Em menos de um mês, três ocorrências de violência sexual, cometidas em locais públicos e em plena luz do dia, foram registradas no Distrito Federal, trazendo à tona o debate sobre a saúde mental das mulheres violentadas. Ainda repercutia o caso da mulher que foi estuprada na frente do filho no Parque do Bosque de São Sebastião, em 6 de fevereiro, quando uma adolescente sofreu importunação sexual em um ônibus, no dia 14, em Vicente Pires. Em 16 de fevereiro, um homem foi preso após ser flagrado por câmeras de segurança se masturbando em vias públicas, inclusive perto de escolas, o que também configura crime de importunação sexual. 





Beijos roubados, toques indesejados, puxões de cabelo, agressões verbais após uma negativa, entre outros comportamentos, são crimes desde 2018, quando passaram a ser classificados perante a lei de importunação sexual. A conduta consiste em "prática de ato libidinoso praticado contra pessoa e sem o seu consentimento, para satisfazer sua própria lascívia ou de outrem". Desde a sanção da Lei nº 13.718, de setembro de 2018, aumentaram os registros de casos de importunação sexual no DF. A pena pode variar de 1 a 5 anos de reclusão. Por ser uma lei recente, algumas mulheres ainda têm dificuldade de entender o conceito e se sentem constrangidas em denunciar.

Leia também: Conheça 1º ambulatório psiquiátrico para vítimas de violência doméstica.

A psicóloga Jhanda Siqueira elencou as principais consequências psicológicas que a violência sexual gera nas mulheres. "Sensação de desamparo, impotência, vulnerabilidade e culpa. A culpa é inerente a todas as vítimas de abuso, elas sempre acham que poderiam ter evitado e isso pode gerar depressão ou comportamentos autodestrutivos por achar que precisam se punir", comenta a profissional. Ela explica ainda que a perda inconsciente da vaidade também pode ser uma forma das mulheres reagirem após um abuso. "O sentimento de culpa gera autopunição. A mulher que foi violada pode sentir que não tem valor, pode rejeitar o próprio corpo, pois ele carrega marca de uma violência", analisa Jhanda.




 
Leia também: Saiba das diferentes formas de violência contra a mulher e as consequências. 

Gisele (nome fictício, a pedido da entrevistada), 42 anos, sofreu na pele, há quatro anos, as consequências de ter sido violada sexualmente. Um homem com quem ela trabalhava abusou dela e chegou a quase estuprá-la. "Ele tirou a roupa e fez uso da força para tentar me estuprar. Consegui me desvencilhar, mas aquilo me causou um trauma com o qual tenho que lidar até hoje", revela ela. Abrir mão da vaidade foi uma forma que Gisele encontrou de se defender de possíveis abusos. "Uso roupas feias, não uso mais maquiagem, uso touca para esconder o cabelo e roupa bem larga. É o meu escudo", conta. Hoje, Gisele faz tratamento com psiquiatra e usa medicações psicotrópicas para lidar com as sequelas psicológicas causadas pela violência que sofreu.

Acolhimento

"Essas vítimas precisam de pessoas e lugares que as acolham e saibam conviver com a dor delas. Evitar falar e pensar no assunto não é a melhor forma de resolver", orienta a psicóloga Jhanda Siqueira. "Conversar com um psicólogo e um psiquiatra é uma forma de libertação. Se a pessoa não administrar aquilo, nunca vai esquecer. É importante também que a família dê apoio e permita à pessoa viver a dor sem reprimi-la. Uma violência afeta a família inteira", acrescenta a especialista. "É preciso lidar com a dor, dar a importância que deve ser dada. É importante desconstruir as sensações negativas que foram geradas com o abuso. Apoio psicológico e, principalmente da família. É necessário falar sobre o assunto para que a pessoa seja salva do trauma", conclui Jhanda.

Em 2016, um grupo de mulheres de todo o Brasil montou uma plataforma chamada Mapa do acolhimento, onde psicólogas e advogadas voluntárias ajudam, de forma gratuita, mulheres vítimas de todos os tipos de violência. Mais de 5 mil mulheres já foram beneficiadas pela iniciativa. A plataforma proporciona uma conexão entre vítimas necessitadas de acolhimento e as profissionais voluntárias e está disponível neste endereço.

Onde pedir ajuda?

Ligue: 190 - Polícia Militar
Ligue 180  - Central de Atendimento à Mulher

compartilhe