Uma recente mudança na recomendação de consumo de álcool no Canadá chamou atenção pelo rigor — de acordo com o documento, a única quantidade segura de álcool é zero, nenhuma gota. Diferentemente do Canadá, o Brasil não tem um consenso determinado por uma entidade médica nacional, mas segue a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde), que também afirma não existir um padrão de consumo de álcool que seja absolutamente seguro. Atualmente, não existem definições oficiais para dose padrão e consumo moderado no Brasil.
O CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool) considera que uma dose padrão corresponde a 14g de etanol puro no contexto brasileiro. Isso corresponde a 350 ml de cerveja (5% de álcool), 150ml de vinho (12% de álcool) ou 45ml de destilado (como vodca, cachaça e tequila, com aproximadamente 40% de álcool).
Já a OMS define como dose padrão 10g de etanol puro, e recomenda que homens e mulheres não excedam duas doses por dia e que se abstenham de beber pelo menos dois dias por semana.
Pela diretriz canadense, a quantidade de uma dose para mulher e duas doses para homem como limite também é considerada uma quantidade baixa, mas por semana, e não por dia, como indica a OMS. “É necessário considerar que o Canadá é uma potência em termos de guidelines de saúde. No campo da comercialização da maconha, foi o primeiro país com grande economia a legalizar, e fazem estudos muito sérios”, avalia Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do CISA.
“Esta sobre o álcool é uma recomendação dura e forte — e é claro que não sou contra, são considerações feitas com base em estudos médicos. Mas deve-se também considerar o ponto de vista sociocultural — dependendo do país, é algo muito fácil de ser quebrado. Se um casal divide uma garrafa de vinho em um jantar comemorativo, já está fora do limite”, afirma Guerra.
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“Esse consumo moderado, no entanto, leva em conta o organismo de uma pessoa completamente saudável — sem qualquer doença crônica, como diabetes e hipertensão, que atingem cerca de 9% e 26% dos brasileiros, respectivamente, ou mesmo indivíduos que têm histórico familiar de alcoolismo”, aponta Álvaro Pulchinelli, toxicologista do Fleury Medicina e Saúde.
“Então, as recomendações como as da OMS e as canadenses, que são bastante rígidas, refletem uma verdade para maioria da população, já que não há valores bem definidos de qual seria o consumo seguro de álcool em todas as situações”, complementa o médico.
De acordo com o presidente do CISA, o mesmo vale para quem tem doenças psiquiátricas. “Pacientes com doenças como depressão, ansiedade, esquizofrenia, não deveriam consumir álcool. E se eventualmente, em uma celebração, a pessoa beber uma taça, isso significa que vai afetar o quadro psiquiátrico base? Não necessariamente. Mas o uso binge e regular é totalmente contraindicado”, afirma Guerra.
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“O indicativo consumo moderado, no entanto, leva em conta o organismo de uma pessoa completamente saudável — sem qualquer doença crônica, como diabetes e hipertensão, que atingem cerca de 9% e 26% dos brasileiros, respectivamente, ou mesmo indivíduos que têm histórico familiar de alcoolismo”, aponta Álvaro Pulchinelli, toxicologista do Fleury Medicina e Saúde.
“Então, as recomendações como as da OMS e as canadenses, que são bastante rígidas, refletem uma verdade para maioria da população, já que não há valores bem definidos de qual seria o consumo seguro de álcool em todas as situações”, complementa o médico.
Não adianta fazer “poupança” de limite de bebida
A forma como cada um consome seus drinques também deve ser levada em consideração. “Claro que as pessoas teriam prejuízo com grandes quantidades de ingestão semanal, ou com essa quantidade quando o indivíduo fala que não vai beber a semana inteira. Ah, então eu posso descontar tudo no sábado? Não, não é assim que funciona. Não é poupança de banco, que você fala, ah, eu economizei e agora eu posso gastar”, diz o toxicologista.
Pulchinelli aponta que quem bebe "pesado" de fim de semana e que ele tem tanto risco quanto o "bebedouro" crônico. “Quem exagera em um único dia estressa o organismo duas vezes: pelo álcool em si e pela sobrecarga. É por isso que as diretrizes passaram a falar em limite diário em vez de limite semanal.”
Riscos do consumo exagerado ou prolongado do álcool
O consumo de álcool é um fator causal em mais de 200 doenças e lesões, de acordo com a OMS. Entre as comorbidades, o hábito está ligado ao maior risco de doenças não transmissíveis graves, como cirrose hepática, alguns tipos de câncer e doenças cardiovasculares, além de lesões resultantes de violência e acidentes de trânsito e também da dependência ao álcool.
Outro dado da Organização Mundial da Saúde aponta que cerca de 80% das mortes em que o álcool foi um “fator importante” ocorreram em três dos países mais populosos: Estados Unidos (36,9%), Brasil (24,8%) e México (18,4%).
Para pessoas com a doença, além dos riscos à saúde, vício em álcool pode resultar em danos a outras pessoas, como familiares e amigos, dificuldade em manter relacionamentos, sejam profissionais ou pessoais, e prejuízos financeiros.