Essa é uma época em que tudo parece estar à flor da pele. É cada vez mais recorrente que as pessoas experimentem situações que carregam altas cargas de estresse, o que muitas vezes de- sencadeia crises emocionais. Quadros de ansi- edade e outros problemas psíquicos estão entre os males da sociedade moderna, e os reflexos na saúde física são diretos. Mas, por mais que pareça ruim, manter o pensamento positivo em situações difíceis é uma atitude importante. Afinal, qualquer que seja o problema, sempre há aprendizado. É possível transformar a vivência das adversidades em uma receita de vida para aplicar em outros momentos, e levar o dia a dia com mais leveza.




 
A psicóloga e psicopedagoga, especialista em comportamento organizacional, Marcela Bezerra Dias, autora do livro "Receita emocional para tempos de crise", esclarece que, em crises emocionais, o corpo responde com reações como náuseas, taquicardia, desmaio e refluxo, entre muitos outros efeitos. Para aliviar os sintomas e buscar a melhora, ela reforça que ações simples podem amenizar as dificuldades. Analisar as emoções, focar no autoconhecimento, nutrir amizades e fortalecer as relações interpessoais, promover e perseguir a paz são alguns aspectos que ajudam a elaborar uma fórmula pessoal, como Marcela chama, para driblar obstáculos.
 

Para lidar com momentos difíceis de maneira que sejam mais leves, é importante entender que as adversidades fazem parte da constituição da vida, diz Marcela, e devem ser encaradas como situações pontuais, e não permanentes. "A cada momento difícil há uma nova oportunidade de se desenvolver e superar. A leveza chega quando a naturalidade para vivenciar o momento é colocada em prática, ou seja, 'vou tentar entender esse momento e perceber como posso gerenciar para que ele passe'", ensina.
 
A profissional lembra que muitas situações são desafiadoras e, por vezes, levam as pessoas a um estado de estresse e ansiedade. Se é um quadro prolongado, e o indivíduo não é acolhido ou tratado de forma adequada, isso pode gerar adoecimento fisiológico e psicológico, com desconfortos e prejuízos inclusive na saúde física, e aí está a necessidade de intervenção médica e psicológica.





De tudo se pode tirar uma lição. "Reconhecer que o momento de crise pode ser de ensinamento já demonstra um nível de amadurecimento e uma abertura para encará-lo como uma parte dolorida, difícil, que fará parte da própria história, mas não da vivência como um todo. As lições aprendidas nessa crise servirão como base para as novas experiências e posicionamentos diante de futuras dificuldades", ensina Marcela.
 
E manter o pensamento positivo, continua a profissional, além de aliviar os desconfortos emocionais, gera movimentos para ações que levam ao caminho de resolução dos conflitos. "Pensar positivo é acreditar que a crise vai passar e que a pessoa pode ser protagonista de sua própria história", salienta.

“Medição”

(foto: Erick Valente/Divulgação)

Em outro livro de sua autoria, "Arquitetando um feliz ano novo", Marcela ensina a como se preparar psicologicamente para encarar os desafios de 2023 com mais tranquilidade. Para cada mês, aborda uma temática que ajuda a manter a saúde emocional para a jornada do novo ano, propondo três testes de auto- avaliação que chamou de “medição”. Ela pontua que toda boa obra tem muitos projetos, planejamentos e medições.




 
"O intuito é ajudar a ter um panorama de algumas áreas de nossas vidas, e nos levar a reflexões mais direcionadas para pensar em estratégias físicas, emocionais, sociais, profissionais e espi- rituais para termos um excelente ano", aponta. "Não existe ninguém perfeito. Não nascemos com manual de instrução. As circunstâncias da vida são subjetivas e, muitas vezes, inesperadas. O importante é a querência de acertar e fazer boas escolhas", acrescenta.
 
A psicóloga reforça que ter uma receita emocional para tempos de crise passa pela crença de que o tempo ensina, traz a solução de acordo com as escolhas feitas e a disposição para esse aprendizado. Para ela, a autoanálise e o auto- cuidado, na perspectiva de um entendimento racional, são ingredientes importantes para chegar a essa receita. Também considerar o atri- buto da fé como base para ações mais equilibradas. E não é demérito buscar ajuda, orienta. "O que se espera após o tempo de crise é que sejamos fortalecidos emocionalmente, e nos tornemos multiplicadores de receitas de sobrevivência e perseverança", diz.
 
Para a especialista, fundamental para transpor adversidades é não ficar remoendo a dor e deixar que ela cicatrize. "Permitir-se seguir em frente, certo de que as adversidades de hoje nos deixam mais experientes que ontem, e melhor preparados para traçar os objetivos futuros com uma visão mais sólida do que se viveu e aprendeu", salienta.





Portas abertas

Preservar bons relacionamentos é importante. "O crescimento mútuo inibe a antipatia e a inveja e, ao contrário, pode gerar colaboração, satisfação e empatia. Além de deixar portas abertas para futuras parcerias", diz Marcela. Em outro aspecto, ela ressalta que, quando a fé e o pensamento positivo são ativados, mesmo em meio à dificuldade, tem-se a certeza de que vai dar tudo certo, mesmo que em um primeiro momento os resultados não sejam o desejado. "Saber que, em paz, você fez a sua parte traz conforto para se viver independentemente dos resultados." 
 
Em mais uma direção para boas escolhas está o autoconhecimento. É um subsídio para ações em direção compatível ao que o indivíduo está preparado para viver, na escolha de não viver em incompatibilidades que podem resultar em comportamentos desfavoráveis ou emoções destrutivas. "Ajuda ainda na busca de repertórios que somem com as dificuldades na solução dos conflitos."
 
Outro paralelo, a análise emocional versus a análise racional, leva a uma compreensão sobre a chegada da crise. "Quando o tempo de crise chega, geralmente o recebemos com olhares cheios de emoções negativas, desesperanças, desconforto. E, com a dor que esse tempo causa, por vezes não é possível compreender quais ensinamentos e quais novos caminhos podem ser percorridos. A proposta de uma compreensão de forma mais racional às circunstâncias em que a crise se passa é de buscar o entendimento cognitivo. Assim, encontrar caminhos para racionalizar o problema, ou seja, com estratégias entendidas e mensuradas, com pensamentos e atitudes razoáveis consigo mesmo e com os    outros", ensina a psicóloga.
 

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