O Ministério da Saúde divulgou esta semana o cronograma para 2023 do Programa Nacional de Vacinação. As ações começam em 27 de fevereiro, com a aplicação de doses de reforço bivalentes contra a COVID-19 na população com maior risco de desenvolver formas graves da doença, como idosos acima de 60 anos e pessoas com deficiência.
Também está prevista para abril a intensificação da campanha de vacinação contra a influenza, antes da chegada do inverno, quando as temperaturas mais baixas levam ao aumento nos casos de doenças respiratórias. Já em maio, deve ocorrer uma ação de multivacinação contra a poliomielite e o sarampo nas escolas.
As etapas, segundo o Ministério, foram organizadas de acordo com os estoques de doses existentes, as novas encomendas realizadas pela Pasta e os compromissos de entregas assumidos pelos fabricantes de vacinas.
O cronograma foi pactuado com representantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e pode ser alterado caso o cenário de entregas seja modificado ou tão logo novos laboratórios tenham suas solicitações aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
COVID-19: próximas fases
Em relação à imunização contra o coronavírus, os grupos vão receber uma dose de reforço do imunizante bivalente da Pfizer. A primeira etapa se concentra nos grupos prioritários. A cobertura vacinal contra a COVID, nesse momento, inclui pessoas a partir de 70 anos, imunocomprometidos, comunidades indígenas, ribeirinhos e quilombolas.
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Em seguida, serão convocadas as pessoas com idades entre 60 e 69 anos. A terceira fase dará prioridade para as gestantes e puérperas. E a quarta fase será para os profissionais de saúde.
Vacina bivalente
Vale lembrar que o uso emergencial de duas vacinas bivalentes da Pfizer contra a COVID-19 foi aprovado pela Anvisa em novembro de 2022.
A bivalente BA1 protege contra a variante original e também contra a variante Ômicron BA1. Já a bivalente BA4/BA5 protege contra a variante original e também contra a variante Ômicron BA4/BA5.
O Ministério da Saúde também deve intensificar a vacinação contra a COVID-19 com as vacinas monovalentes, que oferecem proteção contra a infecção. Cerca de 19,1 milhões de brasileiros ainda não completaram o esquema vacinal contra a doença, ou seja, receberam apenas a primeira dose e, por isso, não estão completamente protegidos.
O que é vacina bivalente?
A vacina bivalente ajuda a proteger as pessoas contra mais de uma cepa do vírus.
No caso da vacina da Pfizer, é usada a tecnologia de ácido ribonucleico (RNA) mensageiro, também conhecido como mRNA.
Diferentemente das imunizações tradicionais, que usavam uma versão morta do vírus para que o corpo pudesse produzir anticorpos, as vacinas de mRNA representaram uma inovação na forma de fabricar imunizantes.
O mRNA tem a função de carregar as informações necessárias para a síntese proteica. Esses dados são captados pelos ribossomos (organelas que, entre outras funções, realizam o trabalho de sintetizar proteínas dentro das células). A partir disso, o corpo é capaz de produzir uma proteína específica, conhecida como proteína S, usada pelo vírus para invadir as células saudáveis.
Os anticorpos e linfócitos T, que fazem parte do sistema imunológico, podem aprender essa informação para combater a proteína de um vírus real. Portanto, é possível imunizar uma pessoa sem que o corpo tenha contato com o vírus, usando apenas um código genético.
Programa de imunização
Quando se trata da imunização para doenças previstas no programa do Ministério da Saúde como um todo, a pasta destaca que o Brasil, apesar de ser considerado um país pioneiro em campanhas de vacinação, vem apresentando retrocessos nesse campo desde 2016. Praticamente todas as coberturas vacinais, segundo o ministério, estão abaixo da meta. A cobertura vacinal para a poliomielite no Brasil em 2022, por exemplo, ficou em 72% em relação à primeira dose, e em 64% para o primeiro e o segundo reforços.
