Como explicar que o sentimento de ser a pessoa mais poderosa do planeta e a sensação de vazio que poderia te deixar por dias no quarto são duas faces do mesmo problema? A vida de pacientes com transtorno bipolar - sobretudo antes do diagnóstico - é marcada por oscilações de humor extremas que, muitas vezes, colocam em risco a própria vida. Os psicólogos André Dória e Josefa Ferreira, especialistas do Programa de Tratamento do Transtorno Bipolar da Holiste Psiquiatria, alertam para os sintomas e tratamentos.
Muitas pessoas podem até dizer, inadvertidamente, que são "bipolares" por mudarem de opinião constantemente. No entanto, o transtorno que afeta cerca de 140 milhões de pessoas no mundo inteiro, segundo a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), é marcado por mudanças de humor muito mais graves, duradouras e nocivas, como explica o coordenador do Programa de Tratamento do Transtorno Bipolar da Holiste, de um lado a depressão bipolar e do outro a mania.
"A depressão bipolar é um dos mais desafiadores quadros da psicopatologia, devido à intensidade e duração dos sintomas, sobretudo quando ocorre após um episódio de mania. Se na mania a pessoa é tomada por sentimentos de grandeza e poder, quando estes se desfazem é comum o surgimento de uma fase de esvaziamento e ruína, que costuma não responder facilmente ao tratamento", detalha Dória.
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Já nos episódios de euforia, Josefa Ferreira aponta que a apatia é substituída por uma elevação no humor que, apesar do que possa parecer para quem não conhece os sintomas da bipolaridade, é igualmente perigosa e gera muito sofrimento para o paciente. Nessas situações, a pessoa pode apresentar sentimentos de grandeza, comportamento sexual de risco, abuso de substâncias químicas, gastos compulsivos, entre outras atitudes semelhantes.
"Em um momento de crise maníaca, o comportamento extravagante do paciente torna o diagnóstico mais fácil, o que não diminui a gravidade do quadro. É necessária a intervenção de uma equipe especializada, com o intuito de preservar a vida do paciente e de terceiros, bem como prejuízos ao patrimônio familiar e à imagem do paciente", complementa a psicóloga.
Março: mês de atenção ao transtorno bipolar
Em homenagem ao pintor Vincent Van Gogh - que possivelmente sofria do transtorno - março é reconhecido internacionalmente como o mês de atenção ao transtorno bipolar, sendo 30 de março o dia mundial. A data acende um alerta sobre a importância do tratamento para a qualidade de vida dos pacientes, que se beneficiam muito de uma estratégia que alia medicamentos e acompanhamento terapêutico, uma vez que cada paciente apresenta um processo de adoecimento singular, como explica o psicólogo.
"A ideação maníaca, muitas vezes, é a saída que a pessoa encontra para a resolução de seus conflitos internos. Diante da impossibilidade de resolvê-los, a saída subjetiva pode ser se transformar num super-homem ou super mulher. Quando essa solução fracassa, sobra um intenso sentimento de impotência. Por isso, a medicação ajuda a controlar os sintomas, ao mesmo tempo em que a escuta e a intervenção de uma equipe multidisciplinar trabalham o que a medicação não alcança: o que há de singular em cada caso", explica o especialista.