Anualmente, cerca de 30 mil brasileiros são diagnosticados com algum tipo de tumor que afeta o sistema reprodutor, como o câncer de colo de útero, vulva, vagina, canal anal, pênis, além de boca e garganta. A vacinação contra o HPV (Papilomavírus Humano) é considerada uma estratégia extremamente eficaz no combate de alguns desses tumores tanto em homens quanto em mulheres. A partir deste mês de março, está disponível no mercado brasileiro a Gardasil 9, a vacina nonavalente para aqueles que desejam de imunizar contra o HPV.
Indicada para meninos e meninas, homens e mulheres de 9 a 45 anos, a vacina protege contra os quatro genótipos já contidos em Gardasil (6, 11, 16 e 18) e contra cinco adicionais (31, 33, 45, 52, 58). Estudos indicam que esses cinco novos subtipos são responsáveis por um acréscimo de 20% dos casos de câncer de colo de útero (além dos 70% causados pelos 4 subtipos contidos na vacina quadrivalente), sendo os nove subtipos da vacina responsáveis por 85% dos casos de câncer vaginal.
O câncer de colo de útero, excluídos os casos de câncer de pele não melanoma, é o terceiro tipo mais incidente. Em 2023, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima 17 mil novos casos, o que representa um risco de 13 casos a cada 100 mil mulheres.
Os dados são ainda mais alarmantes por esse se tratar de um tumor altamente evitável, visto que o câncer do colo do útero está diretamente relacionado à infecção persistente por alguns subtipos do vírus HPV (Papilomavírus Humano).
Os dados são ainda mais alarmantes por esse se tratar de um tumor altamente evitável, visto que o câncer do colo do útero está diretamente relacionado à infecção persistente por alguns subtipos do vírus HPV (Papilomavírus Humano).
Mulher negra tem mais chance de morrer
Além disso, recentemente foi publicado um dado assustador: no Brasil, a chance de uma mulher negra morrer de câncer de colo de útero é quase 30% maior do que a de uma branca, e quando olhamos para a população indígena, essa chance de morte fica 82% maior em comparação às brancas.
De acordo com Márcia Datz Abadi, diretora médica da MSD Brasil, a vacinação contra o HPV é mais efetiva quando ocorre na infância, por induzir a produção de mais anticorpos e garantir a proteção contra o vírus antes do contato com o mesmo, reduzindo, também, a transmissão do vírus. “A vacinação de meninas e meninos contra o HPV é um avanço significativo no caminho para a erradicação do câncer de colo de útero, mas ainda é recente. Há uma geração inteira de mulheres, hoje em idade adulta, que não tiveram acesso à vacina quando adolescentes”, afirma.
Esse alerta está alinhado ao posicionamento da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) que, em 2022, recomendou aos ginecologistas a indicação da vacina contra o HPV para todas as mulheres adultas, como forma de contribuir com a meta de erradicação do câncer de colo de útero.
“Em mulheres até 30 anos, mesmo aquelas que já trataram lesões causadas pelo HPV, estudos clínicos mostraram redução de até 80% no risco de novas lesões ou reinfecções após a vacinação. Em mulheres até 45 anos, também observamos benefícios. Sem a cobertura vacinal, essas mulheres seguem expostas ao risco de novas infecções e do desenvolvimento de lesões cancerígenas”, completa a médica.
“Em mulheres até 30 anos, mesmo aquelas que já trataram lesões causadas pelo HPV, estudos clínicos mostraram redução de até 80% no risco de novas lesões ou reinfecções após a vacinação. Em mulheres até 45 anos, também observamos benefícios. Sem a cobertura vacinal, essas mulheres seguem expostas ao risco de novas infecções e do desenvolvimento de lesões cancerígenas”, completa a médica.
Os tabus em torno do HPV
Os tabus em torno do HPV, que se trata de uma infecção sexualmente transmissível (IST), e a falta de informação sobre sua relação com o desenvolvimento de diversos tumores faz com que muitas mulheres cheguem ao consultório com lesões em estágio avançado.
“Na maioria dos casos, essas lesões são causadas por infecções persistentes, que não foram diagnosticadas ou tratadas adequadamente, e acabaram evoluindo. Como na maioria das vezes esse tipo de tumor não apresenta sintomas nos estágios iniciais, muitas mulheres recebem o diagnóstico quando o câncer já está avançado”, afirma Márcia Datz Abadi.
A médica destaca que a vacinação contra o HPV, associada ao rastreamento de lesões pré-cancerosas em mulheres, por meio do exame Papanicolau, pode reduzir significativamente a incidência do câncer cervical invasivo. “Em um país de dimensões continentais como o Brasil, onde o acesso a exames preventivos ainda é difícil fora dos grandes centros, incentivar a vacinação de meninos e meninas é nossa melhor estratégia para, no médio-longo prazo, reduzir os casos e óbitos relacionados ao câncer de colo de útero”, reforça.
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o câncer do colo do útero é a principal causa de morte entre mulheres na América Latina e no Caribe, sendo responsável por aproximadamente 28 mil óbitos anuais altamente evitáveis na região. No entanto, apesar de essa neoplasia ser a mais comumente relacionada ao HPV, a infecção pelo papilomavírus humano é fator de risco para outros tumores, inclusive em homens, como o câncer anal.
A vacina nonavalente já está disponível em clínicas e consultórios particulares de todo o país.
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