Determinar o tipo de dieta ou planejamento alimentar conforme conceitos rígidos pode não ser uma boa ideia. Enfim, rótulos são perigosos, e não contemplam particularidades. Para a nutricionista Patrícia Alves Soares Lara, especialista em oxidologia e bioquímica celular, sócia-fundadora da Clínica Soloh de Nutrição, colocar as pessoas em "caixas" pré-estabelecidas como "low carb" ou "cetose", por exemplo, muitas vezes, quando não se encaixam perfeitamente nelas, pode ser um caminho livre para a frustração. "Atualmente, o que se tornou mais procurado é a individualização da análise do organismo para a construção do plano alimentar adequado para aquele indivíduo específico", destaca.




 
A especialista lembra que os nutrientes são as peças químicas encontradas na natureza para modular o funcionamento da máquina orgânica que é o corpo e, sem essas peças, a manutenção da máquina fica prejudicada. Todas as substâncias produzidas pelo organismo, explica Patrícia, precisam de vitaminas, minerais e fitonutrientes para cumprir sua função corretamente. "Quando comemos elementos químicos de baixa qualidade, o organismo acaba desviando sua função de manutenção regenerativa para agir de forma reparativa. Por exemplo, ao consumir um alimento industrializado, como bolachas recheadas, a dose de gordura vegetal hidrogenada, sódio e açúcar encontrada nesse tipo de alimento dispara no intestino, no fígado e no pâncreas, com respostas inflamatórias imediatas", cita.
 

Patrícia Alves Soares Lara, nutricionista

(foto: Arquivo pessoal)
 
 
 
 
Seriam como sirenes de alerta para incêndio, disparadas em uma cidade em pontos diferentes, causando problemas no tráfego para a passagem dos caminhões de bombeiros, compara a nutricionista. "Esse padrão de alimento já é amplamente reconhecido por causar grandes problemas ao sistema vascular. Criar um plano de vida em que, na maioria das refeições, as escolhas alimentares são benéficas ou pelo menos inócuas ao organismo, já contribui muito com a diminuição do desgaste das células ou, fazendo uma analogia, da máquina", aponta. 
 
ADITIVOS Ter uma boa alimentação, segundo Patrícia, muitas vezes esbarra na ampla e sedutora oferta de alimentos ricos em aditivos químicos, sal, gorduras e açúcares simples,  mas, quando se pensa em criar bons hábitos, há que se ter persistência e disciplina.  "A frase: ‘Nem todos que tentam conseguem, mas todos que conseguiram tentaram’, diz muito sobre o espírito necessário para mudar o padrão de saúde e bem-estar que precisamos alcançar para o futuro", reforça.




 
 
 
Considerando o organismo humano como uma máquina integrada, a importância do cérebro, ou computador central, para a organização dos demais sistemas, é fundamental, acrescenta. "O cérebro bem nutrido produz comandos que nos afastam dos erros metabólicos, que são responsáveis pelas doenças mais presentes na modernidade, como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. Já falhas no sistema por intoxicações podem causar a determinação de comandos prejudiciais. Podemos interpretar como permissão para geração de doenças autoimunes ou tumores.  Portanto, um cérebro bem nutrido é tão importante (ou mais) quanto evitar consumir sal para não ter hipertensão", ensina.
 
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DIVERSIFICAÇÃO Do ponto de vista social, a profissional acrescenta que alimentar-se diz respeito à história de acesso ao alimento, ao perfil regional, e à própria cultura. Mesmo com um país tão complexo como o Brasil, diz Patrícia, é possível diversificar as formas de comer até atingir um padrão adequado que atenda ao necessário para manter o organismo saudável. "Nesse pensamento, coloco o que aprendemos com os anos na ciência da nutrição: plantas chamadas PANC, hortaliças não convencionais, uso de ervas e raízes, e de diferentes tipos de proteínas vegetais para suprir a necessidade de proteínas, como, por exemplo, o sorgo, a spirulina e o fenogrego, entre outros, são elementos importantes de se ter à mesa. E o Brasil é o país com maior diversidade de plantas no planeta", pontua.
 
No início dos anos 2000, uma nova ciência se estabeleceu, cita Patrícia. A chamada nutrigenômica deixa claro o papel dos nutrientes como moduladores dos genes, e isso pauta o que se pensa hoje em relação ao comer. "O que você come agora define não só o seu padrão de saúde, mas também o dos seus  descendentes próximos. Uma mulher que deseja engravidar algum dia deve começar a se preocupar com sua saúde nutricional anos antes de iniciar a gestação, para evitar distúrbios metabólicos nos filhos. O jovem adulto de hoje deve pensar com atenção sobre a saúde cerebral para evitar as doenças de declínio cognitivo no envelhecimento. O que se come no presente é de fato muito importante para o amanhã", recomenda.




 
A empreendedora  em reeducação sexual e diálogos saudáveis Dayanne Andrade, de 34 anos, está grávida e espera Akin chegar. Tem diabetes tipo 2 desde os 25 anos e mudou a alimentação para controlar a doença, pensando na saúde como um todo, e no cuidado com a gestação. A relação com a comida mudou, ela conta. "Desde sempre era uma relação emocional. Quando estava triste ou feliz, pensava em comer. Quando estava comendo, conseguia refletir melhor para resolver problemas. Comia para pensar e para comemorar", relata.
 
A busca por nutricionistas é uma constante na vida de Dayanne. Primeiro, a questão da perda de peso, o aspecto físico e para manter a forma mesmo. Com o passar do tempo, conta que aceitou seu corpo, os contornos de uma mulher grande e gorda, em suas palavras. "Então a busca pela nutricionista mudou, e se voltou totalmente para a saúde", diz. Há dois anos, ela e o marido, André, procuraram um profissional da nutrição para elaborar um planejamento alimentar e ficar com os exames em dia. "Nós buscamos alguém que pudesse fazer esse acompanhamento e, agora, com a gestação, para cuidar de mim, da minha diabetes e também não deixar faltar nada pro neném."  
Dayanne lembra que, quando ainda não seguia esse plano alimentar, e não mantinha uma boa alimentação, experimentava picos de cansaço, com alterações no sono - era comum acordar cansada. "Tinha crises emocionais e de ansiedade. Com a alimentação saudável, percebi que algumas coisas mudaram. O cansaço mudou,  a questão emocional também. Minha disposição para os afazeres diários ficou muito diferente."
 
PLANEJAMENTO Ela conta que a individualização no planejamento de sua dieta foi tão adequado e positivo que a obstetra que a auxilia na gravidez disse que tudo o que está tomando hoje, em específico os polivitamínicos, são para o bebê, porque, para ela, já não falta mais nada.  "Normalmente as mães, durante a gestação, tomam  ferro e outras vitaminas. Eu realmente não precisei, por causa do plano alimentar", aponta. Para ela, a diabetes foi a gota d'água para começar a virada de chave.




 
A empreendedora acrescenta que a convivência com familiares diabéticos a influenciou para entender que uma alimentação saudável, diferentemente de uma alimentação com privações, ajuda nesse processo. "Agora percebo que essa alimentação equilibrada e balanceada me leva a uma vida mais ativa e saudável. E não preciso me privar das coisas. Consigo viver uma vida mais próxima do normal, mas não posso dizer que é totalmente normal", pondera ela, que utiliza insulina para controlar a glicose e faz contagem de carboidratos enquanto espera o filho nascer.

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