Clóvis Tavares

Clóvis Tavares sempre renunciou aos direitos autorais, conforme aprendera com Chico Xavier

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Embora tenha publicado vários livros espíritas, resultado de pesquisas, estudos aprofundados e de uma amizade com Chico Xavier, Clóvis Tavares sempre renunciou aos direitos autorais, conforme aprendera com o médium nascido em Pedro de Leopoldo (MG), de quem  ouviu a sugestão para que escrevesse o livro “Mediunidade dos santos”.


O filho de Clóvis Tavares e Hilda Mussa Tavares, o psiquiatra Flávio, de 64 anos, contou à reportagem do Estado de Minas que foi Chico quem “insistiu com Clóvis”, “após a sua morte”, que deixasse que seus familiares publicassem o livro que ele conservou em arquivo com anotações e textos organizados para eventual publicação.

 

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Conforme Flávio, o pai tinha medo de causar algum tipo de melindre em espíritas e católicos. Mas Chico ponderava que, além de ser a “obra-prima de Clóvis”, ele teria um conteúdo pedagógico importante para explicar os chamados milagres dos santos.


Um livro improvável, visto que continha em sua formação um caráter de religião católica, transpassada também pela influência materialista, produzida pela militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Entretanto, o amor por duas mulheres e a influência de ambas serviram como alavancas para que Clóvis Tavares se apaixonasse pela cosmovisão espírita.

 

 

 


Primeiramente, Nina Arueira, sua namorada, de quem chegou a ficar noivo, mas acabou não se casando em função da morte precoce dela, em 1935. A morte de Nina o fez se aproximar da doutrina espírita por meio de um amigo comum, Virgílio de Paula.


Na década de 1950, ele conheceu Hilda Mussa, com quem se casou em 1954. Flávio disse que a mãe, também com forte formação católica, portanto, devota de santos, influenciou e ajudou o pai em sua pesquisa sobre a vida dos santos.

 

Flávio, filho de Clóvis

Flávio, filho de Clóvis

arquivo pessoal
 

 


Flávio lembra as muitas histórias contadas pelos pais sobre a pesquisa que Clóvis empreendeu sobre o tema. Não à toa, o médico foi quem acabou de formatar o livro do pai para publicação póstuma.


O psiquiatra relata que, certa vez, os pais estavam em uma livraria e livros sobre a vida de vários santos caíram sobre a cabeça de Clóvis. Estava ali mais uma “pista” para que Clóvis prosseguisse em sua pesquisa.

SEM MELINDRES

Sempre criterioso e cuidadoso, Clóvis seguia sua pesquisa, iniciada na década de 1950, para publicar o fruto de seu trabalho. A primeira edição só ocorreu em 1987, três anos após a morte de Clóvis, que por meio de uma psicografia de Chico Xavier, conta Flávio, autorizou a publicação.


O livro de Clóvis Tavares é sobre uma pesquisa que levou mais de 30 anos, resumida em 196 páginas, com um breve relato, com o título de conclusão, de autoria de Flávio, e um texto sucinto da esposa, Hilda Mussa Tavares, de 92, sobre a mediunidade pela santidade.


A obra explica os milagres dos santos por meio dos fenômenos da mediunidade – curas, mensagens, quer sejam por psicofonia ou psicografia, vidências, levitação, entre outros, relatados por santos nos livros pesquisados por Clóvis Tavares, que obtiveram a chancela da Igreja Católia para a edição.


A publicação ainda traz relatos da vida de sacrifícios, renúncia e doações dos santos em favor do próximo.

 

Fenômenos com explicação lógica

 

Para os espíritas, explicar fenômenos mediúnicos como milagres é como admitir a revogação da lei de Deus, que acreditam ser imutável.


Isso significa dizer que, para o espírita, todo fenômeno tem explicação lógica. Mistério e coincidências, além de milagres, por exemplo, estão nessa lista de termos que não levam em conta o porquê dos fenômenos.


“Tudo o que ignoramos nos parece sempre inverossímil”, destaca Clóvis Tavares no livro “Mediunidade dos santos”, citando Charles Richet, no livro “Tratado sobre metafísica”.

