Repetição, repetição, repetição. Será que a insistência em alardear a importância da atividade física para viver melhor fará com quem o sedentário passe a se mexer? Essa é uma aposta que vale a pena. Portanto, vamos lá pessoal, mude de hábito por você, escolha uma atividade física, um exercício, um hobby que o leve a ter mais cuidado e atenção com sua saúde.
Beatriz Bicalho, coordenadora do curso de educação física da Estácio Belo Horizonte, mestre em educação e diabetes, destaca que a cada dia as pessoas estão mais conscientes sobre a importância do movimento do corpo, a importância da atividade e do exercício físico como fatores benéficos para a saúde e o bem-estar, mas “sair do sofá” não é tão fácil. Muitas vezes é necessária uma visita ao médico ou o surgimento de uma comorbidade para que a pessoa leve um susto e procure um profissional de educação física para iniciar um programa de exercícios.
Beatriz Bicalho alerta que o grande número de brasileiros sedentários coloca em risco a saúde, já que o sedentarismo está associado à obesidade, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. “O ponto de partida sempre deverá ser buscar uma atividade física mais fácil de ser feita, mais prazerosa, que associe também fatores sociais, assim como caminhar com uma amiga, fazer atividades coletivas, e que não demandem muito tempo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um indivíduo adulto deverá praticar pelo menos 150 minutos de atividade física moderada, que pode ser fracionada em 15, 20 ou 30 minutos.”
Conforme Beatriz Bicalho, além do papel do governo, da área de saúde, de alertar e incentivar a população para a prática de qualquer atividade física, é preciso também ampliar os programas das academias da saúde que são abertas para o público, gratuitamente, como forma de promoção de saúde. “Temos de ampliar este acesso às comunidades, ampliar os serviços e números de Academias da Saúde. Belo Horizonte é um dos programas exemplos do Brasil. A mudança de comportamento só virá associada ao conhecimento.”
Papel psicossocial
Como educadora física, Beatriz Bicalho enfatiza que esse profissional também tem um papel psicossocial, sendo um motivador para quem se dispõe a praticar uma atividade física. “Normalmente, o profissional de educação física tem um perfil acolhedor, incentivador, sabe ouvir, busca entender o aluno dentro do contexto físico e os outros aspectos que envolvem o aluno como ser humano, nas dimensões não só físicas, mas sociais, emocionais, espirituais, cognitivas, enfim, na hora do exercício, o aluno traz o todo. Assim, são levados em conta seus desejos, objetivos, emoções e como adequar um programa de treinamento ideal para associar todas essas vontades e necessidades ao estilo de vida do aluno.”
O sedentarismo preocupa não só na fase adulta, mas entre crianças e adolescentes também. Estudo publicado em 21 de novembro de 2019 na revista The Lancet – Child & Adolescentes Health Journal e conduzido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com 1,6 milhão de jovens de 11 a 17 anos de 146 países, revelou que, no mundo, 81% dos adolescentes que frequentam as escolas não fazem atividade física suficiente. Muitos, aliás, pedem dispensa das aulas de educação física, o que é lamentável, já que comprovadamente a prática da atividade física desde a infância e adolescência, além de benefícios para a saúde física, contribui para o desenvolvimento cognitivo e o comportamento social que vão perdurar na vida adulta.
“As crianças só poderiam ser dispensadas das aulas de educação física se realmente tiverem alguma restrição. Deveria ser crime dispensar criança ou adolescente das aulas de educação física sem um real motivo. O profissional de educação física tem um papel fundamental no engajamento dessas crianças nas atividades propostas, a fim de diminuir o comportamento sedentário das mesmas. A educação ao exercício deve começar desde a escola, com os esportes coletivos, a educação ao movimento, as diversas formas de se movimentar, os benefícios físicos e cognitivos que o exercício físico traz”, alerta Beatriz Bicalho.
A especialista avisa que é fundamental reduzir o comportamento sedentário das crianças. A estimativa é de que 6,4 milhões de crianças tenham excesso de peso no Brasil e 3,1 milhões já evoluíram para obesidade. É tão grave que tem até o Dia da Conscientização Contra a Obesidade Mórbida Infantil, celebrado anualmente em 3 de junho. Os dados assustadores são de 2019, baseados no Índice de Massa Corporal (IMC) de crianças que são atendidas na Atenção Primária à Saúde (SAPS).
A doença afeta 13,2% das crianças entre 5 e 9 anos acompanhadas no Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde, e pode trazer consequências preocupantes ao longo da vida. Nessa faixa etária, 28% das crianças apresentam excesso de peso, um sinal de alerta para o risco de obesidade ainda na infância ou no futuro. Entre os menores de 5 anos, o índice de sobrepeso é de 14,8%, sendo que 7% já apresentam obesidade. “Vários estudos comprovam que uma criança fisicamente ativa, muito provavelmente se tornará um adulto ativo e com hábitos saudáveis”, destaca.
Mudança de hábito*
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), por meio do médico Márcio Mancini, com doutorado em endocrinologia, atualmente médico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, atuando principalmente com obesidade, síndrome metabólica e diabetes, alerta sobre a importância da mudança de hábito. Pesquisas mostram redução de 66% no risco de morte por doenças cardiovasculares apenas com a prática de uma atividade moderada.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), por meio do médico Márcio Mancini, com doutorado em endocrinologia, atualmente médico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, atuando principalmente com obesidade, síndrome metabólica e diabetes, alerta sobre a importância da mudança de hábito. Pesquisas mostram redução de 66% no risco de morte por doenças cardiovasculares apenas com a prática de uma atividade moderada.
No dia a dia
- Inicie os exercícios sempre de maneira gradual – não dispense a fase de alongamento, aquecimento e resfriamento.
- Mantenha um diário de exercícios.
- Aumente as caminhadas e procure sentir prazer em caminhar.
- Aumente a atividade no seu dia a dia, utilizando escadas e dispensando o carro sempre que possível.
- Aumente o ritmo do seu dia a dia, optando por fazer, você mesmo, algumas atividades domésticas, como lavar o carro e jardinagem.
- Leve seu cachorro para passear.
- Um parceiro, companheiro ou amigo pode auxiliá-lo incentivando atividades, acompanhando-o durante as compras e exercitando-se junto.
- Se tiver que descer ou subir um andar, use as escadas em vez do elevador.
- Dance.
- Pedale.
Na fase escolar vários benefícios foram observados
- Aumento na frequência às aulas
- Melhora na relação com os pais
- Diminuição da delinquência e reincidência
- Redução nos distúrbios de comportamento
Benefícios de forma geral da atividade física
- Redução da pressão arterial
- Melhora da resistência insulínica
- Melhora da força muscular
- Controle do peso corporal
- Melhora da mobilidade articular
- Melhora do perfil lipídico
- Melhora da resistência física
- Aumento da autoestima
- Alívio do estresse
- Redução da depressão
- Manutenção da autonomia
- Redução do isolamento social
- Melhora no bem-estar geral
* Fonte: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)