Por anos, foi preconizado que a maternidade é a melhor coisa que pode acontecer com uma mulher, que tudo vale a pena. Romantizar e idealizar a gravidez e o puerpério são tendências culturais e sociais que dificultam o reconhecimento e a expressão de sentimentos negativos e, portanto, a busca por ajuda. É o que afirma a pediatra Claudia Drummond, da Saúde no Lar, empresa especializada em home care. "O fato de emoções negativas não serem socialmente sancionadas alimenta sentimentos como o de insegurança, e isola a mulher em sofrimento, o que pode afetar seriamente sua saúde mental", aponta.
As mães, continua Claudia, costumam receber avisos e conselhos sobre sua saúde física e do bebê, sobre o que a espera com o nascimento da criança, desde o que ela deve comer, sobre a amamentação, o futuro do filho, as questões financeiras – e tudo isso as torna mais vulneráveis. "De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), momentos que alteram a vida, como gravidez, nascimento e paternidade precoce, podem ser estressantes para as mulheres e seus parceiros. Como resultado, as mulheres podem passar por um período de saúde mental debilitada ou sofrer um agravamento de condições preexistentes. Segundo a OMS, cerca de uma em cada cinco mulheres terá um episódio de saúde mental durante a gravidez ou no ano após o nascimento do bebê", informa Claudia, ressaltando que sentimentos ruins, nesse período da vida, acabam preenchendo um espaço que deveria ser reservado para outras experiências e mudanças mais positivas, felizes e leves.
A melhor forma de prevenção, conforme Claudia, é ter uma boa rede de suporte social – familiares e amigos dispostos a acolher a mulher de maneira humanizada neste momento de tanta vulnerabilidade. São eles que vão ajudar a mãe, seja escutando, perguntando no que podem ser úteis, desprendendo um tempo do dia para que a mãe consiga tirar um cochilo, comer e tomar banho, executando tarefas domésticas como arrumar a casa, fazer o almoço ou jantar, sempre de acordo com o desejo da mãe.
É importante ouvir, respeitar os limites, tentar entender o que está acontecendo. "Quando os sintomas são percebidos, tanto pela mãe quanto pela rede de apoio, é fundamental procurar ajuda médica pediátrica, psiquiátrica e psicológica. Além disso, recorrer a atividades físicas e manter uma alimentação equilibrada, assim como participar de grupos de mães com trocas de experiências", ensina a pediatra.
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Também existe a rede de apoio profissional, que pode, em casa, trazer orientações sobre os cuidados básicos com relação à criança e à mulher, enquanto mãe, tanto física quanto psicologicamente.
São serviços de home care, que podem acompanhar o ga- nho de peso, o crescimento e desenvolvimento das habilidades do bebê, além de dar as orientações corretas com relação à vacinação. Isso se estende à pediatra, equipe de enfermagem e cuidadores que prestam auxílio com relação ao banho, sono, higiene, amamentação, coto umbilical, e ainda orientações gerais, como troca de fralda e mesmo ajuda com relação aos cuidados com os seios, informa Claudia. "Como a vida, tanto das mães quanto dos pais, anda cada vez mais corrida, esse tipo de serviço consegue minimizar o tempo gasto fora de casa e preza pelo conforto da criança, já que tanto ela quanto os pais podem ser atendidos dentro do ambiente residencial."
Esse é mesmo um momento cercado de mudanças e adaptações, e isso acontece não só com as mães de primeira viagem, mas com aquelas que já tiveram outra gravidez, reforça a profissional. "Cada filho é único, e cada situação precisa de atenção individualizada. Aquelas mulheres que estão passando pela maternidade pela primeira vez estão experimentando algo novo. Aquelas que já têm filhos estão se adaptando à rotina de ser mãe de dois ou mais, por exemplo. Fato é que o período requer acolhimento para que a mãe entenda que não está sozinha e que pode compartilhar todos os seus sentimentos, independentemente de quais sejam", orienta.
UNIVERSO GESTAÇÃO
A empreendedora em reeducação sexual e diálogos saudáveis Dayanne Andrade, de 34 anos, está no sexto mês de gravidez. Ela espera Akin chegar. Conta que, quando recebeu a boa-nova, foi pesquisar e buscar informações sobre a maternidade. Atua como consultora em saúde e educação sexual e, se tornando mãe, adentrou um outro universo. Mas as buscas não duraram uma semana, ela lembra – mais atrapalharam do que ajudaram.