SANTIDADE

Flávio Tavares explica que a mediunidade – fenômeno descrito em incontáveis livros, incluindo a “Bíblia”, nunca foi uma invenção do espiritismo. “O Evangelho é um livro de mediunidade por excelência. Desde o princípio, o cristianismo é uma religião de visões e revelações”, destaca o livro “Mediunidade dos santos”, a corroborar com os argumentos de Flávio sobre o assunto. 


Questionado por essas afirmações feitas no livro, Flávio começa a explicação pelo entendimento do sexto sentido, como uma disposição orgânica, com uma gama de graduações e diversidades. Essas graduações vão desde um sentido para funcionar como uma prova e expiação, servindo de auxílio para o autoconhecimento e aprimoramento evolutivo do médium por meio da ajuda amorosa ao próximo como tarefa única, sem interesses ou cobranças de qualquer ordem (moral, de retorno ou de ressarcimento monetário) até a purificação espiritual ao longo de inúmeras encarnações – que, em última instância, resulta na autoiluminação, outra nomenclatura para santos.

 

Chico Xavier e Clóvis Tavares

Chico Xavier e Clóvis Tavares

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SÍLVIO SANTOS


Em 1968, Chico Xavier foi entrevistado no “Programa Sílvio Santos” , o que reanimou Clóvis Tavares a retomar a pesquisa sobre a mediunidade dos santos.


“A importante obra de Johannes Jorgensen (autor chancelado pela Igreja Católica)  sobre Santa Brígida de Vadstena é um acervo admirável de fatos mediúnicos ligados à grande mística sueca do século 14. Quem conhece o autor por meio de suas magníficas biografias de São Francisco de Assis e Santa Catarina de Siena não pode duvidar de sua íntegra honestidade, tanto na pesquisa histórica quanto na hagiografia (biografia dos santos)”, assinala Clóvis em sua obra.

 


Clóvis também relata na publicação que “a mediunidade é inerente a todo ser humano”, procurando desmistificar o assombro, deslumbramento e, às vezes, o uso indevido dessa disposição orgânica, que alguns humanos, santos ou não, têm nela uma apresentação ostensiva. Exemplos análogos, para efeito de compreensão, são a acuidade ou deficiência dos cinco sentidos que cada um traz consigo ao nascer, podendo desenvolver ou perder essas disposições orgânicas ao longo da vida.

“Não é justo que se deixe de usar o termo próprio (mediunidade) por preconceituosa aversão”, pontua Clóvis em outro trecho do livro.

 

 Clóvis e Hilda

Clóvis e Hilda, com Carlos Vitor no colo (primogênito)

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COMPANHEIRA IDEAL

Dona Hilda, como é comumente chamada, prefere ceder o lugar da entrevista ao filho Flávio Tavares. Casada com Clóvis por 30 anos, ela ficou viúva aos 52 e prosseguiu com as atividades iniciadas pelo marido na Escola Jesus Cristo, em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro.

Dona Hilda permanece fazendo pa- lestras sobre o estudo do Evangelho à luz do espiritismo. Em tempos de pandemia, esses encontros passaram a ser on-line. Ela organiza os estudos e fala com vivacidade sobre o que aprendeu e ainda aprende lendo livros os mais diversos sobre o assunto.

 


De temperamento afável, ela aparece pontualmente às terças-feiras, às 18h, ajudada pelo neto Pedro e pela filha Margarida, diante de uma estante de porte considerável e abarrotada de livros.


No trecho final do livro de Clóvis Tavares, vale ressaltar por meio de uma frase o que parece ser o propósito da publicação - “O grande amor e profundo respeito que tinha (Clóvis Tavares) a essas ‘almas de escol’ (termo geralmente empregado pelos espíritas para definir espíritos de categoria muito elevada pelo amor, desprendimento e moral)”, escreveu dona Hilda, para em seguida recordar: “Mais que saber sobre a vida dos santos, cabe-nos imitá-los”, repetia Clóvis Tavares.