Dia Nacional: câncer colorretal está entre os três mais comuns no Brasil
Pesquisa do Instituto Nacional do Câncer revela que óbito prematuro por câncer de intestino, na faixa de 30 a 69 anos, pode ter um aumento de 10% até 2030
Estado de Minas27/03/2023 14:32
Os casos de cânceres colorretais estão entre os mais incidentes tanto nos homens quanto nas mulheres brasileiras, atrás apenas dos cânceres de pele não melanoma, do câncer de próstata nos homens e do câncer de mama nas mulheres, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA) que prevê cerca de 45 mil casos novos de câncer colorretal em 2023. "Diagnosticado nos estágios iniciais, o câncer tem boas possibilidades de cura", diz Clóvis Klock, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP).
Na maioria das vezes, o câncer do intestino se desenvolve a partir de pólipos, que são lesões benignas que crescem na parede do intestino. Significa dizer que com a retirada do pólipo, evita-se que se torne um câncer. O cuidado maior é quando são detectados pólipos adenomatosos (adenomas), pois estes podem se tornar um câncer.
Artigo publicado na revista científica Frontiers in Oncology em 10/01/2023, de autoria de pesquisadores do INCA mostra que a probabilidade de óbito prematuro por câncer de intestino na faixa etária de 30 a 69 anos pode ter um aumento de 10% até 2030. Na análise feita de vários tipos de tumores, o câncer colorretal foi o que apresentou o maior aumento projetado nas cinco regiões do Brasil. O estudo traz também uma projeção da mortalidade por câncer no Brasil para o quinquênio 2026-2030, na comparação com o período base de 2011 a 2015.
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O cenário atual é preocupante, pois 80% dos casos de câncer colorretal são diagnosticados em fase avançada, quando os tratamentos são mais invasivos. A Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) reportou uma queda de até 70% nos diagnósticos realizados em serviços de Patologia, durante a primeira onda da pandemia em 2020. Por isso, alguns casos de câncer estão sendo descobertos em estágios mais avançados.
A jornalista Cristiane Rhoden, de 43 anos, sabe o que isso significa. Em 2020, em plena pandemia, teve o diagnóstico de câncer colorretal em estágio 3, quando o tumor já se disseminou para os linfonodos. Após os exames de rastreamento, foi realizada a biópsia e o diagnóstico foi feito pelo médico patologista. Passou por cirurgia, quimioterapia (tratamento sistêmico) e durante nove meses permaneceu ostomizada, com bolsa de colostomia. Um período difícil que foi superado.
Hoje, Cristiane coordena a TV Câmera de Erechim (RS) e faz o acompanhamento regular junto ao seu médico. "O corpo dá sinais e a gente tem que ficar alerta", reforça a jornalista.
Neste Março Azul Marinho que busca a conscientização sobre o câncer colorretal, vamos ficar todos alertas. A doença atinge a todos, celebridades como Preta Gil, Simony, Pelé e Roberto Dinamite e pessoas comuns. Já o dia 27 de março é considerado o Dia Nacional do Câncer Colorretal.
"A indicação do rastreamento precoce, por meio da colonoscopia, exame de imagem, antes dos 50 anos, depende da história pregressa familiar, por isso é sempre bom conversar com o médico gastroenterologista que fará a melhor indicação", explica Klock.
Os exames de rastreamento, recomendados para todas as pessoas a partir de 50 anos, incluem o de sangue oculto nas fezes e, em caso positivo, a colonoscopia, que, caso mostre algo suspeito, permite aos médicos fazer biópsia já durante a sua realização. "Dependendo desses resultados, uma amostra é enviada para o médico patologista, que é quem faz a análise de biópsia e o diagnóstico - se é mesmo um câncer, de que tipo é o tumor. O diagnóstico é fundamental para a definição do tratamento", acrescenta Klock.
Vida mais saudável
Cerca de 30% de todos os cânceres de intestino (cânceres colorretais) são causados por fatores como o baixo consumo de fibras alimentares, sedentarismo, consumo de carne processada, de carne vermelha acima do recomendado (até 500 gramas por semana) e de bebidas alcoólicas, além do excesso de peso. Assim, boa alimentação, atividade física e evitar álcool ajudam a evitá-lo.
"A demora no diagnóstico correto permite que o câncer cresça, podendo comprimir e invadir outros órgãos sadios na região do corpo. Outro cenário é quando as células cancerosas se desprendem e se espalham no sangue e/ou vasos linfáticos e nesse caso o câncer migra para outros órgãos, como fígado, pulmão e ossos. Por isso, lembro da importância do acesso aos exames pela rede pública de saúde, alerta Klock.
Rastreio
As chances de cura são bem altas quando os tumores são descobertos em estágios iniciais. A prevenção está relacionada com a adoção de hábitos saudáveis e realização de exames de rastreio a partir dos 50 anos. No entanto, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), apenas 30% da população brasileira realiza exames de rastreio para o câncer de colorretal.
"Sem esses exames, não é possível identificar possíveis tumores e avaliar a extensão da doença. É recomendado que pessoas a partir de 50 anos realizem alguns desses exames. Ele pode ser feito uma vez por ano, como o teste de sangue oculto nas fezes. Mas é preciso confirmar com o médico e o laboratório se o exame é o FIT - teste imunológico que detecta a hemoglobina humana. Os testes de sangue oculto com tecnologia mais antiga têm um desempenho inferior", explica Annelise Wengerkievicz Lopes, patologista clínica e diretora da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML),
Outros exames que podem ser realizados por rastreio são a colonoscopia, a cada 10 anos, ou a retossigmoidoscopia, a cada cinco anos. Lembrando que essa estratégia se aplica à população geral. "Se o indivíduo tem histórico familiar de câncer de intestino ou de estômago, pode haver necessidade de realizar os exames mais precocemente, com mais periodicidade. Manter os exames em dia é a chave para combater essa doença. O diagnóstico precoce pode salvar vidas, uma vez que esse câncer costuma se desenvolver a partir de lesões precursoras e por isso pode ser descoberto logo no início", explica a médica.