O processo de redução de peso muitas vezes envolve também demonstrações de afeto. Para além dos clichês, a nutricionista Mônica Souza conseguiu estabelecer com a sogra, a dona de casa Ana Regina Souza, de 80 anos, uma relação amorosa de cuidados que envolvem seus conhecimentos profissionais.
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Mônica diz que Ana Regina sempre teve que lidar com sobrepeso. Entretanto, a partir dos 50 anos, a obesidade tornou-se uma realidade para a dona de casa. Mas foi aos 64 anos, com 103 quilos distribuídos em 1,52m, que Ana Regina teve o “alarme disparado” com uma internação por conta da glicemia alta e de um pequeno infarto, conta a nutricionista.
Diante da lista de comorbidades (hipertensão, diabetes, entre outras), que crescia em função da obesidade, não teve escapatória: Ana Regina contou com a ajuda da nora e dos filhos para aderir a uma dieta de reeducação alimentar. A pandemia veio facilitar a luta da dona de casa contra o excesso de peso. Como ela faz parte de grupo de risco para o coronavírus, a idosa ficou em quarentena em casa, e a compra em supermercado ficou por conta da família.
O resultado dessa caminhada, que começou com um susto e uma cardiopatia, hoje se revela em 20 quilos a menos, taxa de glicemia controlada e outros ganhos de saúde, que só a alimentação saudável proporciona. “Ela é outra pessoa. A mobilidade melhorou. A marcha era lenta e hoje ela se levanta sem a ajuda de bengala”, comemora Mônica.
A professora de design aposentada Afrodite Aguiar Pinter, de 66 anos, gosta de uma boa prosa. Ela conta com riqueza de detalhes quando a perda de peso virou um problema em sua vida. Seu sofrimento teve início depois da menopausa, por volta dos 51 anos, quando ela passou a ter que conviver com mais um fantasma em sua vida.
ANSIEDADE
Desde a juventude, a obesidade sempre a assombrou por conta de exemplos em família do lado materno. Por conta de uma ansiedade que ela controla por estar medicada, Afrodite detalha que ganhou 8 quilos após a menopausa, que, ela admite, custou a perder. “Eu tenho ‘pé chato’ e sentia muita dor nos pés por causa desses quilos a mais.”
Afrodite diz que a vida a ensinou a ser observadora, que após a aposentadoria deu ênfase a suas habilidades manuais e tornou-se ceramista. Sempre foi seu propósito de vida ter “um envelhecimento bem normal”.
A ceramista conta que buscou também ajuda de profissionais da área de saúde para se cuidar melhor. “Com um tratamento psicológico a me observar melhor, aprendi que, às vezes, como e não percebo que estou comendo”, relata. A saída para tamanha desatenção, ela diz que conseguiu sanar por meio da terapia. Entre as técnicas desenvolvidas pela terapia cognitivo-comportamental (TCC) está o recurso de anotar o que faz. Foi então que ela constatou que estava comendo mais e, por isso, ganhando peso.
Hoje, ela afirma que já aprendeu a driblar os excessos, chegando ao ponto de saber dosar sem sacrifício a quantidade e a qualidade do que come para se sentir saciada e alimentada.
“Engordar tem a ver com fazer coisas que você não suporta. É estar infeliz com o que está vivendo e começar a comer sem ver”, avalia.Motivação é “treinável”
O psiquiatra e especialista em TCC, Rodrigo de Almeida Ferreira, de 38 anos, garante que a motivação é algo “treinável”. Por isso, ele sugere, em primeiro lugar, que a pessoa deve identificar o(s) motivo(s) para o emagrecimento. No caso de um idoso, por exemplo, pode estar relacionado à vitalidade para brincar com o neto. Comer sentado, sem distrações, é outro exemplo. Reconhecer que tipo de pensamento você alimenta é outra hipótese, que pode ser confirmada, segundo o psiquiatra, ao reconhecer “pensamentos sabotadores”.
Para um idoso que sofre com o sobrepeso ou obesidade, mais uma dica do especialista: que tal intervir no ambiente por meio do padrão de oferta dos alimentos? Para todos com dificuldades de perder peso, o médico orienta a seus pacientes, por meio das técnicas desenvolvidas pela TCC, a saciedade quando se está com fome. Reconhecer o “comer emocional” também é importante.
Ele chama a atenção para a perda de massa magra em dietas destinadas a idosos, em especial, aqueles que não têm a ajuda de profissionais para perder peso.
Rodrigo destaca que é sempre recomendável que os exercícios físicos envolvam treinos de força, que nada mais é que o fortalecimento da musculatura, a chamada massa magra, tão comum para pessoas nessa faixa etária – acima dos 60 anos. Essa perda implica redução de mobilidade, autonomia e independência.
O psiquiatra também aborda alguns mitos, em se tratando do peso na terceira idade. O primeiro é que idoso com sobrepeso é menos saudável. Nem sempre. Outro mito é que idoso com obesidade precisa perder peso a qualquer custo. Dentro dessa perspectiva errônea, ele adverte, é necessário outro alerta: o uso indiscriminado de medicamentos para emagrecer.
Rodrigo não é contra o recurso, mas desde que indicado por especialistas, fato que nem sempre acontece, em função da facilidade com que remédios sem prescrição médica podem ser vendidos em farmácias e pela internet .
Ele explica ainda que o peso ideal é aquele que a pessoa está saudável, sem risco maior para doenças, que não compromete a qualidade de vida e sem risco de mortalidade.
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