Estudos evidenciam o aumento do uso de medicamentos conforme o avanço da idade, em especial, devido a doenças crônicas como o câncer, o diabetes e as doenças cardiovasculares, entre outras.
No Brasil, onde a população de 60 anos ou mais chega a mais de 30 milhões de indivíduos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que em torno de 80% dos idosos utilizem pelo menos um medicamento por dia e que cerca de um terço use cinco ou mais medicamentos simultaneamente. No entanto, profissionais de saúde - como médicos geriatras e farmacêuticos - têm incentivado a desprescrição sempre que possível.
Segundo o farmacêutico Márcio Galvão Oliveira, a desprescrição é uma prática antiga que consiste na retirada gradual ou na diminuição da dose de medicamentos que não apresentam benefícios ou têm grandes riscos para os pacientes, agora difundida com esse novo nome. “Ela vem se difundindo cada vez mais entre farmacêuticos e médicos geriatras e é preciso expandir essa prática para as demais especialidades médicas”, explica o professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Para a geriatra Ivete Berkenbrock, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), ampliar essa prática contra o uso indiscriminado é necessária. “A prescrição precisa ser sempre orientada pelo profissional de saúde e revista pelo mesmo ao longo do tratamento, sendo desprescrita quando possível. A automedicação também é um ponto de atenção. Para muitas pessoas, ainda é mais fácil ingerir um medicamento que buscar hábitos mais saudáveis”, complementa ela, que também é coordenadora do Programa de Saúde da Pessoa Idosa da Prefeitura de Curitiba (PR).
Até mesmo os profissionais de saúde ainda resistem em praticar a desprescrição. No entanto, de acordo com Márcio Oliveira, profissionais como os médicos geriatras, que são considerados os coordenadores do cuidado de pacientes idosos, têm manejado de forma mais contida determinados medicamentos. “Os farmacêuticos também têm mostrado excelente atuação. Agora, precisamos continuar avançando”, defende.
Não é para menos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que mais de 50% dos medicamentos para pacientes de diferentes idades são prescritos ou dispensados de forma inadequada e que 50% dos pacientes utilizam medicamentos de maneira incorreta, com o agravante entre pessoas que fazem uso de polifarmácia, isto é, que utilizam diversos medicamentos rotineiramente.
Para os próximos anos, a aposta de Oliveira é que a desprescrição se torne ainda mais popular entre profissionais de saúde no Brasil, em especial, os que cuidam da saúde da população idosa. “Apesar de ser um tema novo em nosso país, essa prática tem sido bastante difundida em outros países. Minha aposta é que as universidades e sociedades científicas tenham grande papel nisso. Nesse sentido, por que não inserir nas diretrizes clínicas as informações sobre a prescrição de medicamentos?”, questiona o professor da UFBA.
“A nós, enquanto sociedade científica, cabe pautar esse tema para discussão entre os profissionais que cuidam da saúde da população idosa. Dessa maneira, estamos preocupados não apenas com o cenário da Saúde atual, mas projetando o futuro que queremos”, conclui a presidente da SBGG. (Folhapress)