"Diante do cenário de baixas coberturas vacinais, desabastecimento, risco de epidemias de poliomielite e sarampo, além da queda de confiança nas vacinas, o Ministério da Saúde realizou, ao longo do mês de janeiro, uma série de reuniões envolvendo outros ministérios. É importante ressaltar que, para todas as estratégias de vacinação propostas, as ações de comunicação e de comprometimento da sociedade serão essenciais para que as campanhas tenham efeito. A população precisa ser esclarecida sobre a importância da vacinação e os riscos de adoecimento e morte das pessoas não vacinadas", divulgou a pasta.
"Temos agora um pouco mais de informações sobre o calendário vacinal neste primeiro trimestre, incluindo aí o bônus da vacinação contra influenza e uma campanha a ser realizada especificamente contra pólio e sarampo", comemora a infectologista Luana Araujo. Mas a especialista pondera que, ainda assim, faltam informações práticas importantes, como qual o intervalo mínimo que será praticado da última dose para as populações-alvo.
Luana aponta a importância de entender que o calendário vacinal está sendo feito considerando limitações existentes, como a quantidade de doses. A medida também caminha no esforço de amplificar o cronograma de imunização para que seja uniformizado, superando as dificuldades em ter, em diferentes regiões, agendas de vacinação distintas. "Em cada lugar é uma coisa. Libera a vacina em uma cidade, em outra não. Ou tem doses para uma parcela da população, e outra não, daí a necessidade de priorizar determinados grupos", pondera.
Sobre o coronavírus, a infectologista pontua que a direção futura é pela consolidação da vacina bivalente e sua disponibilização para todos. O Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de saúde dos Estados Unidos, já aprovou a vacina bivalente para o esquema vacinal primário e para as doses de reforço, diz Luana. "No Brasil, o laboratório Moderna também já requereu, junto à Anvisa, autorização para disponibilizar no país sua vacina bivalente, no mesmo modelo da Pfizer, em tecnologia mRNA. Há possibilidade de que seja oferecida no mercado privado, mas ainda não existem datas", continua Luana.
Luana reforça ainda que praticamente todas as coberturas vacinais no país estão muito aquém do necessário. "Aproveite a oportunidade, leve a carteira de vacinação do seu filho a um posto de saúde e complete aqueles esquemas que ainda estiverem falhos. Não há razão nenhuma para submeter seus filhos - e você mesmo - a doenças que não precisam ter."
A infectologista lembra que, em relação à poliomielite e ao sarampo, foram contempladas na campanha diante do altíssimo risco de epidemias graves no Brasil pela baixa cobertura vacinal contra essas doenças por aqui. "Nas Américas, estamos ao lado de Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Paraguai, Suriname e Venezuela na lista de alto risco. Mas isso não muda o fato de que praticamente todas as outras doenças imunopreveníveis também estão com coberturas muito baixas", reitera.
Confira as cinco etapas do cronograma:
Etapa 1 - fevereiro
Vacinação contra COVID-19 (reforço com a vacina bivalente)
Público-alvo:
Pessoas com maior risco de formas graves de COVID-19
Pessoas com mais de 60 anos
Gestantes e puérperas
Pacientes imunocomprometidos
Pessoas com deficiência
Pessoas vivendo em Instituições de Longa Permanência (ILP)
Povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas
Trabalhadores da saúde
Etapa 2 - março
Intensificação da vacinação contra COVID-19
Público-alvo:
Toda a população com mais de 12 anos.
Etapa 3 - março
Intensificação da vacinação contra COVID-19 entre crianças e adolescentes
Público-alvo:
Crianças de 6 meses a adolescentes de 17 anos
Etapa 4 - abril
Vacinação contra Influenza
Público-alvo:
Pessoas com mais de 60 anos
Adolescentes em medidas socioeducativas
Caminhoneiros
Crianças de 6 meses a 4 anos
Forças Armadas, forças de segurança e salvamento
Gestantes e puérperas
Pessoas com deficiência
Pessoas com comorbidades
População privada de liberdade
Povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas
Professores
Profissionais de transporte coletivo
Profissionais portuários
Profissionais do Sistema de Privação de Liberdade
Trabalhadores da saúde
Etapa 5 - maio
Multivacinação contra poliomielite e sarampo nas escolas