Morcegos da espécie Rousettus aegyptiacus

Morcego da espécie Rousettus aegyptiacus é o hospedeiro do vírus

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Febre hemorrágica quase tão letal quanto o ébola, a doença causada pelo chamado vírus de Marburg causou a morte de nove pessoas na Guiné Equatorial, configurando um surto na província de Kie-Ntem, como informou a Organização Mundial da Saúde (OMS) e autoridades locais nesta segunda-feira (13/2). O lugar onde foi notificada a febre de Marburg é uma região de floresta densa, nas proximidades das fronteiras com o Gabão e Camarões.

Investigações estão em curso e equipes especializadas, incluindo peritos em emergências de saúde, foram designadas para os locais afetados, para isolar pacientes e oferecer assistência médica para quem manifestou os sintomas. Existem ainda outros 16 casos suspeitos.

"O vírus de Marburg é altamente contagioso. Graças à ação rápida e decisiva das autoridades guineenses na confirmação da doença, a resposta de emergência pode chegar rapidamente para salvar vidas e parar o vírus o mais rápido possível", disse Matshidiso Moeti, diretor regional da OMS para a África.

A taxa de mortalidade pelo vírus, da mesma família do patógeno que causa o ébola, chega a 88%, e não existem vacinas ou tratamentos antivirais, apenas cuidados de apoio (como reidratação com fluidos orais ou intravenosos, manutenção do status de oxigênio, controle da pressão arterial, substituição de sangue perdido e enfrentamento de possíveis complicações) e tratamento de sintomas, que podem melhorar a sobrevivência. Outros tratamentos potenciais, como a partir de produtos sanguíneos, terapias imunológicas e medicamentosas, bem como possíveis vacinas, estão sendo avaliados.

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Morcegos da espécie Rousettus aegyptiacus, que se alimentam de frutos e habitam cavernas em diversas regiões africanas, são os hospedeiros do vírus, e é a partir deles que a transmissão acontece - o vírus atinge os seres humanos através do contato direto com esses animais. Primatas, como humanos e macacos, podem ser infectados e desenvolver doença grave com alta mortalidade.

Sintomas

Quando um indivíduo é infectado, o vírus pode se espalhar através da transmissão entre pessoas por contato direto (como lesões na pele ou pelas membranas das mucosas) com sangue, secreções ou outros fluidos corporais de infectados. Objetos contaminados de um doente ou alguém que morreu da doença, como roupas de cama, agulhas e equipamentos médicos, também são fontes de transmissão.

O vírus diminui a capacidade do organismo de funcionar por si próprio. A manifestação da doença, que se apresenta abruptamente, inclui febre alta, calafrios, dor de cabeça intensa e mal-estar, com tempo de incubação entre 2 a 21 dias. Por volta do quinto dia após o início dos sintomas, podem ocorrer erupção na pele, principalmente no peito, costas e região do estômago, e os doentes desenvolvem sinais hemorrágicos graves dentro de sete dias.

Os pacientes podem ainda sentir fadiga, náuseas, vômitos (inclusive com sangue), dor no peito, dor de garganta, dor abdominal e diarreia. O agravamento da doença leva a sintomas como icterícia (cor amarelada dos olhos e da pele), inflamação do pâncreas, perda de peso significativa, delírios, choque, insuficiência hepática, hemorragia e disfunção de múltiplos órgãos.

Pessoas que estão no grupo de risco, mais propensas a desenvolver a doença, são familiares e profissionais de saúde que cuidam de pacientes sem as medidas certas de prevenção, assim como veterinários e profissionais de laboratórios ou pesquisadores que têm contato com primatas não humanos da África.

Diagnóstico e prevenção


Quando se trata da febre de Marburg, muitas vezes a detecção é tardia, já que os sinais se parecem com quadros clínicos de outras doenças infecciosas. Os pacientes devem ser isolados e as autoridades sanitárias sempre notificadas no caso do diagnóstico, feito em laboratório a partir de amostras do infectado. A identificação da presença do vírus é realizada por técnicas que incluem o diagnóstico molecular (RT PCR), que permite perceber o material genético do vírus, e testes de antígeno.

Para prevenir a infecção pelo vírus Marburg, é importante evitar áreas com a presença dos morcegos hospedeiros e o contato com primatas não humanos doentes. Com a suspeita ou confirmação da doença, devem ser adotadas medidas de prevenção e controle de infecção para evitar o contato físico direto com o paciente. Além do isolamento, os cuidados incluem o uso de aventais, luvas e máscaras de proteção, esterilização e descarte adequado de agulhas, equipamentos e dejetos do paciente.

Contexto

Surtos da febre hemorrágica já aconteceram em outros países africanos, como Angola, Gana, Guiné-Conacri, República Democrática do Congo, Quênia, África do Sul e Uganda. Em 2004, em Angola, 90% dos 252 indivíduos infectados morreram e, em Gana, em 2022, duas pessoas faleceram. Em Uganda, dois casos foram relatados, em 2008, em viajantes que estiveram em uma caverna habitada por colônias de morcegos Rousettus.

Os primeiros registros da doença remontam ao ano de 1967, quando o vírus ocasionou surtos simultâneos em laboratórios em Marburg, em Frankfurt, na Alemanha, e em Belgrado, na Sérvia. A ocorrência foi relacionada ao trabalho de laboratório com macacos verdes africanos (Cercopithecus aethiops) importados de Uganda. À época, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, informaram que 31 pessoas ficaram doentes, inicialmente profissionais de laboratório, seguidos por vários médicos e familiares. Sete mortes foram registradas.