SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os resultados finais de uma pesquisa global de eficácia do nirsevimabe para a prevenção de infecção e hospitalização por vírus sincicial respiratório (VSR) indicam proteção de até 80% em bebês de até dois anos de idade.
Para a prevenção contra hospitalização, o resultado do estudo indicou uma proteção de 76%, 14 pontos percentuais a mais em relação aos dados preliminares apresentados em março de 2022, de 62,1%.
A avaliação incluiu bebês de até 2 anos de idade prematuros saudáveis, com idade gestacional ao nascer de 35 semanas ou mais, em sua primeira temporada de contato com o VSR.
O VSR é o principal agente causador de bronquiolite em bebês, uma doença respiratória comum e altamente contagiosa cujos sintomas principais são tosse e falta de ar. Em geral, os casos da doença são leves, mas podem resultar a internações hospitalares.
O nirsevimabe obteve em setembro do último ano um parecer favorável do Comitê de Medicamentos para Uso Humano (CHMP) da Agência Europeia de Medicamentos. O nirsevimabe é um anticorpo monoclonal que impede a penetração do vírus nas células. A droga foi desenvolvida em parceria pelas farmacêuticas AstraZeneca e Sanofi.
Até o momento, o único remédio disponível contra o vírus era o palivizumabe, produzido pela farmacêutica AstraZeneca, indicado somente para quadros graves de infecções respiratórias, com alto risco de hospitalização.
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A pesquisa inicialmente tinha o objetivo de avaliar 3.000 bebês com idade gestacional de 35 semanas ou mais, mas foi interrompido devido às medidas de restrição impostas pela pandemia da Covid. Àquela altura, cerca de 1.490 bebês já tinham sido incluídos no estudo, mas a análise de objetivo secundário, isto é, a capacidade protetora de contra hospitalização, foi menor do que o esperado, de 62,1%.
"Depois que as restrições da COVID foram flexibilizadas, retomamos o estudo, inscrevendo mais 1.522 bebês, o que levou aos resultados apresentados de eficácia de 76,4%, contra infecção respiratória, e 76,8% para hospitalização", disse o diretor global de inovação da Sanofi, Jon Heinrichs.
Segundo ele, o maior tamanho da amostra permitiu analisar com melhor precisão a eficácia da droga. "O nirsevimabe é projeto para ser administrado para todos os bebês e, conforme nossos estudos indicam, reduz as infecções respiratórias com necessidade de atendimento médico tanto em pacientes internados como em casos ambulatoriais", afirmou. A droga é promissora pois pode representar uma boa opção de proteção em bebês saudáveis, sem risco aparente de hospitalização.
No estudo de fase 3, batizado de Melody, a droga teve eficácia de quase 80% para o risco de necessitar atendimento médico por infecção respiratória. Especialistas afirmam que, após a COVID, as estações dos vírus respiratórios comuns na infância mudaram, o que têm provocado surtos fora de época de VSR e outros agentes etiológicos, como rinovírus e influenza.
Em janeiro deste ano, hospitais em São Paulo, minas Gerais e Paraná apresentaram um aumento dos casos de internação por VSR, incomum para a época do ano. Nas últimas semanas, o Sabará Hospital Infantil viu um aumento da procura e dos resultados positivos para o chamado painel respiratório em crianças atendidas na unidade.
Até o último dia 18 de fevereiro, foram realizados 57 exames dos quais 49 tiveram resultado positivo para algum vírus (uma positividade de 86%). Já na semana que se encerrou no último dia 25 houve uma pequena queda nos resultados positivos, de 41 em 48 exames realizados (85%). Destes, sete ou 13% eram positivos para VSR.
De acordo com médicos pediatras, a falta de contato nos primeiros anos da pandemia com outras crianças pode ter provocado um atraso na construção da imunidade dos pequenos, o que fez com que novos surtos aparecessem quando as medidas de restrição da pandemia foram levantadas.
Apesar de a maioria dos casos de bronquiolite passarem com alguns dias, em bebês prematuros ou com condições prévias de saúde a infecção pode levar a complicações. Globalmente, em 2019, cerca de 33 milhões de casos de infecção respiratória por VSR com mais de 3 milhões de internações foram registrados, levando a mais de 26 mil óbitos hospitalares em crianças com menos de cinco anos.
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