A pele é o maior órgão do corpo humano, é o primeiro escudo visível que temos e, quando aparece algo diferente, a tendência é de percebermos com muita rapidez. As sardas e as manchas, em sua maioria, não causam problemas dermatológicos mais severos, mas, esteticamente falando, podem incomodar muitas pessoas. Existem algumas diferenças importantes na hora de serem identificadas.
O dermatologista Fabrício Theodoro, do Hospital Santa Lucia, diz que as sardas, geralmente, começam a aparecer por volta dos 3 anos de vida e são um tipo especial de manchas, podendo ter tons claros ou escuros de marrom, devido ao excesso de melanina na pele. “O melanócito é uma célula especial que fica na camada superficial da pele (epiderme) e é responsável pela produção da cor na forma de melanina,” explica o dermatologista.
O aumento dessa pigmentação tem uma característica genética e são comumente mais encontradas em pessoas brancas e ruivas. “Mas o aparecimento desse tipo de mancha também é dependente da exposição intensa e sem proteção adequada à radiação solar,” aponta Fabrício.
Fique atento!
O que diferencia as sardas de outros tipos de manchas é o tamanho. Elas são menores e mais escuras e podem dar a sensação de serem mais agrupadas — outras doenças de pele dificilmente vão apresentar esse tipo de característica. O melasma, por exemplo, apresenta sinais e manchas maiores e mais claras. O especialista traz atenção para mudanças abruptas da cor e o crescimento dessas manchas. "Sempre consulte um médico dermatologista para a diferenciação,” aconselha Fabrício.
O médico também afirma que pessoas com sardas ou manchas não têm tendência a possuir problemas de pele, mas são mais sensíveis, e a exposição intensa ao sol podem prejudicar mais do que o normal. “As sardas, geralmente, não evoluem para malignidades, mas são um sinal de que aquela pele sofreu um dano acumulado por radiação ultravioleta e este é um comportamento de risco para câncer de pele.”
Sardas brancas por envelhecimento
Conhecidas pela área médica como leucodermias gutatas, as sardas brancas aparecem pelo acúmulo de dano causado pela exposição solar ou do próprio envelhecimento da pele. Elas são muito similares às sardas comuns e podem ser facilmente confundidas com vitiligo. Mas são inofensivas.
A dermatologista Lilian Odo explica que estas podem tirar a uniformidade da pele e dar um aspecto de envelhecimento. Caso haja interesse, Lilian recomenda retirá-las em procedimentos com laser ablativo, crioterapia, dermabrasão e MMP (microinfusão e medicamento na pele). Esses métodos retiram a camada mais superficial da pele prejudicada e estimulam o processo de cicatrização.
Lilian reforça que os tratamentos são para todos os tipos de pele, desde que não apresente problemas de uma boa cicatrização. Também é pontuado que esses procedimentos sejam feitos no inverno, porque evitam o contato com o sol, e as roupas longas ajudam a proteger a pele. Para iniciar o tratamento, a pele deve estar higienizada e livre de machucados, infecções e alergias.
Após o tratamento, as áreas devem ser vistas como pequenos machucados, priorizando uma boa higienização, bons curativos, medicação correta e evitar lugares como piscinas e praias. Mas, ainda sim, não há um método eficaz para a remoção completa, como diz o dermatologista Fabrício Theodoro.
Caso haja o aparecimento desses sinais, os dois dermatologistas ressaltam a importância de investigar outros problemas de pele e procurar periodicamente um especialista, a fim de evitar alguma outra lesão nociva.
Faz parte de você!
Em vários momentos foram mencionados o incômodo estético das pessoas com relação às sardas, que, muita vezes, são heranças de família. Padrões de beleza vêm e vão, se mudarmos todas as vezes que algo não está de acordo com o esperado, acaba-se perdendo a essência das coisas que nos tornam únicos.
Neery Tharika, 29 anos, conta que não sabe exatamente quando as suas sardas aparecem, mas depois de se mudar para Curitiba, no Paraná, e amar o sol, elas começaram a surgir mais e mais. Por muito tempo, a modelo teve extrema dificuldade em aceitar essa característica, por sofrer muito bullying na infância. Acabou criando desconforto e chateação na época da escola. “As pessoas olhavam para mim e me chamavam de pimentinha, sardenta, entre outros apelidos. Até hoje, não faz sentido algum para mim, mas sempre se referiam a mim como atentada por ter as sardas. Alguns diziam que era fofo, outros tiravam sarro, porém sempre passou perceptível aos olhos das pessoas,” desabafa.
Até produtos para tirar as sardas foram apresentados a ela, mas não funcionavam. Por muito tempo, Neery usava uma quantidade excessiva de maquiagem para escondê-las. “Uma vez, vi uma blogueira na internet e ela conseguia esconder as sardas, mas eu não consegui. Então, pedi ajuda a uma amiga maquiadora para me ensinar. Ela disse que minhas sardas eram meu charme especial e, nesse momento, consegui me aceitar de verdade”, conta.
Com isso, Neery virou modelo e passou a se recusar a ser maquiada, para que as sardas pudessem ser fotografadas. "O amor-próprio liberta, e se aceitar é a chave para qualquer outra relação das nossas vidas. Hoje, aos 29 anos, não me vejo sem as minhas obras de arte, as vejo como estrelas no céu, grãos de areia da praia, só que em meu rostinho.”
O que são as sardas?
Elas ocorrem pelo aumento ou pela diminuição da pigmentação (cor) da pele, e podem acontecer por vários motivos:
- Alterações hormonais, como a gravidez.
- Exposição prolongada ao sol, mais frequentes em áreas como rosto, braços, ombros e colo.
- Alergias na pele advindas de alimentos, cosméticos ou algum tipo de metal.
- Pitiríase versicolor causada pelo fungo Malassezia furfur, mais conhecida como micose de praia.
- Fitofotodermatoses, manchas que podem ser causadas por alguma fruta muito cítrica, como o limão.
- Diabetes que causam o escurecimento das regiões de dobras, como pescoço e axilas.
- Vitiligo ou acne.
- COVID-19 podem causar manchas roxas ou vermelhas por inflamação da pele.
Fonte: Fabrício Theodoro, médico dermatologista do Hospital Santa Lúcia.
Como evitar
- Usar constantemente o protetor solar indicado para a sua pele e reaplicá-lo quando necessário. Caso esteja em um lugar com água, reaplique a cada duas horas.
- Evitar o sol das 10h às 16h.
- Usar roupas e acessórios que protejam, como bonés e óculos de sol.
- Evitar o uso de autobronzeadores.
- Protetores solar com cor ajudam a uniformizar a pele.
- Os mesmos procedimentos utilizados para retirar sardas brancas são utilizados para outros tipos de manchas, cada médico vai decidir o que acredita ser mais adequado.
Fonte: Fabrício Theodoro, médico dermatologista do Hospital Santa Lúcia, e Lilian Odo, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
* Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte