A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no dia 02/01 o primeiro medicamento injetável de uso semanal para sobrepeso e obesidade, o Wegovy (semaglutida 2,4mg). O uso da injeção promoveu uma redução média de 17% do peso corporal nos pacientes, segundo o estudo científico.
O valor de tabela do Wegovy nos Estados Unidos, onde o medicamento é comercializado desde 2021 e foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), é de US$ 1.349, cerca de R$ 7 mil.
Ainda não há uma data para que o Wegovy (semaglutida 2,4mg) esteja disponível nas farmácias. A estimativa é de que possa ser vendido a partir do segundo semestre. A questão é que, depois da análise de conformidade pela Anvisa, deve-se aguardar a finalização de outros processos, como a definição de preços pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos.
O médico Frederico Anselmo, endocrinologista do Hospital Vila da Serra, explica que a caneta de semaglutida age de duas formas: "Atua diretamente no trato gastrointestinal, especialmente no estômago, aumentando o tempo de esvaziamento gástrico. O que isso significa? O alimento permanece maior tempo no estômago e isso faz com que a pessoa se sinta saciada mais precocemente e ingira uma menor quantidade de alimento. A segunda forma de ação é no Sistema Nervoso Central, usando os circuitos neuronais que controlam o apetite, diminuindo o apetite e a fome e, consequentemente, diminuindo a ingestão de alimento pelas pessoas que fazem uso dessa medicação".
O endocrinologista enfatiza que, desde a descoberta deste grupo de medicação, chamado agonistas do GLP1 (a semaglutida é um análogo ao hormônio GLP-1), inicialmente criado para tratar pacientes com diabetes tipo 2, observou-se que pacientes que fizeram uso dessa medicação também evoluiam com uma perda significativa de peso.
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"A semaglutida é uma das mais novas drogas desta classe, presentes no Brasil, e ela se mostrou eficaz e potente na perda de peso daqueles pacientes inicialmente diabéticos tipo 2 que usavam a medicação. Então, foram feitos estudos tanto para comprovar a eficácia da droga quanto a segurança. Os estudos foram finalizados, analisados pela Anvisa e chegou-se a conclusão que realmente é uma droga potente e com uma segurança adequada para que possamos utilizar entre os obesos, mesmo que eles não tenham diabetes tipo 2", destaca Frederico Anselmo.
Riscos leves e intensos
Frederico Anselmo avisa que, quanto aos perigos e efeitos colaterais, é importante lembrar que toda medicação tem potencial maléfico intrínseco a ela. "Nenhuma medicação é isenta de efeitos colaterais. No caso semaglutida, podemos ter efeitos leves, como reações locais de irritação no lugar da aplicação, ou mais intensos, como alteração do hábito intestinal, tanto casos de diarreia quanto de constipação intestinal".
O médico endocrinologista alerta ainda para riscos mais graves: "Podemos ter a piora dos quadros de refluxo gastroensofágico. Então, aquelas pessoas que já tenham essa doença, seria uma contra-indicação para o uso dessa medicação. E no pior das evoluções que a literatura relata, numa incidência baixa, pode ocorrer o desenvolvimento de um quadro de pancreatite, que é a inflamação do pâncreas. A pancreatite pode ser leve, mas também extremamente grave, inclusive, com desfecho fatal. Então, é importante que o paciente consulte um médico para ser orientado sobre as reações que possam ocorrer e como abordá-las para tentar evitar os malefícios que essa droga pode causar".
O médico endocrinologista alerta ainda para riscos mais graves: "Podemos ter a piora dos quadros de refluxo gastroensofágico. Então, aquelas pessoas que já tenham essa doença, seria uma contra-indicação para o uso dessa medicação. E no pior das evoluções que a literatura relata, numa incidência baixa, pode ocorrer o desenvolvimento de um quadro de pancreatite, que é a inflamação do pâncreas. A pancreatite pode ser leve, mas também extremamente grave, inclusive, com desfecho fatal. Então, é importante que o paciente consulte um médico para ser orientado sobre as reações que possam ocorrer e como abordá-las para tentar evitar os malefícios que essa droga pode causar".
Nota técnica da Anvisa
Em nota técnica, a Anvisa informa que o Wegovy (semaglutida 2,4mg) é indicado para adultos com índice de massa corporal (IMC) acima de 30 (o que caracteriza obesidade) ou 27 (sobrepeso). Contudo, neste caso, apenas para os pacientes que têm pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso, como pré-diabetes, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular.
O estudo
A Novo Nordisk destaca que Wegovy foi o primeiro produto biológico aprovado pela Anvisa pelo mecanismo de reliance, que dispõe sobre o aproveitamento de análise feita por Autoridade Reguladora Estrangeira Equivalente (AREE), neste caso a agência europeia (EMA).O aval foi baseado nos resultados do programa de ensaios clínicos STEP (Semaglutide Treatment Effect in People with Obesity), onde foi revelado que pacientes que utilizaram Wegovy (semaglutida 2,4mg) conseguiram uma perda de peso corporal média de 17%, em 68 semanas, contra 2,4% do grupo placebo.
Além disso, um em cada três pacientes perdeu 20% de seu peso corporal e 83,5% dos pacientes alcançaram uma redução de 5% ou mais com a utilização do Wegovy (semaglutida 2,4mg) vs. 31,1% para placebo.
Outro destaque dos estudos STEP é a melhora dos índices cardiometabólicos, como redução da circunferência abdominal, hemoglobina glicada, triglicérides e pressão arterial.
Gravidade da obesidade no mundo e no Brasil
Segundo dados da World Obesity Federation, existem 764 milhões de pessoas vivendo com obesidade no mundo. O documento aponta que, até 2030, uma em cada 5 mulheres e um em cada 7 homens terão obesidade, chegando a 1 bilhão de pessoas com obesidade globalmente.
No Brasil, a expectativa é que 29 milhões de mulheres, 21 milhões de homens e 7,7 milhões de crianças tenham obesidade até 2030, representando cerca de 30% da população. Atualmente, estima-se que aproximadamente 100 milhões de pessoas tenham sobrepeso e 41 milhões convivam com a obesidade no país.
No Brasil, a expectativa é que 29 milhões de mulheres, 21 milhões de homens e 7,7 milhões de crianças tenham obesidade até 2030, representando cerca de 30% da população. Atualmente, estima-se que aproximadamente 100 milhões de pessoas tenham sobrepeso e 41 milhões convivam com a obesidade no país.
"A aprovação de Wegovy no Brasil representa importante conquista para as pessoas que convivem com a obesidade e excesso de peso. Trata-se de uma doença crônica, progressiva e multifatorial e que exige uma série de cuidados durante todo o tratamento. Nesse sentido, a Novo Nordisk fica extremamente satisfeita em oferecer para esses pacientes o melhor e mais seguro medicamento já produzido e que é capaz de melhorar a qualidade de vida desses pacientes”, explica a diretora médica da Novo Nordisk, Priscilla Mattar.
“Com essa aprovação, entramos oficialmente numa nova era no tratamento da obesidade, com resultados de redução de peso nunca antes vistos”, reforça Bruno Halpern, médico endocrinologista e presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
Segundo a Novo Nordisk , vale registrar, quanto a segurança e tolerabilidade, que a semaglutida já está disponível no mercado brasileiro desde 2018, quando foi liberada pela Anvisa para o tratamento do diabetes tipo 2 com o lançamento de Ozempic. E já no início de 2022, houve também o lançamento de sua versão oral, Rybelsus, também para o tratamento do diabetes tipo 2.
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