A empreendedora em reeducação sexual e diálogos saudáveis Dayanne Andrade, de 34 anos, está no sexto mês de gravidez. Ela espera Akin chegar. Conta que, quando recebeu a boa-nova, foi pesquisar e buscar informações sobre a maternidade. Atua como consultora em saúde e educação sexual e, se tornando mãe, adentrou um outro universo. Mas as buscas não duraram uma semana, ela lembra – mais atrapalharam do que ajudaram.
Quando entrou no "universo gestação", em suas palavras, pensou que encontraria boas fontes de informação, mas esse é um mundo de possibilidades, um mundo de "talvez seja assim ou talvez não". Para ela, um momento incerto e único para cada um. "As mulheres não têm filtro e não medem palavras para julgar as outras. Eu vi cada comentário que me fez muito mal. Também fiquei imaginando o quanto aqueles comentários mexiam com as mamães que estavam na primeira gestação, como eu. Por isso, minhas pesquisas iniciais acabaram. Parei de ler e também de ver opiniões de outras mulheres, como foi a gestação delas", constata.
Dayanne conta que ter profissionais qualificados ao seu lado foi importante para não ter crises emocionais. No entanto, no início não foi fácil. "Encontrei alguns médicos gordofóbicos e muito grosseiros, até conhecer uma médica incrível, que conversa e entende que eu sou uma mulher maior, com os exames todos em ordem", diz.
Para tudo o que sentia, tudo o que achava diferente encontrava suporte com a médica, as amigas, tias, uma prima também médica e, principalmente, o marido. É uma gestação de risco, mas caminha muito bem. Dayanne tem consciência de que a experiência pode ser cruel e romantizada. "É muito achômetro, muitas pessoas interferindo no que você está vivendo", relata.
Particularmente, ter o marido ao lado, André Gomes Pereira, de 37, é um auxílio para manter a mente sadia neste momento, diz Dayanne. "Em casa, a melhor coisa que temos é o diálogo saudável. Me ajuda no trabalho, na vida pessoal e agora também na gestação. Ele é um grande apoio emocional e a gravidez tem ficado mais leve", relata. "É um momento muito louco. Às vezes pensamos coisas muito estranhas, que não fazem sentido, pensamentos que ficam incomodando. Então, desabafar com quem não te julga é algo maravilhoso, e a rede de amigos e parentes é fundamental."
Mesmo com tudo em equilíbrio, ela passou por crises emocionais, principalmente com quadros de ansiedade, porém tudo já controlado. Do ponto de vista físico, nenhum mal-estar, como enjoos ou vômitos. "Para controlar a ansiedade, eu parei de buscar as informações, de ver vídeos de mamães ou qualquer coisa sobre o assunto. Faço atividade física todos os dias, musculação e aeróbico. A fisioterapia pélvica também é um momento muito gostoso de amor comigo e com o neném. Diferentemente das mulheres que via na internet, preocupadas com os quartinhos e o enxoval, estou preocupada com o meu físico e do meu filho, para correr tudo bem durante o parto."
Dayanne faz terapia há muitos anos, e continua na gravidez. Ela espera que, assim que o rebento vier ao mundo, tem ainda muito para viver e aprender. "Cada mãe é única, não cabem comparações neste momento. Parei de me cobrar sobre coisas que dava conta de fazer e agora não dou mais. Aceitei. E aceitei o fato de que estou gestando."
Palavra de especialista
Jaqueline Bifano, psiquiatra
Aconselhamento precoce reduz incidência de depressão
“Não existe um tratamento preventivo para os desequilíbrios que podem acometer as mulheres na gravidez e após o nascimento do bebê. Ainda assim, estudos comprovam que o aconselhamento precoce é capaz de reduzir em 39% a chance de a mulher ter depressão durante a gestação ou depois. Os médicos devem encaminhar para acompanhamento psicoterápico as pacientes grávidas, ou no pós-parto, que apresentem risco elevado de depressão. Isso inclui, por exemplo, jovens mulheres de baixa renda, em uma gravidez indesejada, sem apoio familiar e social, com histórico de depressão ou que estejam demonstrando sinais da doença. Também pode se criar um um "pré-natal psicológico". Ele pode ser um trabalho de acompanhamento individual ou em grupo, direcionado especificamente para as questões psíquicas ligadas à gravidez, ao parto e ao pós-parto. Essa ajuda pode se estender ainda a postos de saúde, auxiliando mães de baixa renda. O reconhecimento do problema e o tratamento eficaz são essenciais. A depressão pós-parto e a psicose puerperal, quando não tratadas, causam um prejuízo substancial para a mulher, o que pode resultar em comprometimento comportamental, emocional e cognitivo para o bebê.”
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