RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - Uma inflamação que causa furinhos e inchaço nos membros e, ainda hoje, é confundida com celulite e obesidade. Mas, ao contrário das outras condições, que dieta e atividade física podem ajudar, seu tratamento mais efetivo é cirúrgico.
Chamada de lipedema, mas também conhecida como síndrome da gordura dolorosa, a doença ganhou as plataformas de busca e as redes sociais após a influenciadora e ex-BBB, Amanda Djehdian, divulgar que fez uma cirurgia para remover o excesso de tecido adiposo das pernas. No Brasil, a condição atinge cerca de 1 a cada 10 mulheres, segundo estudo.
A doença se caracteriza pelo acúmulo de gordura nos braços, quadris e nas pernas, o que causa inflamação e fibrose do tecido. A condição é dolorosa, e é acompanhada de inchaço e hematomas.
O cirurgião plástico Fábio Kamamoto, diretor do Instituto Lipedema Brasil e idealizador da ONG Movimento Lipedema, afirma que o impacto psicológico também é muito grande. De acordo com o profissional, a doença também pode causar distúrbios de autoimagem e alimentares.
O lipedema atinge principalmente mulheres. O médico diz que o principal fator para o desenvolvimento da condição são mudanças na produção dos hormônios femininos estrógeno e progesterona. Por isso, a doença costuma surgir durante a adolescência, quando se iniciam os ciclos hormonais, ou em outros períodos que impactam a produção dessas substâncias, como a gravidez e menopausa.
É comum que a síndrome seja confundida com obesidade ou celulite, mas diferentemente dessas condições, os pacientes com lipedema tem um acúmulo de gordura desproporcional nos membros em relação ao restante do corpo e maior sensibilidade na região acometida, além de sentirem dor.
A síndrome também não pode ser tratada apenas com reeducação alimentar e exercícios físicos como em grande parte dos casos de celulite e obesidade e, por ser relacionada ao ciclo hormonal, tem crescimento progressivo. Se não tratada, a doença pode causar dificuldade de locomoção e lesões articulares, como nos joelhos.
Por se tratar de uma condição genética, não é possível evitar o seu desenvolvimento. Kamamoto diz, entretanto, que há medidas a serem tomadas. Aqueles que possuem casos na família ou estão desenvolvendo a condição devem evitar tratamentos com hormônios, como o uso de anticoncepcionais ou remédios para engravidar.
O médico afirma ainda que uma alimentação antiinflamatória, como a dieta mediterrânea, a realização de massagem e drenagem linfática e a prática de exercícios físicos de baixo impacto podem amenizar os sintomas e reduzir o desconforto, embora não curem a doença.
O tratamento mais efetivo é cirúrgico, feito através da lipoaspiração da gordura acumulada para que as células doentes sejam removidas. Kamamoto diz que após a cirurgia a doença não retorna e a qualidade de vida do paciente melhora, tanto funcional como esteticamente.
Segundo o médico, muitos profissionais ainda desconhecem essa condição. Apesar de ser descrita cientificamente pelo menos desde a década de 1940, ela só foi oficialmente reconhecida como uma doença pela CID (Classificação Internacional de Doenças) no início de 2022.
No Brasil, estima-se que o lipedema afete até 5 milhões de pessoas. Para o médico, a conscientização do público e de outros médicos a respeito da condição tem o potencial de melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas e, no futuro, garantir o tratamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e por meio de convênios privados.
Segundo o Angiologista e Cirurgião Vascular, José Luiz Cataldo, membro da Comissão de Doenças Linfáticas da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, a condição pouco conhecida pela maioria pelos profissionais da saúde e ainda não é especialidade de uma única clínica médica.
Os angiologistas são os que mais recebem pacientes, que confundem a condição com uma doença de origem vascular. Ele esclarece, porém, que o diagnóstico também pode ser feito por outros profissionais, como clínicos gerais e cirurgiões plásticos.