que têm ao menos três conexões sociais são mais saudáveis, em comparação àqueles que vivem isolados. "As relações são importantes porque nós, humanos, precisamos nos sentir aceitos e acolhidos, isto é, pertencer a um grupo", afirma.
Melhores hábitos
A pesquisa americana indica outra proteção à saúde ligada às refeições com pessoas próximas: a possibilidade de se alimentar melhor. Dos entrevistados, 59% disseram que tendem a fazer escolhas mais saudáveis quando estão em grupo. Além disso, 67% disseram que essa experiência os ajuda a lembrar da importância das conexões sociais.
Michos reconhece que não é tão simples reunir a família e amigos com frequência. Entretanto, a cardiologista salienta que, como em qualquer mudança de hábitos, passos iniciais e pequenos são importantes para dar a largada. "Estabeleça uma meta de reunir amigos, familiares ou colegas de trabalho para mais uma refeição a cada semana. Se você não puder se reunir pessoalmente, pense em como pode compartilhar uma refeição por telefone ou computador", sugere.
No caso de famílias com crianças, sentar-se à mesa para a refeição, segundo Sebben, pode ser uma significativa oportunidade de maior proximidade e interação. "É um momento de união, já que, em outros períodos do dia, as crianças estão na escola e os pais trabalhando", exemplifica. A psicóloga enfatiza que incentivar esses rituais de interação auxilia na melhora da qualidade de vida e da saúde emocional. "Muitas vezes, quando podemos trocar ideias e compartilhar experiências, é possível que reflitamos também sobre os nossos hábitos alimentares e o valor desses momentos em si", explica.
*Estagiária sob a supervisão de Carmen Souza
Não é só vilão
"É comum as pessoas se referirem ao estresse apenas como um vilão. Sim, ele pode ser nocivo e um grande gatilho para doenças, assim como pode ser um incentivador dos nossos sucessos. Sem o estresse, não existe vida. É uma promoção desejada no trabalho que causa um estresse positivo, é uma demissão que causa um estresse negativo, por exemplo. Mas independentemente dessas situações marcantes, existe a rotina. É a fila no banco, é a lotação que não passa, a falta de cordialidade do vizinho, os problemas financeiros. Ele torna-se preocupante quando aparecem os sintomas. Sempre que houver um sintoma físico, é importante que a pessoa procure o seu médico, tal como uma dor de cabeça incomum e frequente que atrapalha as atividades cotidianas e que não está relacionada a outras doenças. Frequência, intensidade e duração desses sintomas são grandes indicadores de que o estresse está atingindo a saúde e bem-estar. O estresse não é uma doença, é uma adaptação requerida ao indivíduo, podendo ser benéfico ou maléfico."
Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR)