Como anda sua caixa de e-mail? Ou mesmo a fila de mensagens no whastapp? Demandas além da conta e o outro ávido por respostas rápidas e imediatas? Esse é o lado perverso da tecnologia que, não só ajuda, também é culpada por vários danos à saúde, tanto física quanto mental. No estudo “Killing Us Softly” (na tradução “Matando-nos suavemente”), pesquisadores da Virginia Tech University, Lehigh University e Colorado State University, instituições dos Estados Unidos, entrevistaram mais de 400 funcionários, de diferentes setores, e pessoas próximas a eles e concluíram que o monitoramento excessivo de e-mails durante o horário de folga é prejudicial ao bem-estar e aos relacionamentos.
E tal patrulha deu origem a um comportamento da atual sociedade que, popularmente, ganhou o nome de “e-ansiedade”, termo que se refere a um tipo de sobrecarga e comprometimento da saúde mental de funcionários devido à urgência em responder e-mails e mensagens durante o horário de folga. “Não há uma definição científica para o termo "e-ansiedade". Ele é utilizado no senso comum como uma forma de ilustrar a ansiedade desencadeada por demandas do mundo virtual. Nesse sentido, o termo “e-ansiedade” serve mais para especificar o gatilho da ansiedade (no caso, a internet) para representar uma categoria à parte da ansiedade típica”, explica o psicólogo e coordenador do curso de psicologia da Estácio BH, Thales Vianna Coutinho.
Conforme Thales Vianna Coutinho, sendo a “e-ansiedade” nada mais que uma ansiedade devido às demandas da internet, as mesmas recomendações que se aplicam aos casos de ansiedade típica se aplicam a ela. Lembrando que não é possível se “blindar”. “Blindagem pressupõe um isolamento ou uma proteção quase que absoluta. A ansiedade é parte da vida, tanto fora quanto dentro do mundo virtual. Nesse sentido, mais vale contar com uma regulação da ansiedade do que com uma tentativa vã de se blindar contra ela. Por exemplo, o reconhecimento dos próprios limites humanos e a aceitação de que não é possível se desdobrar em dois para exercer alguma tarefa, pode minimizá-la. O policiamento para evitar a tendência de catastrofizar, que seria o exagero da antecipação de algum evento futuro negativo, decorrente do não cumprimento de demandas on-line, também pode ajudar a controlá-la."
Os gatilhos e o peso do imediatismo
O psicólogo destaca que há gatilhos que podem desencadear a “e-ansiedade”. “Sim. A “e-ansiedade” incorpora no termo o próprio gatilho dela: as pressões da internet. Como, por exemplo, quem se sente pressionado para produzir no home office”. E as consequências? “A e-ansiedade é uma preocupação em relação às possíveis consequências catastróficas que nos esperam no futuro e, como tal, acionam um modo de funcionamento da mente humana que visa o imediatismo. Afinal, quando nos sentimos ameaçados, a tendência natural é focar em soluções imediatas. O problema é que ao fazer isso, perdemos a capacidade de nos organizar para demandas de médio e longo prazo que, muitas vezes, são fundamentais para a solução do que estamos enfrentando”.
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Para Thales Vianna Coutinho, quando as pessoas agem sob efeito da ansiedade comprometemos as chances de resolver, de fato, os problemas do cotidiano. “Logo, antes de prosseguir na execução de uma tarefa virtual sob efeito da ansiedade, é importante um esforço mental na regulação emocional para que o trabalho fique melhor e mais leve. "
Livre da culpa
Thales Vianna Coutinho destaca que ainda faltam estudos mais aprofundados e uma literatura especializada diante do que vem sendo chamado de “e-ansiedade”. “É um termo do senso comum que se refere à ansiedade desencadeada por pressões virtuais e, nesse sentido, os estudos sobre ansiedade em geral se aplicam a ela”.
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Como não há saída, é preciso se cercar de alguns cuidados, barreiras e, sim, colocar limites. “A tendência a querer ignorar o problema ou se entorpecer de alguma forma são estratégias intuitivas que muitos utilizam para lidar com a ansiedade, mas sem sucesso. Por isso, em casos de ansiedade patológica, a psicoterapia é necessária. Afinal, a psicoterapia trabalha justamente para ajudar o paciente a remar contra os vieses intuitivos ineficazes. Portanto, acreditar que o problema não existe, não vai resolvê-lo. É necessário reconhecer a existência da ansiedade, os limites da sua capacidade produtiva, os direitos trabalhistas e, levando tudo isso em conjunto, tomar decisões sobre os episódios específicos de forma clara, consistente e livre da culpa."